Boa parte da vizinhança da Rua São Pedro, no bairro Piratini, em Alvorada, nem dormiu na madrugada desta segunda (26). O dia amanheceu em luto depois de um ataque a tiros, na noite de domingo (25), no bar onde os integrantes do time de futebol amador local, o Atlético São Pedro, faziam uma confraternização. Três jovens foram assassinados e outras cinco pessoas ficaram feridas. Até o começo da tarde, três permaneciam hospitalizadas sem risco de morte. O motivo do crime ninguém sabe dizer ao certo. A única certeza que Cláudio Gomes, 39 anos, um dos idealizadores do time, tem é de que perdeu mais uma batalha para a violência de Alvorada.
— Faz nove anos que temos o time, e a nossa principal missão é justamente tirar a gurizada da linha de tiro. Temos muitos casos de guris que tiramos da rua, do tráfico, e hoje são pais de família. Mas essa é a realidade que vivemos na cidade. Não temos uma praça, um campo na vizinhança. O único lugar para os meninos festejarem um aniversário era aquele bar. Foi o lugar escolhido para atirarem dessa vez — lamenta Gomes.
O motivo da festa, depois da goleada por 6 a 1 em um amistoso do Atlético São Pedro, era o aniversário de 20 anos do meia, e mecânico durante a semana, Erick Machado da Silva, conhecido como Balaquinha entre os amigos. Foi um dos autores dos gols na tarde de domingo, e o seu amigo, Wellisson Ituquiere Lucena de Souza, também de 20 anos, atacante no futebol e metalúrgico no dia a dia, marcou outro. Os dois estão entre os mortos na chacina. Sandro Martins Guedes, o mais novo deles, de 18 anos, e que jogava como volante e também trabalhava como mecânico, foi a terceira vítima do ataque.
— Esses três meninos estavam conosco desde bem pequenos. Participaram de todas as categorias de base conosco. Os três eram trabalhadores, sem envolvimento com nada de errado — desabafa Cláudio Gomes.
O ataque
De acordo com testemunhas, pelo menos quatro homens — um deles usando uma máscara — teriam chegado ao bar em um carro não identificado. Armados com pistolas 9mm, dispararam diversas vezes na frente do bar onde, segundo a polícia, havia em torno de 20 pessoas por volta das 22h de domingo. Os amigos estavam na calçada, do lado de fora do estabelecimento, e não tiveram como escapar dos disparos, que deixaram marcas nas paredes do bar.
— Não foi possível precisar quantos tiros foram feitos, porque o local do crime foi desfeito antes da chegada da polícia. Ao que tudo indica, foi um ataque contra o local, não necessariamente contra as pessoas que estavam ali — aponta o delegado Edimar Machado de Souza.
Uma das linhas de investigação da polícia é de que traficantes frequentassem o bar onde acontecia o festejo. A suspeita é de que criminosos ligados a uma facção inimiga tenham feito o ataque.
Enquanto a polícia ainda procura respostas para a chacina, Cláudio Gomes pensa como juntará os cacos para manter o projeto.
— Não sei ainda como vamos fazer. Agora é hora de chorar pela perda dos guris — diz.
O time conta com pelo menos 50 meninos a partir da categoria Sub-15.