Prestes a completar um ano, o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes segue sem solução, mas a investigação obteve avanços nesta semana. Nesta terça-feira (12), uma ação da Polícia Civil e do Ministério Público (MP-RS) levou à prisão de suspeitos de participarem do crime. Um deles, Ronnie Lessa, é policial militar reformado. O outro, Élcio Queiroz, é ex-PM.
O crime
Marielle Franco, 38 anos, vereadora pelo PSOL no município do Rio de Janeiro, e Anderson Gomes, motorista dela, foram mortos a tiros na noite do dia 14 de março de 2018. Ela foi baleada dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no centro do Rio. Uma assessora da parlamentar sobreviveu ao ataque. Bandidos em um carro encostaram ao lado do veículo da vereadora e efetuaram os disparos, fugindo em seguida sem levar nada. A parlamentar tinha acabado de sair de um evento na Lapa.
Carro e arma usados no crime
Imagens de câmeras de monitoramento mostraram que um veículo Cobalt clonado com placa de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, já estava estacionado próximo ao local do evento onde estava Marielle.
O atirador disparou 13 vezes. Nove disparos acertam a lataria e quatro, o vidro. A vereadora foi atingida por quatro tiros na cabeça. Três tiros acertaram as costas do motorista. Perícia encontrou no local do crime estojos de munição calibre 9mm.
Inicialmente, os investigadores acreditavam que a munição usada no ataque era de uma pistola. No entanto, segundo reportagem do programa Domingo Espetacular, da Record, a Polícia Civil identificou que a arma utilizada no crime foi uma HK MP5, de fabricação alemã. Esse tipo de submetralhadora utiliza munições calibre 9mm.
A munição faz parte de carregamento adquirido pela PF de Brasília em 2006. O lote teria sido roubado.
Investigação
As investigações do caso estão a cargo da delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-RJ.
O governo federal sugeriu, durante o mandato de Michel Temer, que a Polícia Federal (PF) assumisse as investigações, o que acabou não ocorrendo.
Participação de milícias
Em abril, cerca de um mês depois do assassinato, o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que as investigações apontavam para envolvimento de milícias no crime.
Uma testemunha citou, no dia 8 de maio de 2018, o envolvimento do vereador Marcello Siciliano (PHS) e de Orlando Oliveira de Araújo – ex-PM preso acusado de chefiar uma milícia – no crime, segundo o jornal O Globo. O homem relatou que a execução foi planejada.
Em três depoimentos à Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil, ele deu informações sobre datas, horários e até locais de reuniões entre o vereador e o miliciano. O vereador disse que não conhece Orlando e que se trata de uma "notícia totalmente mentirosa".
Suspeitos presos em 12 de março de 2019
Segundo os investigadores, o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48 anos, um dos presos nesta terça-feira, é suspeito de efetuar os disparos que mataram a vereadora e seu motorista. O segundo suspeito preso foi o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 36 anos. Ele estaria dirigindo o carro quando os tiros foram disparados.
Mandante
Os investigadores ainda não esclareceram se o crime foi encomendado.
Obstrução investigada
A Polícia Federal abriu inquérito, em novembro de 2018, para apurar a conduta de possíveis suspeitos de atrapalhar a investigação do crime. A abertura do inquérito partiu de um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Na época, Jungmann disse que a organização criminosa que estaria obstruindo as investigações conta com a participação de "agentes públicos e milicianos".
Motivação
Em agosto de 2018, Jungmann afirmou que o crime pode ter sido motivado por disputas políticas e negociações para indicações a cargos públicos. Ele não citou nomes nem entrou em detalhes. No mesmo mês, o então diretor da Divisão de Homicídios, delegado Fábio Cardoso, reforçou a hipótese de a ação criminosa ter relação com a atuação política de Marielle.
Em dezembro de 2018, o general Richard Nunes, então secretário da Segurança Pública do Rio, disse que a vereadora foi morta porque milicianos acreditaram que ela poderia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro. O crime estaria sendo planejado desde 2017.
Em denúncia entregue à Justiça nesta terça-feira, 12 de março de 2019, o MP-RJ defende que o crime ocorreu em razão da "repulsa e reação à atuação política" de Marielle "na defesa de suas causas".
Prisões no início do ano
Em 24 janeiro de 2019, pelo menos cinco pessoas suspeitas de envolvimento nos assassinatos da vereadora foram presas. Entre os detidos estavam um major da Polícia Militar e dois ex-PMs, identificados como sendo o major Ronald Paulo Alves Pereira, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega e o subtenente reformado Maurício Silva da Costa. Os policiais seriam ligados a uma milícia em Rio das Pedras.