A Polícia Civil divulgou hoje os resultados da Operação Livro Caixa, que tem como alvo um grupo suspeito de articular um esquema de lavagem de dinheiro, que atuaria inclusive em serviço do tráfico de drogas. A ação começou na última sexta-feira (13) e se estendeu até a tarde de segunda-feira (16). Foram cumpridas mais de 30 ordens judiciais de busca e apreensão em 10 municípios gaúchos — oito deles na Região Metropolitana, incluindo a Capital.
Todos os locais que foram alvos de buscas estariam ligados a pessoas suspeitas de participarem de um mesmo grupo, que usaria empresas de fachada para lavar dinheiro. Dois dos principais investigados são um casal de Sapiranga, no Vale do Sinos. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.
Contabilidade do crime
De acordo com o delegado Guilherme Calderipe, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Viamão, o homem é dono de um grande escritório de contabilidade em Sapiranga. Em segundo plano, o contador estaria coordenando o esquema ilícito. A sede da empresa foi um dos locais onde a polícia fez buscas e segundo o delegado, foram encontrados documentos referentes a empresas fantasmas usadas no esquema.
Durante as buscas, os policiais apreenderam documentos, celulares e computadores relevantes para as investigações, além de três veículos de luxo, avaliados em quase R$ 1 milhão, e dinheiro de diferentes moedas em espécie — mais de R$ 41 mil, mais de US$ 11 mil e centenas de euros e yuan (moeda chinesa).
Outro imóvel que foi alvo de buscas da polícia foi um apartamento com porta blindada, que pertence ao casal e que fica na beira-mar, em Torres.
Como funcionava
Entre as outras pessoas investigadas estão as que o delegado chama de “testa de ferro" do casal:
— Eles pagavam pessoas simples, por vezes desempregadas, para abrirem empresas em seus nomes. Encontramos pessoas com pouca condição financeira que abriam oito empresas em uma semana — diz o delegado Guilherme Calderipe.
O delegado conta que o grupo não fazia parte do tráfico de drogas, mas que prestaria o serviço da lavagem de dinheiro para grupos do tráfico. Um dos investigados, que é de Porto Alegre, teria envolvimento direto com o tráfico. Ele seria um dos “clientes” do casal.
O delegado diz que o grupo lidava com altas quantias de dinheiro e inclusive trabalhava habitualmente com moedas estrangeiras como dólar e euro.
— A gente descobriu que o esquema é maior do que pensávamos. Não imaginávamos, no início, que fossemos descobrir tamanha proporção — afirma o delegado.
Investigação
Entre as 30 ordens judiciais que foram cumpridas na Operação Livro Caixa, não houve pedidos de prisões. O principal objetivo desta fase da investigação, segundo o delegado, foi o de coletar elementos para compreender com mais clareza como funcionava o esquema criminoso e identificar outros envolvidos.
A investigação que culminou nesta operação surgiu a partir do desdobramento de outra operação da Draco de Viamão, a Operação Repasse, deflagrada em 12 de março deste ano. Na ocasião, nove pessoas foram presas e 29 armas apreendidas. A ação mais recente não mira diretamente o tráfico de drogas, mas, segundo o delegado, também se mostra muito efetiva:
— Para nós o melhor meio de combater o crime organizado é o financeiro, pois recuperamos dinheiro, bens e futuramente fazemos o sequestro de imóveis. Esta é a forma mais eficaz de combater o avanço do crime organizado.
* Produção: Camila Mendes