O término de um relacionamento e uma suspeita de traição teriam bastado para um ex-namorado ordenar a morte de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, que teve a execução gravada em vídeo*. O corpo dela foi encontrado em 17 de maio, na Vila Tamanca, zona leste de Porto Alegre.
Um adolescente de 17 anos foi apreendido e sete pessoas acabaram presas por envolvimento no crime. Seis dos presos tiveram os nomes divulgados: Nathan Sirangelo, Bruno Cardoso Oliveira, Carlos Cleomar Rodrigues da Silva, Thaís Cristina dos Santos, Paulo Henrique Silveira Merlo, e Vinicius Matheus da Silva, cuja idade não foi divulgada. O sétimo suspeito, que não teve a identidade revelada, não teve participação direta no crime e vai responder por favorecimento, pelo fato de esconder Thaís, que teria feito a gravação.
— O inquérito tem quase 200 páginas. Temos convicção absoluta da participação deles — salientou a delegada Tatiana Bastos, da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam).
A investigação apontou que Paola conheceu Nathan — considerado um dos mandantes do crime — pelas redes sociais. Após os primeiros contatos, a jovem decidiu ir até o Presídio Central, onde ele está recluso por tráfico de drogas. Aquela foi uma das inúmeras visitas que ela fez ao companheiro na cadeia durante relacionamento considerado "tumultuado" pelos investigadores.
Ao iniciar o namoro, Paola passou a integrar a facção criminosa de Nathan, como companheira dele.
— Ele era realmente seu companheiro, mantinha (financeiramente) a vítima, (que) morou primeiro na casa dos familiares dele, e depois ela estava morando em uma casa paga pela organização criminosa da qual ele fazia parte — observa a delegada.
E foram as mesmas redes sociais que aproximaram o casal que serviram de pano de fundo para o assassinato de Paola. Em 9 de maio, Paola vai ao Presídio Central, termina o relacionamento com Nathan e, quatro dias depois, faz uma postagem que sugeriria uma traição. No mesmo dia, acabou sendo morta.
O crime foi precedido por um encontro com dois homens, que a levaram até uma casa na Vila Tamanca, no bairro Agronomia. Ali foi torturada psicologicamente, teve as mãos e os pés amarrados e foi levada até um matagal. Aguardou duas horas até a cova ser aberta. E, ao ver o final trágico, ainda pediu inúmeras vezes desculpas a Nathan por telefone, como em súplica. Sem efeito, entrou na cova e acabou morta com dois tiros.
Cronologia
3 de dezembro
Primeira ida de Paola Avaly Corrêa ao Presídio Central para conhecer Nathan Sirangelo.
9 de maio
Paola vai ao Presídio Central e termina o relacionamento com Nathan Sirangelo, iniciado em dezembro de 2017. Ela chega ao local às 11h17min e deixa o local às 16h34min.
11 de maio
Nathan e Paola discutem por telefone.
12 de maio
Paola faz duas ligações para o 190 da Brigada Militar. Entretanto, a BM acaba não atende as ocorrências. Segundo a delegada, Nathan tinha marcado um encontro com Paola, mas ela acabou não indo.
13 de maio
- Por volta das 4h da madrugada, Paola faz uma postagem nas redes sociais que, segundo a delegada, "custou-lhe a vida" .
- Às 8h a jovem se encontra com duas pessoas — Vinicius Matheus da Silva e Carlos Cleomar Rodrigues da Silva — por ordem do companheiro. O encontro ocorre no bairro Cefer II, na escadaria do colégio Evaristo Gomes Gonçalves Neto. "Ela está aguardando de maneira tranquila, já imaginando que algo vai acontecer com ela, mas não que se trataria de um feminícidio", relata a delegada.
- Paola é levada até uma casa na Vila Tamanca, onde estão outras duas pessoas — Thaís Cristina dos Santos e Paulo Henrique Silveira Merló. Ali ela conversa com Nathan ao telefone e "pede desculpas inúmeras vezes", observa a delegada. Na ligação, Nathan determina o que cada um dos envolvidos vai fazer.
- Paola e o grupo entram em uma mata. A jovem é amarrada e é torturada psicologicamente, salienta a delegada. Paulo começa a cavar a cova, o que leva duas horas para ser concluído. Adolescente de 17 anos fica cuidando da jovem e chega a comentar no vídeo "vamos soltar".
- Às 17h30min Paola entra na cova e é executada com dois tiros.
18 de maio
Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher assume o caso.
19 de maio
Nathan e Bruno Cardoso Oliveira, que já estão presos no Presídio Central, têm a prisão convertida em preventiva. Neste dia, Vinicius Matheus da Silva também é preso e indica o local do crime. Com ele, foi apreendida uma arma de fogo que teria sido utilizada na execução, já encaminhada para perícia.
28 de maio
Inquérito é concluído e encaminhado para a Justiça. Na época, a polícia já pediu as prisões dos outros envolvidos, quebras de sigilo telefônico.
20 de junho
Outras três pessoas são presas: Thaís Cristina dos Santos, Paulo Henrique Silveira Merló e Carlos Cleomar Rodrigues da Silva.
21 de junho
Polícia prende sétimo suspeito de envolvimento, que não teve nome divulgado, e um adolescente de 17 anos.
*GaúchaZH teve acesso ao vídeo, mas em respeito à família e aos leitores não reproduz o material.