Atualização: o corpo da jovem foi encontrado na Vila Tamanca, em Porto Alegre, em 17 de maio. Leia mais
A caçula de três irmãos, Paola Avaly Corrêa nasceu em 21 de agosto de 1999, no Hospital Divina Providência, em Porto Alegre. A chegada da menina preencheu o vazio e acalentou a tristeza pela morte da avô materna, ocorrida cerca de um mês antes. Dezoito anos depois, a família tenta reunir forças para superar nova perda. Dessa vez, de forma violenta, precoce e cheia de incertezas. A jovem foi morta com pelo menos dois tiros, depois de desaparecer no Dia das Mães. A execução foi gravada em vídeo e o corpo encontrado nesta quinta-feira (17).
Desde o nascimento de Paola, a irmã, que na época tinha 12 anos, acreditava que nunca mais ficaria sozinha. Ela já tinha um irmão, mas agora era uma menina. Teria uma amiga para dividir os momentos. A alegria se tornou completa quando viu que a recém-nascida trazia no pescoço o mesmo sinal que ela tem na perna.
— Quando ela foi mostrada no vidro da maternidade eu estava lá. Era uma felicidade de saber que teria uma companheira e uma amiga para o resto da vida — conta a irmã, que hoje, por medo de represálias, prefere não ser identificada.
O nome da caçula foi escolhido pela mãe, que trabalhava como recreacionista em uma escola infantil. Uma das alunas, com quem ela era apegada, chamava-se Paola. A mãe decidiu dar o mesmo nome à caçula. O pai de Paola foi embora quando ela tinha cinco anos e a família nunca mais se teve notícias dele. Os filhos cresceram grudados à mãe. Até os 17 anos, era com a mãe que Paola morava.
Ela tinha família, amigos, sobrinhos, uma vida pela frente. Cresceu em um lar onde ela não foi criada para acabar do jeito que acabou.
IRMÃ DE PAOLA
A jovem estudou no Ensino Médio da Escola Estadual Oscar Pereira, no bairro Cascata, e trabalhou em uma rede supermercados, que tem filial no bairro Menino Deus. Mas Paola sonhava mais alto. Adorava dançar e ambicionava que um dia teria vida artística. Era deslumbrada com a ideia de se tornar famosa, segundo a irmã:
— Ela teve uma infância simples e normal. Desde pequena, ela era muito alegre, querida por todos e tinha muitos amigos. Não passava de uma criança grande.
Nas últimas fotos em família, Paola aparece sorridente em um shopping. Era muito apegada aos sobrinhos, que os familiares tentam agora proteger. Não querem que as crianças tenham acesso a qualquer imagem da morte da tia. Mas sabem que é missão quase impossível.
— Ela muito amada por todos. Os vizinhos estão em choque com a tragédia. Viram ela crescer. Era uma menina linda e cheia de planos. Isso vai afetar toda família para o resto da vida.
A última vez que as irmãs estiveram juntas foi há dois meses. Paola passou alguns dias na casa da irmã. Na sexta-feira (11), conversaram novamente. Combinaram que a jovem iria passar o Dia das Mães em família. Como Paola não apareceu no domingo, já pela manhã a irmã começou a tentar fazer contato, mas o telefone estava desligado. A mãe também aguardou durante todo o dia, mas não recebeu nenhuma ligação da caçula. Foi neste momento que a família percebeu que algo estava errado.
— Perdi uma irmã, uma amiga. Achava que envelheceríamos juntas e cuidaríamos da nossa mãe, juntamente com nosso irmão. Não sei como será daqui três meses, pois era para ser um momento de alegria, quando os dois (Paola e o irmão) estariam de aniversário. Ela tinha família, amigos, sobrinhos, uma vida pela frente. Cresceu em um lar onde ela não foi criada para acabar do jeito que acabou.
Distanciamento da família
Há cerca de um ano, segundo a família, Paola teria começado a se distanciar e não ouvir mais os conselhos. A jovem conheceu amigos pelas redes sociais, desconhecidos dos familiares.
— Ela começou a se envolver com amizades erradas e não queria mais escutar a família. Acabou por conhecer e ter namorados que a família não conhecia.
No fim de 2017, já com 18 anos, Paola anunciou que iria embora de casa. A jovem interrompeu os estudos e abandonou o emprego. Disse à família que iria morar com algumas amigas. Foram apenas sete meses entre o dia que Paola deixou a casa da mãe e a notícia do seu desaparecimento. A irmã diz que a família tentou aconselhar a jovem para que retomasse a vida que tinha antes disso, mas não houve tempo para que pudessem convencê-la.
— Fizemos tudo que estava ao nosso alcance para ela não acabar assim, mas a perdemos de uma forma brutal, por motivos banais. Fica um alerta para todas as jovens que se acham espertas, mas são muito ingênuas e são facilmente enganadas pelo falso "amor" e uma vida fácil. Queria tanto contar uma história diferente para essa linda menina que sempre estava sorrindo, mas no fim seu sorriso e sua voz se calaram para sempre — lamenta.
Encontro do corpo
O corpo de Paola foi localizado na manhã desta quinta-feira (17), em Porto Alegre, na Vila Tamanca. A Polícia Civil foi chamada ao local e constatou que o corpo seria da jovem, por conta das semelhanças físicas e das roupas que ela usava.
Em meio à angústia dos últimos dias, desde que reconheceram a jovem no vídeo em que mostra sua execução, dentro de uma cova, os familiares oravam para que ao menos o corpo fosse localizado.
— Nesse momento, era o que a família mais pedia a Deus. Para ela não ficar lá desse jeito — diz a irmã.
O desaparecimento de Paola ocorreu no mesmo dia em que ela fez postagem no Facebook, na qual dizia que seu ex-companheiro teria colocado fotografia dela em grupo de troca de mensagens atribuído a traficantes de uma das maiores facções do Estado. Na mensagem, ela diz que "apanhava horrores" dele.
— Ela sempre omitiu da família o que fazia e com quem andava. A gente sentia que ela estava arrependida, que tinha vontade de voltar pra casa, mas não sabia como. Estava iludida e envolvida de tal maneira que o medo a assombrava. E por fim acabou tendo sua vida interrompida tão jovem — afirma a familiar.
GaúchaZH teve acesso ao vídeo, mas em respeito à família e aos leitores não publica o material.