O juiz Roberto Coutinho Borba parece ter se inspirado no colega Sergio Moro, da Operação Lava-Jato, para condenar o delegado Omar Abud a 32 anos de prisão por crimes investigados na Operação Financiador. O magistrado de Alvorada cita em sua sentença, por seis vezes, trechos de obras ou sentenças do paranaense. E menciona 10 vezes o procurador Deltan Dallagnol, também da Lava-Jato.
As condições da sentença de Borba são similares às da operação paranaense. O juiz aplicou uma pena dura para um caso sem mortes: 32 anos de reclusão. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, por exemplo, foi condenado uma vez a 23 anos de prisão e outra, a 11 anos de prisão, em primeira instância na Lava-Jato. As penas se referem aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
O delegado foi condenado oito meses após o início do processo. Além disso, o juiz decretou a prisão de Abud no momento da condenação em primeiro grau — algo raro em se tratando de réu primário, outro fator que se assemelha às decisões de Moro. É um rigor que costuma ser usado quando o acusado ameaça testemunhas durante o processo ou tenta esconder provas. Abud teria tentado interferir na investigação policial.
O juiz justifica o fato de ter aplicado as penas mais altas aos dois policiais envolvidos na quadrilha porque, segundo Borba, eles deram apoio financeiro no custeio das despesas de organizações criminosas, "eram uma das fontes de riqueza das organizações" e "impulsionavam economicamente as atividades de roubos, receptações, fraudes e estelionatos, além de lhes fornecer proteção às ações do Estado, retardando atos de polícia". Levou em consideração, principalmente, o testemunho de um delator, que detalhou empréstimos feitos por Abud a diversas pessoas apontadas como criminosas. Abud e o outro policial, Luís Armindo, assumem ter emprestado dinheiro a indivíduos, mas negam saber que eles eram integrantes de quadrilhas.