Antes reconhecido como um dos mais destacados delegados gaúchos, Omar Abud passou de um lado das grades para outro, em questão de meses. Está preso no xadrez do Grupamento de Operações Especiais (GOE) no segundo andar do Palácio da Polícia, a sede da Polícia Civil gaúcha, em Porto Alegre, condenado a 32 anos de reclusão por integrar organização criminosa e lavar dinheiro. Relembre a trajetória do delegado:
1995
Coordenou pesquisa apontando que 49% dos homicídios em Porto Alegre, entre 1990 e 1994, tinham como causas brigas, desavenças e rixas pessoais.
1996
Titular da Delegacia de Roubos, do Deic, foi um dos participantes na prisão de Cláudio Alberto Silva Schmitt, o Claudinho, um dos maiores assaltantes de bancos do Rio Grande do Sul na década de 1990. Em uma perseguição no Litoral Norte, três comparsas de Claudinho foram mortos no cerco policial.
1997
Prendeu Luís Paulo Arias Lucini, o Alemão da Praia, que confessou participação em sete roubos a bancos em Porto Alegre. O assaltante foi capturado com uma pistola Glock e uma Uzi. Três anos depois, foragido, Alemão liderou um cárcere durante roubo a uma agência de Correios, na Avenida Protásio Alves.
No mesmo ano, comandou as investigações que resolveram o sequestro do menino Leonardo Cecconello (foto). Levado de casa em um assalto em Lajeado, foi resgatado em um cativeiro em Rosário do Sul. A polícia constatou que Marcelo Britzke, inquilino da família do menino, havia tramado o sequestro. Exigia resgate de R$ 250 mil.
1998
Em 1998, prendeu Jones Antônio Machado, o Jonas Dedão, apontado como um dos mais violentos assaltantes de banco e carro-forte do Estado. Abud liderou as buscas a Dedão, que estava foragido, em Atibaia, interior de São Paulo.
1999
Em abril, liderou ação que terminou em tiroteio com assaltantes que escondiam mercadorias roubadas — principalmente artigos eletrônicos — em Alvorada. Acabou com a morte de Carlos Eli da Silva, o Carlinhos Metralha. Abud alegou que Metralha havia atirado contra os policiais. Havia suspeita de que o bando juntava dinheiro para um ataque a carro-forte.
No mês seguinte, já à frente da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, também no Deic, Abud comandou a Operação Dublê, que revelava um esquema de clonagem de veículos, ainda não muito comum no Estado.
Em junho, esteve entre os delegados do Deic (foto) que entraram em rota de colisão com o então secretário da Segurança Pública, José Paulo Bisol. O confronto lhe rendeu o afastamento do departamento, para onde não retornou mais. Desde então atuou em delegacias de bairro ou da Região Metropolitana.
Escanteado dos departamentos que investigam organizações criminosas, assumiu a 2ª DP de Cachoeirinha, passou ainda pela 1ª DP de Alvorada, depois, a DP de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, e, nos anos seguintes, passou por pelo menos cinco delegacias distritais de Porto Alegre. Todas na Zona Norte.
2001
Foi indiciado por corrupção passiva a partir de denúncias na CPI da Segurança Pública. Foi citado como possível beneficiário de propinas do jogo do bicho, junta com outros delegados que atuavam na Capital. O MP informa que a denúncia na área criminal não avançou.
2004
Titular da 12ª DP, investigou um dos primeiros casos de explosão de agência bancária em Porto Alegre. Classificou como vandalismo.
2009
Quando era titular da 15ª DP, integrou a força-tarefa que investigava o assassinato do médico Marco Antônio Becker, presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers).
2010
Era diretor regional metropolitano, responsável pelas delegacias de Cachoeirinha, Alvorada, Viamão e Gravataí.
2011
Em julho de 2011, de volta à Capital, como titular da 22ª DP, prendeu um agente da 12ª DP suspeito de ser informante de traficantes que atuavam na Vila Santa Rosa, na zona norte de Porto Alegre.
2017
Em fevereiro, quando chefiava a 17ª DP de Porto Alegre, é preso na Operação Financiador, deflagrada pelo Ministério Público e Corregedoria da Polícia Civil. A investigação tinha como alvo integrantes de uma facção criminosa, os Bala na Cara, que utilizaram um mercado em Alvorada como fachada para lavar dinheiro e repassar mercadorias roubadas. A apuração apontou que Abud e outro policial civil, o comissário Luís Armindo Gonçalves, financiavam uma quadrilha especializada em estelionato e roubo de cargas. A denúncia apresentou comprovantes de repasses de valores pelos policiais para que os crimes continuassem e eles conseguissem lucros em cima destes valores. Os financiamentos seriam por meio de intermediários — alguns deles, familiares dos policiais — para dificultar o rastreamento. No início de outubro, Abud foi condenado a 32 anos de prisão, em regime fechado.
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