A Justiça condenou em 1ª Instância o delegado da Polícia Civil Omar Abud e o ex-comissário Luiz Armindo de Mello Gonçalves, além de outras sete pessoas — incluindo o sobrinho do delegado, Thiago Abud Dias, a esposa do comissário, Maria dos Santos Gonçalves, e o filho dele, Rafael Mello Gonçalves — por envolvimento em um esquema criminoso desarticulado na Operação Financiador. A decisão foi proferida pelo juiz Roberto Coutinho Borba, da 2ª Vara Criminal de Alvorada, nesta quinta-feira (5).
Abud foi condenado a 32 anos e um mês de reclusão em regime fechado, e sem direito a recorrer em liberdade, pelos crimes de organização criminosa, obstrução de investigações e lavagem de dinheiro. Além disso, a Justiça determinou que Abud perca a função pública. Ele teve a condenação mais pesada entre todos os denunciados pelo Ministério Público.
O comissário Luiz Armindo de Mello Gonçalves, também apontado pelo MP como financiador de um esquema de lavagem de dinheiro a partir de roubos de cargas, foi condenado a 17 anos e um mês de reclusão pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. A sentença ainda determina que ele perca o direito à aposentadoria que atualmente recebe do Estado. Assim como o delegado, Gonçalves também não terá o direito de recorrer em liberdade.
Até o momento, os dois servidores seguem recebendo seus salários e, no entendimento do advogado Paulo Saint Pastous Caleffi, que defende Gonçalves, a medida de suspensão dos vencimentos só poderá ser cumprida após o julgamento de recurso no Tribunal de Justiça.
A Operação Financiador foi deflagrada em fevereiro deste ano na Região Metropolitana, como uma sequência de outra investigação policial que havia desmascarado integrantes de uma facção criminosa por utilizarem um mercado em Alvorada como fachada para lavar dinheiro e repassar mercadorias roubadas. Na mesma sentença proferida nesta quinta-feira, Jair Borges da Silva, Cristiano Oliveira Vargas, Lourenço Flores dos Santos e Paola da Silva foram condenados por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A investigação indicou que Abud e Gonçalves financiavam esta quadrilha especializada em estelionato e roubo de cargas também em outras operações. A denúncia apontou comprovantes de repasses de valores pelos policiais para que os crimes continuassem e eles conseguissem lucros destes valores. Os repasses, apurou a polícia, passavam por intermediários para dificultar o rastreamento. Conforme a sentença, o sobrinho do delegado, Thiago Abud, teria participado do esquema. Ele foi condenado a seis anos e oito meses, em regime semiaberto, e poderá recorrer em liberdade. Maria dos Santos Gonçalves e Rafael Mello Gonçalves foram condenados ao mesmo período de pena, também em semiaberto e com o direito a recurso em liberdade.
Além dos financiamentos, o delegado foi condenado por ameaças ao colega que comandava as investigações contra a quadrilha e a uma das testemunhas principais do caso. Como o comissário e o delegado tinham informações sigilosas, eles se valiam da função pública para dificultar as investigações.
Presos preventivamente na época em que a operação foi desencadeada, os dois policiais foram soltos em 31 de julho. No entendimento do mesmo juiz que proferiu a sentença nesta quinta, não existiam mais motivos para a manutenção da prisão preventiva. O caso foi analisado no Tribunal de Justiça, em recurso do Ministério Público, na semana passada, e as liberdades foram mantidas.
Contraponto
Paulo Saint Pastous Caleffi (advogado de Luiz de Mello Gonçalves, da esposa e do filho dele) diz que entrará com recurso contra a sentença e buscará um pedido de habeas corpus contra a prisão do comissário aposentado. A tentativa, segundo ele, é pela absolvição dos três réus.
— Foi uma decisão parcial e sem o devido rigor técnico. É um absurdo manter o Luiz Gonçalves preso. O corte dos seus vencimentos não poderá ser imediato por ordem de uma sentença em primeira instância — critica.
Ariel Barazzetti Weber (advogado de Omar Sena Abud) diz que a sentença pegou a defesa de surpresa pela velocidade com que foi decidida. Ele pretende entrar com recurso, mas antes quer ler a decisão para estabelecer a melhor estratégia.