Para os promotores envolvidos na investigação que levou às prisões preventivas do delegado Omar Abud e do comissário de polícia aposentado Luis Armindo de Mello Gonçalves, na manhã desta terça-feira, o delegado estava no topo da hierarquia de uma quadrilha investigada por roubos de cargas na Região Metropolitana de Porto Alegre. Eles são investigados por lavagem de dinheiro, violação de sigilo funcional e organização criminosa.
– O papel dos agentes era o de financiadores. É aquele braço do crime, que está acima dos demais, e raramente vem à tona. Temos provas contundentes da movimentação financeira entre os agentes presos na operação e os demais integrantes dessa organização criminosa – revela o subprocurador-geral de Justiça, promotor Fabiano Dallazen.
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Segundo ele, entre o delegado e o comissário havia ainda uma relação hierárquica, com Omar Abud tendo maior poder de decisão na organização. A função principal dos financiadores era a de garantir recursos para executar os ataques a cargas que variavam desde produtos alimentícios até medicamentos e pneus. Depois de repassadas as cargas, parte do lucro – não revelada pelo Ministério Público – retornava eles.
A investigação do MP é mantida em sigilo, segundo a instituição, porque ainda não há denúncia formalizada à Justiça. Foram quebrados sigilos bancário e fiscal dos dois policiais e, segundo Dallazen, estes dados, cruzados no laboratório de lavagem de dinheiro do MP, comprovaram a movimentação financeira entre eles e os demais integrantes da quadrilha.
A apuração do MP se iniciou em novembro do ano passado, como sequência de um caso envolvendo criminosos de uma facção atuando em roubos de cargas e receptação de produtos roubados.
– Desde 2014 esse grupo vinha agindo usando um mercado de Alvorada como fachada e dois depósitos, em Triunfo e Cachoeirinha, para armazenar produtos roubados. A nossa investigação focou na lavagem de dinheiro dessa quadrilha e as informações sobre a participação dos policiais começaram a surgir – explica o promotor.
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No final do mês passado, quatro integrantes dessa organização foram denunciados pelo Ministério Público. Enquanto a estimativa é de que Omar Abud e Luis Armindo de Mello Gonçalves lavaram pelo menos R$ 1,1 milhão no esquema, a denúncia dos criminosos que operavam o mercado em Alvorada estimou em R$ 1,7 milhão camuflados no negócio de fachada.
Simultaneamente, a Corregedoria da Polícia Civil também investigava as relações do delegado com criminosos relacionados aos roubos de cargas. As suspeitas da polícia surgiram a partir da descoberta de um depósito em Cachoeirinha, durante uma ação da Delegacia de Roubos de Cargas, do Deic. Quando o inquérito chegou à fase final, o MP verificou que as duas apurações eram complementares. Elas desencadearam a Operação Financiador, conjunta entre os dois órgãos, na manhã desta terça.
Conforme os promotores, parte do dinheiro recebido nas ações criminosas foram lavados nas compras de imóveis e veículos de luxo. Na ação dessa terça-feira, foram apreendidos três carros BMW e uma moto, além do bloqueio de três imóveis entre Porto Alegre e o Litoral Norte. Um destes locais estaria avaliado em R$ 3 milhões.