Por Luís Beck da Silva Neto (*) e Waldomiro Carlos Manfroi (**)
Insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica que surge quando o coração não satisfaz as demandas do organismo.
Estima-se hoje que cerca de 1,5% da população adulta apresente IC. No Brasil, equivaleria a 2,85 milhões de pessoas. A tendência de envelhecimento da população brasileira agrava ainda mais estes números. Os avanços terapêuticos na área cardiológica, que por um lado diminuem a mortalidade dos pacientes com problemas cardíacos, por outro lado terminam por aumentar a incidência de pacientes com IC. Pacientes que antes morriam agora sobrevivem mais tempo e, consequentemente, têm mais chance de desenvolver IC.
Qualquer dano ao músculo cardíaco pode culminar em IC, destacando-se:
- infarto agudo do miocárdio
- hipertensos de longa data com pobre controle da pressão arterial e/ou abusadores crônicos de álcool
- doença de Chagas
- infecções virais variadas
- uso de quimioterapia como tratamento do câncer
- doenças das válvulas cardíacas
- diabetes
- hiper ou hipotireoidismo
- obesidade mórbida
- arritmias persistentes
Síndrome do Coração Partido
Entre as causas, há até uma situação conhecida como Síndrome do Coração Partido. Sim: eventos extremamente traumáticos do ponto de vista emocional podem levar a uma perda súbita da função cardíaca. Mas, felizmente, essas são situações na maior parte das vezes transitórias.
Qual o impacto para o paciente?
A síndrome compromete a qualidade e a quantidade de vida dos pacientes. Os principais sintomas, geralmente de caráter progressivo, são cansaço, inchaço nas pernas, falta de ar e tosse – todos piorando ao deitar. As internações hospitalares podem ser frequentes, de alto custo e carregar em si um significativo risco de vida.
As boas notícias!
O tratamento da IC atual é um exemplo de progresso da medicina contemporânea. Ela propiciou mudança drástica na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes. Face ao uso dos novos medicamentos desenvolvidas nos últimos 30 anos, a mortalidade dos pacientes diminuiu em até 65%. Pacientes considerados irrecuperáveis na década de 1980 e no início dos anos 1990 hoje desfrutam condição muito melhores.
Além dos medicamentos
Hoje, além dos medicamentos, os pacientes contam com dispositivos eletrônicos que, depois de implantados, registram e gravam o ritmo cardíaco. Quando o paciente apresenta uma arritmia fatal, esses dispositivos ativam um choque elétrico no peito e ressuscitam-no. Esta é uma tecnologia disruptiva que comprovadamente aumenta o tempo de vida dos pacientes e se encontra disponível no SUS.
Transplante
Quando as opções aparentarem estar se esgotando, os pacientes contam com a opção do transplante cardíaco. A substituição do coração comprometido por um órgão doado saudável devolve ao paciente uma condição de vida melhor e agrega, em média, uma década de vida a pacientes que estavam em situação crítica.
Acesso aos recursos
Considerando uma doença de tão alto impacto na vida dos pacientes e a existência de um tratamento globalmente tão eficaz, resta-nos, enquanto comunidade, trabalhar e lutar para que o acesso a estes recursos sejam o mais difundido possível.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia, através de seu Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC), passou a desenvolver ações educativas para médicos, comunidade geral, instituições privadas e governamentais para que todo paciente com IC no Brasil tenha o tratamento necessário. A Academia Sul-Riograndense de Medicina junta-se a essa corrente positiva.
(*) Cardiologista, professor adjunto de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS, professor de Pós-Graduação em Ciências Cardiovasculares da UFRGS e vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do RS
(**) Cardiologista, ex-diretor da Faculdade de Medicina da UFRGS e professor de Pós-Graduação em Ciências Cardiovasculares da UFRGS
Parceria com a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março, com a reportagem “Câncer: do diagnóstico ao tratamento”. Em abril, publicamos artigo sobre depressão e bipolaridade. Uma vez por mês, até dezembro, o caderno vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pelo otorrinolaringologista Luiz Lavinsky. De diversas especialidades — oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia etc —, esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.