Há 25 anos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece o método terapêutico que utiliza o cavalo como promotor de benefícios físicos e psicológicos – técnica que leva o nome de equoterapia. No próximo dia 9, é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Equoterapia, data instituída por meio de lei federal que tem o objetivo de difundir a prática no Brasil.
Conforme a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), trata-se de método terapêutico que utiliza o cavalo em meio a uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou em processo de reabilitação.
Durante as sessões, que duram até 30 minutos, conforme normativa da associação, os praticantes (nomenclatura adotada pois eles são agentes ativos, e não passivos), que na maioria dos casos são crianças, recebem uma série de estímulos que vão contribuir para uma melhora no seu quadro de saúde como um todo.
Quem pratica
Silvia Scheffer, coordenadora do Centro de Equoterapia Cavalo Amigo, de Porto Alegre, e equoterapeuta com mais de 30 anos de experiência na área, conta que atendeu diversos públicos ao longo dos anos.
— Quando eu comecei na equoterapia, a gente tinha muita demanda de crianças com paralisia cerebral, com falta de oxigenação no cérebro e com problemas motores. Depois, a gente passou por uma onda de crianças com síndrome de Down. Atualmente, estamos em uma onda de crianças com transtorno do espectro autista – diz Silvia, salientando que a terapia não se restringe a este público, podendo ser benéfica para outros casos.
A recomendação da equoterapia é feita para pessoas com doenças genéticas, neurológicas, ortopédicas, musculares e clínico-metabólicas, para o tratamento de sequelas de traumas e cirurgias e para aqueles que têm doenças mentais, distúrbios psicológicos, comportamentais, de aprendizagem e de linguagem.
Como funciona
A interação com o cavalo se diferencia de outros métodos, especialmente por dois motivos. O primeiro se deve à forma de movimentação do animal.
O movimento tridimensional (quando há deslocamento em altura, lateral e em profundidade) do cavalo tem padrão semelhante ao do caminhar humano, fazendo com que, mesmo sem andar (condição de muitos praticantes), o corpo reaja de acordo. Isso quer dizer que, durante a montaria, o organismo se comporta de forma parecida como se estivesse caminhando com as próprias pernas, o que gera estímulo muscular, neurológico e hormonal.
A segunda particularidade é que, durante as atividades, cria-se um vínculo entre o cavalo e o praticante e, por meio desta relação, os profissionais conseguem elaborar programas capazes de estimular a independência das crianças, como explica Silvia:
— Vamos imaginar que uma criança tenha dificuldade nas rotinas diárias, como tomar banho, pentear o cabelo e escovar os dentes. A gente faz o trabalho de baia, realizando essas atividades nos cavalos junto com as crianças e elas vão aprendendo essas rotinas do dia a dia.
Segurança
É importante que o cavalo tenha as características certas para ser usado neste tipo de terapia. Para ser adequado, o animal precisa ser treinado, ter andadura perfeitamente alinhada, ter uma personalidade tranquila, não ser muito reativo a barulhos e gostar do convívio com humanos, especialmente com crianças.
Outra questão importante é fazer a equoterapia com uma equipe especializada. A mediação da interação entre o animal e o praticante tem de ser feita com conhecimento técnico, para evitar acidentes, para que seja um atendimento planejado e com resultados positivos. Por essas razões, recomenda-se pesquisar a respeito dos centros de equoterapia, buscar preferencialmente por centro filiados à Ande-Brasil e questionar nos locais a respeito da formação dos profissionais que farão o atendimento.
Critérios
Regulamentada atualmente pela Lei Federal 13.830, a equoterapia é condicionada a parecer favorável de avaliação médica, psicológica e fisioterápica e deve ser exercida por equipe multidisciplinar composta por médico, veterinário, psicólogo, fisioterapeuta e profissional de equitação, podendo também ser integrada por pedagogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e professores de educação física, que devem ter curso específico de equoterapia.
Também é exigido um acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos praticantes, com registro periódico, sistemático e individualizado das informações. Os centros de equoterapia precisam de alvará de funcionamento emitido pela vigilância sanitária. Não há um conselho nacional, mas a Ande-Brasil exerce função semelhante, realizando cursos, reconhecendo centros e produzindo pesquisas.