Praticamente um terço dos brasileiros enfrentam uma doença silenciosa, mas que está associada às principais causas de morte do país. A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, está diretamente relacionada a mais de 70% das ocorrências de infarto agudo do miocárdio e de acidente vascular cerebral (AVC), quadros que ocupam a primeira e a segunda em número de mortes no país. Mas os riscos dessa condição vão além, já que ela está ligada a outros problemas de saúde muito comuns e perigosos, como insuficiências cardíacas e renais, arritmias, demências, entre outros.
Como não existe uma cura, prevenir é a melhor alternativa para aqueles que planejam viver uma vida longa e livre de grandes problemas de saúde. Esta quarta-feira (26) é o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, data instituída por lei para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico preventivo e sobre o tratamento.
Falar sobre a doença é um passo fundamental para diminuir a sua incidência e seu impacto na sociedade, como salienta o cardiologista Flávio Fuchs, membro do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que faz uma analogia com a questão do tabagismo:
– Antigamente, se falou tão mal do cigarro, que as pessoas pararam de fumar progressivamente. Agora se fala tão mal da hipertensão que as pessoas estão progressivamente cuidando mais, a pressão da humanidade está baixando, os infartos e derrames precoces estão realmente diminuindo, mas nós temos ainda muito espaço para melhorar a saúde da comunidade.
A doença
A hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível que provoca o desgaste nos vasos sanguíneos ao longo do tempo, deixando as estruturas do sistema cardiovascular mais vulneráveis. No Brasil, o paciente considerado hipertenso é aquele que possui uma pressão arterial a partir de 140 mmHg – unidade de medida de pressão que significa miligramas de mercúrio – no movimento sistólico (contração do coração) por 90 mmHg no movimento diastólico (relaxamento do coração), medição popularmente chamada de 14/9. Esses números são referentes à força que a corrente sanguínea exerce contra os vasos todas as vezes que o coração bombeia o sangue.
– São mais de 100 mil batimentos cardíacos por dia que uma pessoa normal tem durante 24 horas. Então se a média dessa pressão dos batimentos de dia e de noite for elevada há dano cardíaco, vascular, cerebral e renal. E quanto mais elevada, maior o dano – explica Fuchs, que também é pesquisador da área, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A maioria das pessoas que sofrem de hipertensão não têm sintomas específicos, apenas quando a pressão está muito alta, nesses casos é possível haver tonturas, dores no peito ou de cabeça, confusão mental e até perda da consciência. Nesses casos o atendimento médico deve ser procurado imediatamente, pois o paciente pode estar próximo de ter um acidente vascular.
Em alguns lugares do mundo, como nos Estados Unidos, por exemplo, as autoridades de saúde entendem que há hipertensão a partir de valores mais baixos, como 13/8, já que essa pressão, em médio e longo prazo, tende a ser a causa de doenças, especialmente com o envelhecimento. O especialista recomenda que, aqueles que apresentarem pressão a partir de 13/8 em uma medição casual, procure atendimento médico para averiguar de forma mais precisa a sua condição e iniciar o controle da pressão o quanto antes e evitar complicações maiores no decorrer da vida.
Prevenção
A maioria dos causadores de pressão alta são evitáveis. A exceção é a condição genética, portanto, quem tem histórico familiar da doença precisam ter atenção especial à pressão, fazendo aferições com regularidade. A recomendação de medir a pressão, pelo menos uma vez por ano, vale também para aqueles que não têm parentes afetados.
As demais formas de prevenir a hipertensão arterial passa basicamente pela adoção de um estilo de vida saudável, evitando os fatores de risco, que são:
- Tabagismo: o cigarro é um dos principais causadores de doenças cardiovasculares especialmente eventos como o infarto e o AVC, pois um dos efeitos das substâncias é o aumento de placas de gordura nas veias e artérias, além de estar associado a diversas outras doenças, principalmente alguns tipos de câncer e do sistema respiratório.
- Sedentarismo: a falta ou ausência da estimulação cardiorrespiratória em decorrência do sedentarismo é outro fator que facilita o acúmulo de células de gordura do sistema vascular e, consequentemente, aumenta a força que o coração precisa fazer para bombear o sangue, ou seja, aumenta a pressão. Combinado com a obesidade, é uma condição ainda mais favorável para o surgimento da hipertensão.
- Alimentação desbalanceada: um dos grandes vilões da hipertensão é o sal. O corpo precisa da ingestão dessa substância, mas a recomendação diária são 2g, muito abaixo da média de 5g a 6g que são consumidas em média por uma pessoa por dia. Os grandes vilões são os produtos altamente processados, como biscoitos recheados, refrigerantes, salgadinhos etc.
Tratamento
Mesmo não havendo cura para o quadro, ter hipertensão não significa o fim da vida de ninguém. Pelo contrário, pode ser o início de uma nova trajetória, com hábitos mais saudáveis que vão melhorar a qualidade de vida como um todo. Aqueles que aderem ao tratamento, seja ele com auxílio ou não de medicamentos, podem ter a pressão controlada pelo resto de seus dias e não sofrer as consequências da enfermidade.
No entanto, é preciso disciplina, pois o tratamento tem que ser contínuo apesar de haver melhora nos indicadores de pressão. Com o abandono da medicação, é possível que a hipertensão volte a ser um problema e, ainda mais sem ser monitorada, pode ser a causa de eventos cardiovasculares fulminantes, como os já citados.
Além da medicação, é necessária a adequação ao novo estilo de vida, conciliando o tratamento farmacológico com uma dieta balanceada, que dê preferência aos alimentos in natura, com baixos teores de gorduras e sal. Somado a isso, é importante a prática regular de atividade física – segundo a Organização Mundial da Saúde, de no mínimo 150 minutos de atividades moderadas a vigorosas por semana, além da superação do tabagismo e do etilismo, em alguns casos.
Produção: Állisson Santiago