Ives Cavalcante Passos (*) e Flávio Kapczinski (**)
A depressão é uma doença que apresenta uma variedade de sintomas. Seu sintoma central é sensação de intensa tristeza ou falta de esperança. Sentimentos de culpa, capacidade diminuída de se concentrar, fadiga, alteração do padrão do sono e do apetite, falta de motivação e perda de interesse nas atividades são outros sintomas que podem estar presentes.
Comumente, mesmo coisas do dia a dia se tornam difíceis, como ir ao trabalho, pagar contas, cuidar da higiene pessoal ou sair da cama.
Algumas vezes, a depressão é uma reação a experiências de vida desagradáveis, como a perda de um emprego. Outras vezes, pode aparecer sem uma razão clara.
Prevalência
Trata-se de uma doença comum, com uma prevalência de 14,2% entre adultos no Brasil. A taxa é duas vezes maior em mulheres do que em homens e três vezes maior em indivíduos de 18 a 29 anos comparado com aqueles acima dos 60.
Além disso, o transtorno depressivo está listado entre as cinco principais causas de anos vividos com incapacidade em todo o mundo. É importante notar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que menos da metade das pessoas com depressão têm acesso ao tratamento, em virtude do baixo número de profissionais, do custo e do estigma.
Tratamento
A depressão é tratada através de consultas com médicos psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da área da saúde mental.
Existem diversos tratamentos medicamentosos efetivos como os inibidores seletivos da receptação da serotonina, inibidores da serotonina e noradrenalina, entre outros. Essas classes de medicamentos são em conjunto chamadas de antidepressivos. Com relação às psicoterapias, várias são eficazes como a terapia cognitivo comportamental, terapia interpessoal e terapia de orientação analítica. Muitos estudos têm também demonstrado a eficácia da atividade física regular.
Mais recentemente, novos tratamentos como a neuroestimulação e a escetamina estão também sendo utilizados, sobretudo em casos refratários.
O transtorno bipolar
Um diagnóstico comumente confundido com a depressão é o de transtorno bipolar. Os portadores desse transtorno também apresentam episódios depressivos; mas, além deles, é necessário a presença de pelo menos um episódio com sintomas maníacos. Esses sintomas são caracterizados por intensa euforia, aumento anormal da energia, autoestima inflada, redução da quantidade de sono e por uma experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. Diferentemente da depressão, o tratamento central da bipolaridade é com o uso de medicamentos da classe dos estabilizadores de humor, como o lítio, e dos antipsicóticos.
Estigma
Alguns pacientes que sofrem com a depressão ou transtorno bipolar precisam encarar um segundo desafio na jornada em busca da melhora: o estigma que permeia tanto a sociedade como o indivíduo. A construção de estereótipos e preconceitos leva as pessoas a evitarem socializar com quem tem transtorno mental. Algumas vezes, os portadores de depressão são vistos erroneamente como pessoas com “falhas no caráter” ou com “falta de coragem”, quando, na verdade, têm uma doença tratável. O estigma não é um inimigo inofensivo e pode levar ao sentimento de vergonha, aumentar o isolamento social e o sofrimento mental do paciente. É uma das barreiras mais relevantes tanto para a procura de atendimento nos serviços de saúde como na adesão aos tratamentos.
Educação
Programas realizados em parcerias universidade-comunidade podem reduzir o estigma e educar a população sobre a importância de tratar a depressão e a bipolaridade. Nesse sentido, uma iniciativa é o Grupo de Apoio aos Pacientes com Transtorno Bipolar, com palestras mensais gratuitas para pacientes e familiares acerca da doença.
O próximo encontro será online (link: meet.google.com/svu-cujj-zzr), no dia 10 de maio, às 18h30min.
(*) Psiquiatra, professor de Medicina da UFRGS e integrante do Programa Novos Talentos da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM) e da Academia Nacional de Medicina (ANM)
(**) Psiquiatra, professor de Medicina da UFRGS e membro da ASRM e da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
Parceria com a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março, com a reportagem “Câncer: do diagnóstico ao tratamento”. Uma vez por mês, até dezembro, o caderno vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pelo otorrinolaringologista Luiz Lavinsky. De diversas especialidades — oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia etc —, esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.