Quem se esquece da proteção solar acaba padecendo de seus dolorosos efeitos – imediatos e a longo prazo –, mas aqueles que costumam se cuidar precisam aprender as maneiras corretas. Em plena temporada de praia, piscina e exposição prolongada ao sol, é necessário reforçar a atenção com a pele. O verão é a estação mais exigente, mas muitas das práticas devem se manter o ano inteiro, mesmo para quem mora em locais como o Rio Grande do Sul, onde as quatro estações são bem marcadas, com grande variações de temperatura e também na intensidade da radiação.
A pigmentação constitutiva da pele é herdada geneticamente e não sofre interferência da radiação, mantendo-se de forma constante. Já a cor facultativa, reversível, pode ser induzida – quando alguém toma banho de sol e se bronzeia, por exemplo. Dermatologistas costumam se basear na escala concebida pelo médico americano Thomas B. Fitzpatrick (1919–2003) para definir os principais fototipos. De acordo com características como a capacidade de bronzeamento, a sensibilidade e a vermelhidão quando exposta, a pele foi classificada em grupos numerados de um a seis, partindo da mais branca e evoluindo até a negra:
- Pele branca: sempre queima, nunca bronzeia, muito sensível ao sol.
- Pele branca: sempre queima, bronzeia muito pouco, sensível ao sol.
- Pele morena clara: queima moderadamente, bronzeia moderadamente, sensibilidade normal ao sol.
- Pele morena moderada: queima pouco, sempre bronzeia, sensibilidade normal ao sol.
- Pele morena escura: queima raramente, sempre bronzeia, pouco sensível ao sol.
- Pele negra: nunca queima, totalmente pigmentada, mais resistente ao sol.
Segundo Ana Paula Manzoni, coordenadora do Núcleo de Cosmiatria e Laser da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o fator de proteção solar (FPS) mínimo deve ser o 30:
– Disseminou-se a ideia de que FPS acima de 30 não aumenta a proteção solar. Não é bem assim. Pessoas que não tenham problemas de queimaduras, doenças de pele, manchas e lesões pré-câncer podem usar o protetor fator 30, repassando-o em até quatro horas. Se suarem muito ou tomarem banho (de mar ou piscina), o intervalo é menor. Dentro d’água, estima-se que a ação dos protetores resista cerca de 40 minutos.
O bronzeado é uma reação da pele na tentativa de se proteger do dano solar. Negros não estão completamente imunes a queimaduras, mas já dispõem de uma proteção natural representada pela maior presença de melanina, pigmento que torna a pele escura. Eles necessitam, também, de protetor – em geral, pode ser o de FPS 30, com frequência de aplicação igual às dos outros tipos de pele. Indivíduos com tendência a queimaduras, câncer de pele, que tenham ou estejam tratando doenças cutâneas (erupções decorrentes da exposição ao sol, lúpus, lesões pré-câncer) precisam se resguardar mais, alerta a especialista. Sinais são um fator de risco: quanto mais pintas pelo corpo, maior deve ser a precaução.
Lesões benignas (manchinhas ou sinais) podem se transformar, ainda que grande parte dos melanomas (tipo mais grave de câncer de pele) já apareça como melanoma, em vez de evoluir a partir de um sinal pré-existente. Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Rio Grande do Sul (SBD-RS), Taciana Dal’Forno Dini informa que há estudos científicos que relatam que até 50% dos casos de melanoma podem se originar a partir de sinais. Entre os tumores de pele, o mais comum é o carcinoma basocelular, seguido do carcinoma epidermoide. Em geral, o câncer de pele é o tumor maligno mais frequente na população.
– Pessoas mais claras, de olhos claros e cabelo claro, geralmente têm mais sinais e precisam fazer uma revisão anual com um dermatologista. Quem tem história familiar de câncer de pele também – recomenda Taciana.
Ana Paula complementa:
– A pessoa muito cheia de pintas tem que usar FPS mais alto, de 30 para cima.
Cada indivíduo começa a somar os danos do sol desde o nascimento, ressalta Ana Paula. Ao longo da vida, a pele vai tendo contato com o sol. E não se está falando apenas do sol que se toma na praia ou no clube durante o veraneio, mas do sol do ano inteiro, que incide sobre nós diariamente e inclusive de forma indireta. Quando essa exposição atinge certo nível, e associada a fatores genéticos, algumas patologias podem começar a se manifestar, como manchas, lesões pré-câncer e câncer. Quanto mais você pegar sol, mais rapidamente atingirá o limite que seu corpo é capaz de suportar.
Para muita gente é difícil acreditar, então se torna preciso repetir sempre: deve-se aplicar protetor solar o ano inteiro, mesmo em dias de céu nublado, chuvosos ou frios. Ana Paula destaca que, atualmente, especialistas consideram maléfica inclusive a luz de computadores e telefones celulares, pelo excesso de tempo que passamos diante desses aparelhos. Até a iluminação proveniente de lâmpadas domésticas pode contribuir para a soma do dano cumulativo de cada um.
Não esqueça os acessórios
Não existe 100% de proteção, mas acessórios ajudam a diminuir o impacto nocivo da radiação. Preste atenção nas informações descritas nas etiquetas na hora da compra. Em relação a guarda-sóis e chapéus, quanto mais fechada for a trama da confecção, melhor. Bonés de tecido sintético são os mais indicados. Para as roupas, prefira cores escuras – uma camiseta branca de algodão filtra apenas cerca de 20% dos raios ultravioleta. Há camisetas cujos tecidos já oferecem proteção, dispensando o protetor solar. Óculos escuros precisam ser de boa qualidade para não provocar danos à saúde ocular.
E vale reforçar que se deve combinar mais de um elemento: sentar-se debaixo do guarda-sol sem protetor, à beira-mar, é um convite ao “torrão” porque a areia da praia reflete muito a radiação, atingindo em cheio quem acredita estar livre de riscos ali embaixo.
Oleosa, seca e normal
Saber se sua pele é normal, seca ou oleosa é importante para escolher quais produtos são mais indicados para você. O médico dermatologista pode determinar o tipo avaliando-a em uma consulta. A identificação de algumas características permitem que você mesmo já tenha uma pista antes.
Pessoas de pele oleosa costumam reclamar de oleosidade na chamada região T, formada por fronte, nariz e queixo, onde há maior concentração de glândulas sebáceas bastante ativas. Em geral, por volta da metade do dia, o rosto já está brilhando, causando incômodo. Sensação de ressecamento ou repuxo e ocorrência de escamação caracterizam a pele seca. Se não há queixas de oleosidade ou ressecamento, é provável que a pele seja normal.
De acordo com a dermatologista Taciana Dal’Forno Dini, em geral, jovens têm a pele mais oleosa, e idosos, mais seca. A oleosidade tende a aumentar no início da puberdade, por volta dos 13 anos, com pico até em torno dos 20. Entre os 20 e os 40, o tipo de pele tende a se manter estável. Após os 40, até as peles oleosas apresentam uma queda na oleosidade.
A médica destaca que é importante que as adolescentes sejam bem orientadas quanto ao uso de maquiagem. Com o excesso de base, por exemplo, há o risco de ocorrer o entupimento de poros e o surgimento de cravos e acne.
– Uma pele normal pode se tornar acneica pela ação cosmética. Tem pessoas que podem usar base em qualquer idade, enquanto outras começam a usar muito precocemente e passam a desenvolver acne – constata Taciana.
Proteja-se
- O fator de proteção solar (FPS) mínimo a ser utilizado é o 30. Repasse o produto em intervalos de até quatro horas. Se você suar muito ou tomar banho de mar ou piscina, o intervalo para reaplicação é menor. Dentro d’água, estima-se que a ação dos protetores seja de no máximo 40 minutos.
- Além do rosto, regiões que passam mais tempo descobertas, como o colo e as mãos, precisam de atenção ininterrupta, o ano inteiro. Não esqueça do protetor solar.
- Se você optar por uma camiseta de boa qualidade com fator de proteção contra os raios ultravioleta, não é necessário aplicar protetor nas áreas cobertas pelo tecido.
- Para quem dirige muito, há luvas que encobrem mãos e braços. São uma boa alternativa para os que não gostam de cremes e loções.
- Aplique protetor solar em crianças, com fórmula específica infantil, apenas a partir dos seis meses. Até essa idade, deve-se preferir a proteção física, com roupas, chapéu e guarda-sol, observando sempre os horários mais adequados (antes das 10h e após as 16h) e evitando exageros.
- Não se esqueça do couro cabeludo. Existem alguns protetores em spray que são recomendados também para o couro cabeludo. Loções podem ser uma opção. O cabelo é um fator de proteção natural para a cabeça – pessoas com pouco ou nenhum cabelo, portanto, precisam redobrar os cuidados.
- Se a criança fica tirando o chapéu ou o boné, prefira passar o protetor solar em spray no couro cabeludo.
Fonte: Ana Paula Manzoni, dermatologista e coordenadora do Núcleo de Cosmiatria e Laser da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre