Familiares que acompanham o paciente com câncer no dia a dia são personagens fundamentais durante o tratamento. Em primeiro lugar, para evitar uma postura muito intrusiva, é importante que entendam que a cura do doente não depende deles. A culpa, destaca o oncologista Sérgio Roithmann, do Hospital Moinhos de Vento, é um sentimento frequente entre os parentes.
– Muitas vezes, digo para marido, esposa ou filho: “Não está nos seus ombros” – relata o médico.
André Fay, oncologista do Hospital São Lucas da PUCRS, ressalta que a família não deve tomar para si tarefas e obrigações da equipe médica. O filho que vai até o laboratório buscar o resultado de uma biópsia realizada pelo pai, por exemplo, pode se apavorar com a possibilidade de ter de comunicar o péssimo resultado, mas essa responsabilidade não é dele.
– Os familiares têm de ser familiares. Eles têm de estar ali para dar amor, carinho, cuidado. Isso faz uma diferença muito grande – orienta Fay.
Iniciativas simples, como se mostrar disponível e estar presente, são benéficas para o paciente. Acompanhar em uma consulta, ouvir e discutir as explicações do médico ou simplesmente reservar um tempo para conversar sobre amenidades podem representar um grande conforto. Por outro lado, é preciso estar preparado para outras reações e sentimentos, como quando o paciente se mostra nervoso e até agressivo, o que dificulta a aproximação.
Os familiares têm de ser familiares. Eles têm de estar ali para dar amor, carinho, cuidado. Isso faz uma diferença muito grande
ANDRÉ FAY
Oncologista
– Não é fácil estar do lado de uma pessoa doente, muitos fogem disso. “Eu estou aqui para ajudar e ela não me respeita, me ofende”. Isso infelizmente é comum, nem todo mundo suporta receber ajuda dos outros. É preciso respeitar isso, se a pessoa prefere ficar um pouco sozinha. Mas ela tem que saber que a gente está disponível. Estar próximo e trazer uma palavra de carinho já é uma atitude maravilhosa, e não é todo mundo que consegue – constata Roithmann.
dificuldade de encarar de perto a enfermidade de um ente querido, muitas vezes, é uma tradução do medo de se confrontar com a tristeza e a possibilidade da morte. Conviver com alguém tão fragilizado abre espaço também para se questionar sobre a própria finitude. Nessas circunstâncias, nem todos têm a mesma disponibilidade – emocional ou de tempo –, e isso precisa ser discutido e reconhecido entre os envolvidos para que se evitem, ou ao menos sejam minimizadas, as cobranças entre marido, esposa, filhos e irmãos. Trata-se de um momento de crise, e em situações assim se deve procurar ajuda – desabafar com alguém de confiança e pedir conselhos ou ir a um terapeuta.
– Os familiares têm que entender que, às vezes, eles também precisam de ajuda para poder ajudar os outros, e isso pode ser muito importante, tanto para o paciente quanto para o familiar – completa Roithmann.
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