Em situações de trauma ou choque, a sensação de abandono e de não ter com quem conversar pode piorar ainda mais a saúde mental das pessoas. É por isso que, além de fazer doações e distribuir alimentos, a rede de voluntários também oferece suporte emocional para muitas vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
Neste momento em que milhares de pessoas estão desalojadas devido à tragédia climática do Estado, é importante sabe lidar com as diferentes situações e dar suporte emocional às pessoas.
Saber como abordar as vítimas das enchentes, no entanto, é uma tarefa que precisa ser realizada com muito cuidado. Especialistas alertam que falas ou ações erradas podem causar danos emocionais, mas que o apoio emocional correto pode ser fundamental para muitas pessoas.
Como abordar as vítimas
Antes de tudo, é importante saber se você está em condições de ajudar. Quase todo mundo foi afetado de alguma forma pela chuva no Rio Grande do Sul e algumas pessoas, abaladas, talvez não possam ajudar outras neste momento. Por isso, é importante ter certeza de estar em condições de colaborar. Se este é o seu caso:
- Acolha as pessoas de forma respeitosa. Nesses momentos de tristeza e desespero, as vítimas precisam de alguém que, acima de tudo, respeite o sofrimento delas. É sempre importante a disposição para ser um apoio emocional
- Escute a pessoa quantas vezes for preciso. Ajudar emocionalmente, às vezes, é sobre falar menos e escutar mais
— Outra coisa muito importante é a gente tentar restabelecer o senso de comunidade, com as ações de solidariedade, as doações e a atenção para o outro. Porque, num primeiro momento, é em cima deste senso de comunidade, desta reconstrução comunitária, que vai se dar também as ações em termos de saúde mental pública. Por isso o papel das pessoas neste momento é absolutamente fundamental — afirma Christian Kristensen, professor do programa de pós-graduação em Psicologia da PUCRS.
O que NÃO fazer quando abordar as vítimas
- Evite frases populares como “veja o copo meio cheio” e “agradeça por estar viva”
- Não faça comparações. Milhares de pessoas precisaram sair de casa, muitas perderam tudo e outras estão em casas de amigos ou familiares. Seja qual for a realidade da pessoa, não compare ou diga que há gente em uma "situação pior"
- Não faça perguntas demais e nem fique estimulando a pessoa a contar detalhes, lembrar tudo o que ela que viveu. Isso vai fazê-la reviver dores e traumas que talvez ela não queira mais lembrar
— Apesar de terem boas intenções, essas frases e ações comuns não levam em consideração a individualidade do sentimento de cada pessoa e pode acabar piorando a condição emocional dela — explica Lorena Caleffi. psiquiatra do Moinhos de Vento