Peixes encontrados no asfalto da Cidade Baixa e Centro Histórico de Porto Alegre. Cavalos, ovelhas e bois caídos às margens de estradas na Região Metropolitana. Sem esquecer, ainda, das criações de animais no Rio Grande do Sul que também foram perdidas na enchente. Conforme a água baixa, animais mortos surgem entre os estragos deixados pelas cheias. Eles apresentam um risco à saúde pública e a animais vivos.
O professor doutor Gabriel Ribas Pereira, médico veterinário e coordenador da Medicina Veterinária da Feevale, explica que é provável que ocorram surtos de leptospirose nos próximos meses em decorrência da contaminação animal, principalmente pela urina de ratos e de equinos. Esse risco se dá não só pelo contato com a água contaminada, como também pelo consumo futuro de água que possa conter a bactéria. Pereira aponta que as pessoas de baixa renda estão mais vulneráveis ao consumo de água sem tratamento adequado e, portanto, possivelmente infectada.
— Quando tem problemas naturais em massa, isso é muito prejudicial, porque não sabemos o que está ocorrendo com esses animais e a sua procedência. Isso pode se tornar tanto um problema para a saúde pública quanto para a saúde animal — explica o professor.
A leptospirose é uma zoonose, termo que abrange as enfermidades que são passadas dos animais aos seres humanos. O contato com infectados pode acarretar em outras zoonoses, como a raiva, hepatite de todos os tipos e diversas clostridióses — bactérias no trato intestinal dos animais que podem contaminar os humanos a partir das fezes, causando problemas gastrointestinais no ser humano. É recomendado o uso de equipamento de proteção individual (EPI) ao manusear animais ou entrar em contato com água das enchentes.
Segundo o diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Marcelo Vallandro, o Estado está trabalhando em conjunto com os municípios e a União para a prevenção e o tratamento das doenças provenientes dos animais, incluindo o pedido de mais vacinas e remédios ao governo federal. Há, também, uma preocupação em alertar a população para os cuidados e sinais das enfermidades.
Descarte correto é necessário
Para o especialista, o descarte adequado das carcaças animais é importante para a prevenção de doenças.
— Precisamos ter um lugar adequado para que esses animais sejam destinados. Se ficar a céu aberto, isso vai ter um problema a nível de futuras contaminações — explica.
Em Porto Alegre, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) está recolhendo animais mortos juntamente a outros rejeitos na via pública. A conduta é semelhante à que o setor praticava antes da enchente, não havendo contabilização de animais recolhidos. Eventuais enterros de animais domésticos são de responsabilidade dos tutores.
Segundo Gabriel Ribas Pereira, os peixes devem ser recolhidos o mais rápido possível, para evitar a decomposição do corpo e o surgimento de bactérias que contaminam a água. O mais apropriado sob as circunstâncias atuais, porém, seria o descarte separado dos animais.
— Todos esses pequenos animais, também falando de roedores, que são uma grande fonte de problemas, se forem colocados juntos e esse lixo não passar por um processo adequado de decomposição, vai ser problema também. — o professor coloca.
Criadouros
A Secretaria do Meio Ambiente do RS (SEMA) orienta que as pessoas procurem seus municípios para orientações sobre carcaças de animais. No caso de criadouros licenciados, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) emitiu indicações específicas para o período de calamidade. Os cadáveres poderão ser destinados, em ordem de prioridade, para composteiras destinadas a animais mortos, centrais ou pátios de compostagem, centrais de tratamento de dejetos orgânicos de origem industrial ou enterro em valas, que devem seguir as indicações de distância de lençóis freáticos e de profundidade adequados. Tais procedimentos também são recomendados pelo professor da Feevale.
Por enquanto, não há estimativa de quantos animais morreram por causa das enchentes, porém, a Emater está realizando um levantamento de danos, com previsão de ser publicado em breve. Nas enchentes de setembro, que atingiram, principalmente, o Vale do Taquari, o relatório da Emater estimou a morte de 29.356 animais, 370 caixas de abelhas e 35,5 toneladas de peixe.
*Produção: Fernanda Axelrud