Com o excesso de animais resgatados das enchentes, muitos abrigos estão lotados. Vários foram montados de forma improvisada e não têm estrutura para dar conta da demanda. Conforme o governo do Estado, mais de 10 mil animais foram resgatados nas áreas de risco de todo o território gaúcho. Destes, 4,8 mil resgates foram realizados em Porto Alegre, conforme a prefeitura.
Os pets são encaminhados para os abrigos, que se mantêm especialmente com trabalho voluntário e doações. No Centro Humanístico Vida, na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, um dos maiores da Capital, por exemplo, já são acolhidos mais de 400 cães e gatos. Conforme um dos organizadores do projeto, Matheus Pereira, chegam, em média, 50 animais resgatados por dia.
Ainda que diversas pessoas estejam abrindo as portas de suas casas para cuidar dos amigos de quatro patas, a mobilização ainda não é o suficiente para atender à demanda.
— É importante que a sociedade se una na buscar de lares para esses animais, tanto permanentes quanto temporários, para diminuir a quantidade de animais nos abrigos, dar dignidade e oferecer um cuidado maior a eles — diz o professor Marcelo Alievi, vice-diretor da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A entidade Médicos-Veterinários de Rua está se mobilizando para garantir um lar para todos os peludos resgatados. Os voluntários do projeto, vinculado à ONG Médicos do Mundo, estão elaborando uma lista de pessoas dispostas e preparadas para oferecer lar temporário aos pets resgatados para que os abrigos tenham a quem recorrer e os animais sejam encaminhados, quando necessário, após passarem por avaliação e cuidados médicos.
Embora boa parte dos cães e gatos encontrados tenha tutores, é provável que muitos não possam retornar para suas famílias e lares de antes, ou que não sejam localizados pelos donos.
— Quando esses animais precisarem sair do abrigo, chegaremos em um beco sem saída, porque não vamos ter locais seguros para encaminhá-los. Então, estamos fazendo essa lista e poderemos dar orientações para essas pessoas. Nesse momento, a adoção não é o mais indicado. Sempre partimos do princípio de que esses animais têm tutores procurando por eles — explica a voluntária Ana Esteves, da Médicos-Veterinários de Rua.
Como ajudar
De acordo com Ana, mesmo com a divulgação há uma semana, a lista ainda está com poucas pessoas. Todos os moradores de Porto Alegre e da Região Metropolitana que tiverem condições de oferecer lar temporário para pets resgatados podem manifestar interesse pelo canal no WhatsApp (51 99802-6980) e pelos e-mails vetsderua.poa@medicosdomundo.org.br ou medicosveterinariosderua.rs@gmail.com. Também é possível entrar em contato pelo Instagram da entidade, @vetsderua.poa.
Outra alternativa para quem deseja ajudar é consultar diretamente os abrigos. Há uma lista em GZH com diversos abrigos de animais em funcionamento no RS, em constante atualização, com os respectivos endereços dos projetos e entidades.
Cuidados necessários
Ao procurar os abrigos para oferecer lar temporário, verifique se os animais estão em boas mãos — de preferência, locais com uma equipe de veterinários atuando, para garantir a saúde dos bichinhos, e que haja formalização do processo de adoção ou encaminhamento para uma família provisória.
A orientação é da veterinária Mariana Caetano Teixeira, que é professora na Uniritter e uma das coordenadoras da ONG Médicos-Veterinários de Rua.
— O ideal é que as pessoas procurem locais que utilizem um termo de autorização, ou que tenham alguma forma de documentar esse processo. Estamos vendo pessoas aparecendo em abrigos dizendo que são tutores e não são, pessoas que buscam cães de raça para pegar. É preciso ter cuidado, muitos desses animais têm dono. A pessoa que quiser fazer lar temporário precisa se responsabilizar pelo bichinho e se comprometer a devolvê-lo, caso o tutor seja localizado — destaca.
O Centro Humanístico Vida, na zona norte de Porto Alegre, só libera para lar temporário com autorização dos tutores, por enquanto. É uma forma de garantir a segurança dos animais. No Instagram, eles divulgam imagens dos pets resgatados, na tentativa de encontrar os tutores.
— Estamos optando por segurá-los por pelo menos duas semanas, para dar tempo de serem identificados. Já houve casos de dupla identificação, de duas pessoas diferentes querendo levar o mesmo animal, alegando serem os donos. Tem muita gente se aproveitando da situação. Mas se o tutor autorizar, liberamos para lar temporário. Já tiveram muitos casos de tutores que estão em abrigos e ainda não conseguiram retirar seus bichinhos — conta o voluntário Matheus Pereira, um dos organizadores da iniciativa.
A presença de veterinários nos abrigos garante que os animais estejam saudáveis. Ao serem resgatados e encaminhados a esses espaços, os pets passam por avaliação médica e tratamento, incluindo vacinação. Assim, ficam prontos para serem encaminhados a outros locais com segurança.
Segundo a veterinária Mariana Caetano Teixeira, o lar temporário é fundamental para garantir o conforto dos animais. Muitos dos pets resgatados são idosos e têm necessidades especiais. Nos canis, por exemplo, não é possível dar atenção individualizada a todos. Também é importante ter em mente que muitos são animais que passaram por um trauma, e podem ter reações comportamentais por conta disso, além de terem sido separados de suas famílias.
— As pessoas precisam entender que esses animais estão saindo de uma situação de extremo estresse, insegurança, medo e vulnerabilidade. Alguns tiveram que nadar, ou passar dias trancados em casa sem alimentação. Vão precisar de um suporte maior do que animais saudáveis, que estão em uma condição normal. Fazer lar temporário não ajuda somente o animal, mas também uma família — ressalta a professora.
Onde encontrar animais resgatados
Diversos abrigos, ONGs e entidades voltadas à causa animal estão divulgando, pelo Instagram, fotos dos animais resgatados das enchentes, na tentativa de encontrar seus tutores. Há iniciativas em diversos municípios, organizadas pela sociedade civil.
Abaixo, confira páginas que estão realizando esse tipo de serviço.