Reunião realizada nesta segunda-feira (15) pelo Ministério da Saúde deu início ao planejamento para colocar em prática a campanha de vacinação contra a dengue, mas ainda não há uma definição de quando, onde e como ocorrerá. Previsto para fevereiro, o começo da imunização ainda precisa de alguns ajustes por conta oferta considerada baixa de doses para abranger todo o país. A farmacêutica japonesa Takeda disponibilizará 5,2 milhões de aplicações da vacina Qdenga.
O tema foi deliberado na Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), com especialistas em imunização. Segundo o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Eder Gatti, a quantidade prevista poderá, com acréscimo de eventuais doações feitas pela fabricante, chegar a seis milhões de aplicações.
— Como são duas doses, alcançaríamos apenas 3 milhões de pessoas. Vamos ter que elaborar uma estratégia com Estados e municípios para que possamos utilizar esta quantidade da melhor forma possível. Então não podemos garantir como e em quais locais começaremos a vacinação — explicou Gatti em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (15).
Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prioridade da imunização é para a população entre a faixa etária de seis a 16 anos, mas não foi definido exatamente quais a idades atendidas pela Qdenga na primeira etapa da imunização na campanha brasileira.
— A decisão final será a partir do próximo encontro da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), com especialistas, que sempre ocorre na última quinta-feira de cada mês (25 de janeiro) e, de forma técnica, escolher, dentro desta faixa etária, qual poderá ser vacinada, de acordo com a demanda dos estados e municípios — reiterou Gatti.
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março do ano passado, o Qdenga foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelo ministério em dezembro. O imunizante é o primeiro aprovado no Brasil para um público mais amplo, liberado para pessoas entre quatro e 60 anos de idade. A vacina autorizada anteriormente, Dengvaxia, só podia ser utilizada por quem já teve dengue.
Por nota, a empresa farmacêutica Takeda afirmou que o "lançamento de um novo imunobiológico exige processos de fabricação longos e complexos", que resultam em formato "de produção e fornecimento mais complexos e diferenciados com pouca flexibilidade de ajustes num curto prazo". A empresa no Brasil, no entanto, garante estar "comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina" (confira a nota na íntegra abaixo).
661% a mais de casos no RS
O anúncio ocorre após dois anos de recordes históricos de mortes pela doença no país neste século, 1.053 óbitos em 2022 e 1.094 em 2023, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O Rio Grande do Sul, que havia registrado 21 casos de vidas perdidas por conta da dengue entre 2013 e 2021, também apresentou seus maiores índices nos últimos anos (66 mortes em 2022 e 54 em 2023).
No ano passado, 466 dos 497 municípios gaúchos foram infestados pelo mosquito transmissor da dengue, Aedes aegypti.
Os dados nacionais de 2024 ainda não foram divulgados pelo Ministério da Saúde, mas segundo o painel de casos de dengue da Secretaria Estadual de Saúde (SES), atualizado na manhã desta segunda-feira (15), o RS já tem 768 casos notificados da doença, dos quais 320 foram confirmados nas duas primeiras semanas do ano.
O monitoramento dos casos do Centro de Vigilância em Saúde (Cevs) do SES apresenta um alerta para o aumento de registros da doença no período em relação a anos anteriores. Conforme painel, nas duas primeiras semanas de 2022 foram registrados 63 casos confirmados e em 2023, 42 — o que configura um aumento de 661% em 2024.
Vacina no mercado
A Qdenga, administrada em duas doses separadas por 90 dias, ainda não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas já pode ser aplicada em Porto Alegre, em farmácias e clínicas privadas de vacinação. Nas unidades consultadas por GZH, os valores para cada dose variam entre R$ 369 e R$ 440 em levantamento feito em julho do ano passado.
Nota da empresa Takeda, na íntegra:
"O lançamento de um novo imunobiológico, como é o caso da Qdenga, exige processos de fabricação longos e complexos, que inclui engenharia genética, com condições de armazenamento e transporte específicas e várias etapas de registro e importação, o que resulta num processo de produção e fornecimento mais complexos e diferenciados com pouca flexibilidade de ajustes num curto prazo. A despeito do desafio inerente ao processo de fabricação de uma vacina, a Takeda possuiu um plano estratégico para incrementar o fornecimento global da vacina e atingir a meta de 100 milhões de doses por ano até 2030 que inclui um novo centro global dedicado à produção de vacinas, em Singen (Alemanha), previsto para lançamento em 2025.
A Takeda Brasil também está comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina, alinhada às diretrizes do Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) para atender a capacidade de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) sob os princípios de integralidade e da universalidade. A empresa dará prioridade ao Brasil, além de países da América Latina e Ásia.
A companhia reitera que está comprometida em atender a demanda dos grupos prioritários que serão definidos pelo Departamento de Imunização e Doenças Imunopreveníveis (DPNI) e ao quantitativo que foi discutido junto ao Ministério da Saúde, exatamente como ocorre no início de qualquer campanha de vacinação incluída no calendário do Programa Nacional de Imunizações. O volume de doses ofertado pela Takeda para o Brasil em 2024 é um dos maiores já disponibilizados para uma campanha inicial de vacinação, considerando a antecipação do cronograma por parte do Ministério da Saúde, e a previsão é que sejam entregues 5.2 milhões de doses em 2024, entre fevereiro e novembro.
A empresa estima disponibilizar um acumulado de 50 milhões de doses do imunizante para o Brasil nos primeiros cinco anos de contrato. Isso possibilitará uma expansão progressiva das faixas etárias elegíveis e ampliação das regiões para vacinação de rotina contra a dengue."