O fato de várias cidades gaúchas registrarem surtos de dengue acende um alerta na Secretaria Estadual de Saúde (SES). Em cidades como Rodeio Bonito, onde uma parcela significativa da população foi infectada em pouco tempo, o risco é desenvolver a forma mais grave da doença em um futuro próximo.
Diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Goulart Molina Bastos explica que uma pessoa infectada pela segunda, terceira ou quarta vez tem uma chance maior de desenvolver a dengue hemorrágica — que, além dos sintomas da dengue clássica, inclui sangramento pelo nariz, boca e gengivas, entre outros.
— Quanto mais a gente tem pessoas que tiveram dengue uma vez, começamos a nos preocupar cada vez mais com os casos de dengue hemorrágica. A partir do momento em que 10% de um município já teve contato e fez anticorpos, a gente começa a pensar no que vai acontecer daqui a dois, três anos. Porque todo o sistema de saúde tem que estar organizado para responder a possíveis casos de dengue hemorrágica — explica.
A profissional também destaca a importância de os agentes de saúde estarem atentos à semelhança dos sintomas da dengue com outras doenças, como febre chikungunya e zika vírus, também transmitidas pelo Aedes aegypti, gripe e, em alguns casos, covid-19. Nos casos de dengue, logo que há a identificação do primeiro caso, deve entrar em ação a aplicação de inseticida no entorno da residência do paciente, para a eliminação dos mosquitos infectados.
— O mosquito, de forma geral, não voa muito longe. Então, é necessário que haja muitos focos, ou que as pessoas morem muito perto umas das outras, para que haja esse aumento tão significativo do número de casos — diz Cynthia.
Uma equipe da Secretaria Estadual da Saúde (SES) acompanha e monitora continuamente os casos de dengue, e pretende intensificar as medidas nas cidades mais atingidas. No entanto, o painel que aponta o número de registros da doença no Estado costuma registrar um número menor de casos do que o apontado pelas prefeituras. Conforme Cynthia, isso se deve ao fato de que nem sempre os agentes municipais conseguem atualizar o sistema – muitas vezes, devido à alta demanda atendendo os pacientes.
Comportamento do mosquito e como se proteger
O mosquito Aedes aegypti é considerado domesticado, pois costuma viver em áreas urbanas, em ambientes onde há a presença do ser humano. Apesar de a maioria das referências serem ao mosquito, é a fêmea – a "mosquita" – que pica e transmite doenças.
Cynthia explica que ela, atraída pelo cheiro, prefere o sangue de humanos ao de animais e, na maioria dos casos, a preferência é por colocar os ovos em potes plásticos do que em plantas, por exemplo – já que são associados a humanos. Os hábitos também são semelhantes ao da população:
— O hábito é parecido com o nosso. Não fica no calorão, não tem hábito noturno; prefere a transição (amanhecer ou entardecer), que é um horário mais confortável. Ela também prefere a água limpa para colocar os ovos, apesar de haver estudos de mosquitos que nasceram em águas não tão limpas assim.
Na maioria das vezes, a picada do Aedes aegypti não dói e não coça. Nas cidades onde há casos de dengue, a recomendação é usar repelente, respeitando o tempo de reaplicação, tomando o cuidado de não usar à noite, para dormir. A diretora do Cevs também recomenda o uso de telas e mosquiteiros para a proteção:
— As pessoas começam a comprar repelente, e tem que comprar mesmo, mas esquecem de telar as janelas das casas. É hora de revisar se há locais que podem ser telados (com telas milimétricas). É uma medida muito mais durável do que o repelente, e que deve ser o primeiro investimento. Faz bastante diferença. Também é recomendado usar mosquiteiros nas camas, tanto de adultos quanto de crianças.
A transmissão da dengue ocorre quando a mosquita pica uma pessoa que está com dengue. Assim, ela também fica infectada e, depois de um período, pode passar a doença adiante. Os ovos que ela colocar também darão origem a mosquitos capazes de transmitir a enfermidade.
Por este motivo, é necessário adotar medidas de prevenção que se resumem, em geral, a não deixar água parada. Em cisternas usadas para coleta de água, é necessário usar telas ou meias que impeçam a entrada do mosquito. Potes, vasos de plantas e outros recipientes não podem acumular água, e é necessário fazer limpeza frequente. Caixas d’água também devem ser vedadas.