A dengue assusta Igrejinha, no Vale do Paranhana. A cidade, com cerca de 37 mil habitantes, já tinha visto casos pontuais da doença, geralmente adquiridos em outros lugares, mas jamais havia vivido um surto. Os casos começaram no fim de fevereiro e, em pouco tempo, acumularam-se. São 696 pessoas com a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti neste ano, segundo atualização mais recente da prefeitura, feita nesta segunda-feira (21).
Dessas, cerca de 70 ainda estão com dengue. Nesta segunda, sete pessoas estão internadas na cidade em função da doença — todas com quadros leves ou moderados.
De acordo com o secretário de Saúde de Igrejinha, Vinicio Wallauer, o descontrole se deu por causa da pandemia. Com o isolamento social, os agentes de combate a endemias deixaram de entrar na casa das pessoas para fazer o trabalho de fiscalização, virando potes e baldes de cabeça para baixo, para que não acumulem água e transformem-se em criadouros dos ovos do mosquito.
— A dengue era praticamente inexistente em Igrejinha. Eram casos de pessoas que iam viajar e voltavam com a doença. Com a pandemia, as fiscalizações não foram feitas como se deveria. A gente não podia entrar nas casas para virar os potinhos — admite.
Com as atenções totalmente voltadas para a covid-19, a população também relaxou, deixando de fazer as varreduras rotineiras nas sacadas, pátios e terrenos.
— É o que a gente coloca para as pessoas: o poder público tem que fiscalizar, mas não temos como fiscalizar todos os potinhos. Se não houver contribuição da sociedade, não vamos conseguir — diz o secretário.
Esforços
Com a urgência de controlar a dengue em Igrejinha, os agentes de combate a endemias voltaram a entrar na casa das pessoas, não só para fiscalizar, mas também para passar orientações.
A população, garante eles, está atenta. Se antes havia um descaso com a doença, agora, a dengue é motivo de denúncias diárias. Tornou-se comum moradores relatarem que há entulho com água parada em pátios vizinhos.
— As pessoas estão preocupadas, mas ainda estão achando que é dever do município entrar na casa delas para checar onde há água parada. Acham que basta o município agir. Também falamos para não ficar olhando para o pátio do vizinho, que é importante que cada um cuide da sua própria residência — relata a assistente da Secretaria de Saúde Carine Eduarda Hoff, responsável por divulgar informações sobre doenças na cidade.
Os espaços públicos também são fiscalizados, como o cemitério, onde a população costuma deixar vasos de flores para os entes queridos — sem se atentar que é no pratinho de plástico que os ovos do mosquito podem vicejar.
Em março, a prefeitura adquiriu um pulverizador para espalhar larvicida pela cidade. O serviço é feito duas vezes por semana pelo Corpo de Bombeiros. Quando a máquina passa fazendo barulho pelas ruas de Igrejinha, a população fica interessada, garante o comandante Joni Rodrigues Feltes.
— Eles querem saber como funciona e se podem passar o pulverizador em casa — conta.
Sai a covid-19, entra a dengue
A enxurrada de pessoas infectadas pela dengue fez Igrejinha adiar a pretensão de desmontar a Unidade de Triagem, organizada no Centro de Eventos Prefeito Selso Flesch. O pavilhão foi erguido em 2019 para ser palco dos eventos da cidade, mas, com a pandemia, acabou ocupado por médicos e enfermeiros para socorrer quem havia se contaminado pela covid-19.
Como a vacinação freou o contágio pelo coronavírus, havia a expectativa de finalmente usar o salão para a sua finalidade. Porém, a cidade terá de aguardar, já que boa parte dos atendimentos diários da Unidade de Triagem, agora, são suspeitas de dengue.
— Agora, nos tornamos um centro de triagem para a dengue — afirma a enfermeira Raysa da Silva, que coordena os trabalhos no local.
Em média, segundo a secretaria de saúde, cerca de 100 pessoas por dia aparecem na Unidade de Triagem reclamando de sintomas como dor no corpo e febre, que caracterizam tanto a covid-19 quanto a dengue. Na manhã desta segunda-feira (21), dos 84 atendimentos realizados, 17 foram descartados, três seguiram como suspeita de covid-19 e 64 como forte indício de dengue.
Vinda de Natal, no Rio Grande do Norte, a enfermeira Raysa tem experiência em lidar com a dengue, doença que já foi mais comum no norte e nordeste do Brasil, onde é mais quente, mas que agora também se alastra pela região Sul.
Segundo ela, houve um pânico entre médicos e enfermeiros quando a doença explodiu em Igrejinha. A situação dos pacientes, no entanto, acalmou os ânimos.
— Como é algo novo, todo mundo fica assustado. Mas a grande maioria das pessoas chega com sintomas leves — diz.
Principais Sintomas
Pessoas que estão com dengue costumam manifestar dor de cabeça e febre alta, podendo sentir também dor atrás dos olhos, dor muscular, dor nas articulações, manchas vermelhas na pele, erupções na pele, náuseas, vômitos, prova do laço positiva ou baixa contagem de leucócitos. Caso a pessoa sinta qualquer desses sintomas, é necessário buscar uma unidade de saúde ou hospital.
Como evitar
O mosquito Aedes aegypti costuma se proliferar em ambientes úmidos, onde há acúmulos de água parada. Por isso, a principal recomendação das autoridades é tampar caixas d'água, não deixar água acumulada na laje, manter os lixos fechados, utilizar areia nos vasos de plantas, deixar garrafas e outros recipientes de cabeça para baixo, deixar as lonas esticadas e retirar a água dos pneus.