A queda na demanda de pacientes com covid-19 está provocando a conversão de leitos destinados anteriormente à pandemia para atender outras doenças e até o fechamento de serviços exclusivos para coronavírus no Rio Grande do Sul.
Em um mês, a quantidade de pessoas internadas com a doença caiu 50% em unidades de terapia intensiva (UTIs) e 61% em alas de enfermaria nos hospitais do Estado. Graças a esse recuo, municípios estão reorganizando suas estratégias para desafogar a demanda reprimida de outras complicações de saúde por meio de iniciativas como mutirões.
As seis maiores cidades gaúchas, consultadas por GZH, já desmobilizaram estruturas dedicadas à pandemia ou têm planos de fazer essa redução neste mês. A situação em Canoas é emblemática. A cidade da Região Metropolitana, onde vivem 348 mil pessoas, já reduziu o número de vagas em UTIs para casos de coronavírus de 137 para 117. Mas o universo de pacientes com o vírus era de apenas 20 até esta segunda-feira (2), conforme o secretário municipal de Saúde, Maicon Lemos.
— Nos últimos dias, nosso percentual de ocupação nas UTIs covid vem oscilando entre 15% e 20% — afirma Lemos.
No setor de enfermaria, existe ainda mais espaço sobrando. Havia apenas 17 doentes para ocupar um total de 168 vagas. Como resultado desse cenário, desde quinta-feira (29), o Hospital Universitário passou a concentrar todos os casos da pandemia na cidade, liberando o HPS de Canoas e o Nossa Senhora das Graças para socorrer exclusivamente outras situações. A ideia é realizar mutirões para desafogar a demanda represada pela pandemia.
— No Hospital Nossa Senhora das Graças, já estamos fazendo cirurgias até as 23h. Estamos pedindo ao Ministério da Saúde para que mantenha abertos os leitos que eram da covid para aumentarmos os procedimentos relacionados às outras doenças — diz Lemos.
Porto Alegre, conforme reportagem publicada por GZH em 21 de julho, já vinha reduzindo a oferta de vagas em UTI para covid. Além disso, na sexta-feira (30) foram encerradas as atividades da estrutura emergencial montada em março no estacionamento da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) para receber pessoas com sintomas respiratórios iniciais relacionados à covid. Ao longo de cinco meses, foram realizados 13,8 mil exames e 8,3 mil consultas. Agora, em razão da baixa procura, o serviço foi interrompido – mas pode ser retomado em caso de necessidade.
A principal razão apontada pelos gestores para o cenário atual de menor gravidade é o avanço da vacinação, que já beneficiou 57% dos gaúchos com pelo menos uma dose e 27% com esquema completo. Como o vírus ainda circula, medidas preventivas como distanciamento e uso de máscara seguem fundamentais.
Veja, abaixo, a situação em outras das principais cidades gaúchas.
Caxias do Sul
Conforme informações da assessoria de comunicação da prefeitura, o município está "avaliando a desmobilização". Por enquanto, está prevista a redução de oito leitos de UTI no mês de agosto. Na sequência, de forma gradual e de acordo com a evolução da pandemia, o impacto das mudanças será reavaliado.
De acordo com a gestão municipal, "os índices de ocupação hospitalar permanecem elevados". Em sua página de monitoramento na internet, a prefeitura de Caxias indicava ocupação de 50% nos 66 leitos de UTI covid privados e de 76% nas 58 vagas para a pandemia pelo SUS.
Pelotas
Pelotas reduziu as vagas de UTI covid de 64 para 59 em razão do recuo na demanda da pandemia nas últimas semanas e da necessidade de retaguarda de leitos para o Pronto Socorro de Pelotas, que tem registrado aumento de procura. Já a capacidade nos setores de enfermaria foi readaptada de 115 para 89 desde o começo de julho.
Com o retorno das cirurgias eletivas, os hospitais da cidade passaram a se mobilizar para atender esses procedimentos.
— Há outros pacientes não covid que também precisam de UTI — argumentou a prefeita Paula Mascarenhas em um evento online no começo do mês passado.
Santa Maria
A Secretaria Municipal da Saúde informou que, ao longo da semana passada, foi reduzido o número de leitos clínicos exclusivos para covid no Hospital Casa de Saúde com o objetivo de aumentar a quantidade de vagas para outras patologias. Por nota, a pasta observa que essa decisão "considerou que o Hospital Regional possui uma quantidade expressiva de leitos clínicos para covid-19 que já dão suporte aos pacientes que necessitam".
Conforme a assessoria de imprensa da Casa de Saúde, seis dos 14 leitos de coronavírus foram convertidos para atender outros pacientes. Na tarde de segunda-feira (2), havia apenas uma pessoa internada com diagnóstico confirmado para o novo vírus no estabelecimento.
Gravataí
Criado em junho do ano passado, o Hospital de Campanha de Gravataí será fechado. Segundo nota divulgada nesta segunda-feira (2) pela prefeitura, a decisão foi tomada diante da baixa procura por atendimento e a expectativa de imunizar todo o público vacinável da cidade.
* Colaborou Karine Dalla Valle