O isolamento social decorrente do distanciamento adotado em muitas cidades no início da pandemia foi tido como essencial na tentativa de "achatar a curva" de infecção pelo coronavírus no país. Por volta de março de 2020, a ideia geral era de que, evitando-se ao máximo sair de casa, a disseminação da covid-19 seria menor e o vírus não demoraria tanto para ir embora. Mas, com o tempo, também se viu que o coronavírus ganhava força e, ao mesmo tempo, o isolamento prolongado cobraria um preço à saúde física e mental dos brasileiros.
Muitas dessas recomendações permanecem, mas se convencionou adotar, em vez do isolamento e da recomendação de total confinamento, o chamado distanciamento social – um conceito que dava conta, por exemplo, das vantagens de eventualmente se recorrer às atividades ao ar livre, em condições sanitárias adequadas, para cuidar da saúde e também contribuir, assim, para diminuir o número de casos graves e a necessidade de internação nos demandados sistemas de saúde.
A prática, inicialmente, dividia a classe médica. Alguns acreditam que fazer exercícios fora de casa era submeter a si mesmo e aos outros a um risco desnecessário; outros acreditavam que a prática podia ser benéfica, respeitando-se as orientações de distanciamento social.
Passados os primeiros meses de pandemia, a infectologista Raquel Stucchi, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que se convencionou entender que o benefício de uma caminhada, por exemplo, "é imenso":
— A prática de atividades ao ar livre que não levem a aglomerações, respeitando o distanciamento social, não aumenta consideravelmente as chances de infecção pelo coronavírus.
Desde o início, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ressaltou a importância de se manter ativo durante a pandemia e deu uma série de sugestões de como se exercitar dentro de casa. Mas também orientou aqueles que "tiverem condições de sair para uma caminhada ou para andar de bicicleta" que não esqueçam de manter o distanciamento social e lavem as mãos com água e sabão antes de sair, quando chegarem ao local e assim que retornarem para casa: "Se água e sabão não estiverem imediatamente disponíveis, use álcool gel."
Exercício em casa
Também ganhou popularidade a opção, mais segura – ainda que mais limitada – de se fazer exercícios em casa. A instrutora Bianca Vilela, mestre em fisiologia do exercício, explica que é importante, ainda que muito desafiador, manter uma rotina de atividades físicas dentro de casa. Ela cita o próprio espaço físico, além dos acessórios e a variedade de atividade física, como questões que dificultam a prática e influenciam no resultado. Ainda assim, em razão da preocupação sanitária, ela recomenda essa alternativa:
— A gente tem que pensar na segurança, realmente. Se a gente pensar em um ambiente de academia, é mais ou menos como ir ao mercado com todo mundo junto, respirando no mesmo lugar e com o agravante da transpiração. Se a gente pensa em segurança, é claro que existe um receio, pois aumenta muito a chance de contaminação — pondera Bianca.
Uma máscara é recomendada durante os exercícios físicos ao ar livre como barreira física contra a exalação de gotículas para não contaminar outras pessoas
MELISSA MARKOSKI
Especialista em biossegurança
Praticante de atividades físicas regulares há anos, o bancário Luiz Alberto Quadros, 42 anos, conta que procurou adaptar sua rotina de exercícios em casa, e assim ficou durante meses em 2020. Mas, com o passar do tempo, sentiu muita falta de sair ao ar livre, e viu como benéfico correr em espaços bem amplos em vez de ficar confinado em casa
— Eu corro sozinho, longe de todo mundo. Saio e volto para casa, sem outras paradas. Para mim, é um alívio, e não vejo como algo potencialmente perigoso, desde que a gente tome todos os cuidados — conta Luiz.
Também é com cuidado que Emerson Oliveira, 33 anos, conhecido como Somtoproller – por conta dos patins do tipo Roller que usa diariamente na Orla do Guaíba, em Porto Alegre –, movimenta-se pelas ruas.
— Eu pratico esporte com frequência, todos os dias, há três anos. Fiz quarentena quando necessário, mas toda oportunidade que tenho para me exercitar ao ar livre, eu tento aproveitar. Sempre de máscara e mantendo o distanciamento — explica.
No caso dos esportistas amadores e em todas as situações que envolvam sair de casa, especialistas seguem alertando que um dos maiores aliados para a prevenção da disseminação do coronavírus continua mesmo sendo a máscara:
— Uma máscara de tecido é recomendada durante os exercícios físicos ao ar livre como barreira física tanto contra a exalação de gotículas para não contaminar outras pessoas quanto como uma barreira contra as gotículas exaladas por pessoas que cruzem por você durante uma caminhada ou corrida — explica a especialista em biossegurança Melissa Markoski, da Rede Análise Covid-19.
Dicas de segurança para praticar exercícios ao ar livre
Confira uma lista com as orientações de órgãos de saúde e profissionais da medicina:
- Evite aglomeração: faça exercícios sozinho. Se puder, faça em horários alternativos, de menor movimento.
- Guie-se pela percepção de esforço, pois a máscara prejudica a prática de exercícios mais intensos.
- Não compartilhe aparelhos ou bebedouros e leve sua própria garrafa de água.
- Mantenha distância de outras pessoas.
- Leve uma máscara extra, caso a sua molhe de suor.
- Ao chegar em casa, troque a roupa e o sapato. Higienize sempre as roupas usadas na rua.
- Se estiver com algum sintoma gripal, evite praticar exercícios ao ar livre nesse dia.