Apesar da baixa movimentação das últimas semanas, ruas e parques da Capital têm recebido um personagem cada vez mais comum em tempos de pandemia: o desportista solitário. Ao longo do dia, à noite e às vezes até de madrugada é possível ver pessoas praticando caminhada, corrida ou alongamento em diferentes bairros da cidade. Com academias de musculação e outros estabelecimentos fechados, muitos porto-alegrenses têm apelado para os exercícios ao ar livre para evitar o sedentarismo.
Com exceção dos idosos, que têm a circulação restrita por decreto municipal, não há legislação que proíba os cidadãos de sair de casa para praticar esportes individuais. Porém, o cerco à atividade vem se fechando — diferentes autoridades estão alinhadas ao recomendar que, se possível, o melhor é não sair de casa.
Alguns casos extremos de restrição a desportistas solitárias já foram registrados ao redor do mundo nas últimas semanas. Na Espanha, onde a população só pode sair de casa para ir ao trabalho ou comprar mantimentos, vizinhos de uma corredora flagraram em vídeo o momento em ela que resistia à prisão por quebrar as regras de isolamento. Enquanto a esportista gritava por socorro, pessoas a ofendiam da janela e apoiavam os policiais.
Já no Brasil, em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil afirmou nesta segunda-feira que as pessoas que saem para caminhar e correr são "egoístas e irresponsáveis".
O Ministério da Saúde, que no início da pandemia estimulou a população a caminhar em parques, tem sido mais restritivo em suas considerações. Nesta segunda, o ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que "a pessoa pode fazer uma caminhada", mas também ponderou que "o máximo possível que puder não expor sua família, seu núcleo familiar, melhor".
Em Porto Alegre, a Secretaria de Saúde faz coro à afirmação do ministro.
— A frase de Mandetta foi muito oportuna. Se for indispensável que a pessoa saia, porque às vezes precisa sair para fazer atividade física para espairecer, que seja sozinho. Mas a recomendação geral é ficar em casa, fazer isolamento social — afirma Anderson Lima, diretor da Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Porto Alegre.
A Secretaria Estadual de Saúde também tem uma orientação similar, conforme divulgado em nota:
— Para a prática de atividade física ao ar livre, há outras situações nas quais a pessoa precisa ter cuidado, em relação a locais onde outra pessoa com a doença possa ter contaminado, como elevador do prédio, corrimão da escada, transporte, local da prática do exercício, etc. Por isso, a orientação é para que essa prática não seja temporariamente realizada. Assim, a pessoa não precisa sair de sua residência e não se expor a possíveis locais ou pessoas contaminadas.
Já o médico André Luiz Machado da Silva, infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, considera que "a atividade física aeróbica contribui no equilíbrio do sistema imunológico". No entanto, aponta cuidados para quem insistir em praticá-la ao ar livre:
— Praticar atividade física ao ar livre, sozinho e sem paradas em parques ou praças, para complementar com exercícios estáticos em barras ou aparelhos, não coloca em risco aquele que pratica ao contágio por vírus respiratórios. O importante é manter os cuidados de não levar as mãos ao rosto se tocou em alguma superfície e não realizar exercícios se apresentar sintomas respiratórios. Além disso, não recomendamos as atividades coletivas.