O Ministério da Saúde dividiu a coletiva diária para tratar sobre o coronavírus com outros ministérios pela primeira vez em dois meses. Nesta segunda-feira (30), Luiz Henrique Mandetta esteve ao lado de outros cinco representantes para atualizar dados da doença no Brasil e explicar ações do governo federal para combater a pandemia.
A coletiva foi conduzida pelo ministro chefe da Casa Civil, General Braga Netto, que, durante o encontro, ressaltou que Mandetta permanece no cargo. A afirmação ocorreu quando jornalistas questionaram as divergências entre o ministro da Saúde e o presidente Jair Bolsonaro.
O médico, por sua vez, explicou que tensões na busca por soluções são normais, mas que o foco deve ser proteger a população.
— Seria muito pequeno da minha parte eu pensar que este é meu grande problema (postura de Bolsonaro). Quando a gente fala pra não perder o foco, o foco é este vírus corona novo que derrubou o sistema mundial. Ele é mais dramático que as guerras mundiais e qualquer coisa anterior — destacou, acrescentando:
— O vírus ataca economia, sociedade, políticas sociais, dinâmica social, transporte, bolsa de valores, ataca tudo. É sistêmico. A saúde é um norte, um farol. Enquanto não temos uma resposta mais cientificamente comprovada, a saúde vai falar “para e vamos evitar o contágio”. Isso não é ser bom ou mau, é nosso instinto de preservação.
Ao mesmo tempo, lembrou das boas ações que estão acontecendo ao longo da contenção da pandemia no Brasil. Mandetta pediu desculpas pelas críticas à cobertura jornalística, feitas na coletiva do último sábado.
— Ficaram bravos comigo porque fiz comentário sobre os meios de comunicação. E eu peço desculpas. A gente erra e sabe quando erra, mas sempre procura, todo mundo, levar a melhor informação — ponderou, e explicou sua opinião em um tom mais otimista:
— O momento é de exigir grandeza para todo mundo. Temos que respirar fundo, viver isso e passar adiante. Vamos vencer. Temos pacientes curados, temos idosos sendo vacinados, temos um exército de solidariedade sendo montado no país. Tem empresariado ligando para perguntar o que que ele pode fazer. É isso que tem que acontecer. O que cada um pode fazer para o Brasil passar na frente? Não esperar o que o ministro ou o presidente podem fazer, vamos fazer nós. Nessa hora não tem rico, pobre, PT, PCdoB, PMDB, DEM, não tem, acabou. Agora é mirar e passar por isso da melhor maneira possível.
O ministro ainda ressaltou, mais uma vez, a importância de seguir com o isolamento social. Ele disse não considerar diferenças entre os chamados isolamentos vertical ou horizontal, e citou países que tenham adotado as duas estratégias para fazer um alerta:
— Nós estamos sempre na frente do vírus. Essa parada que demos para que o turbilhão não acontecesse todo de uma vez, nós só vamos colher os frutos ainda ali frente, na próxima semana. Quando faz a paralisação, os casos que já vinham acontecem. Quando você para hoje, o que você fez nos 14 dias anteriores é que se reflete nas duas semanas. Essa paralisação de agora de duas semanas, vamos ver resultados lá na frente. Se fizer como Itália e Espanha que suspenderam medidas no ápice do isolamento, a epidemia vai seguir seu curso. E pode acontecer aqui, e pode acontecer em Nova York.
Programas sociais do governo
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, comunicou a inclusão de mais 1,2 milhão de famílias no Bolsa Família, chegando a um montante de 14 milhões de beneficiados no país. Ele ainda pediu atenção dos que recebem as ajudas financeiras governamentais para que não sejam vítimas de golpes. O auxílio de R$ 600 para trabalhadores será concedido através dos cadastros federais, e a troca de informações também deve ocorrer somente nos canais oficiais.
— Não se dirijam às agências de banco, pois o sistema ainda não está implantado. Tenham calma. Não deem seus dados para qualquer pessoa ou site que diga que por lá vai receber o benefício — aconselhou.
— O mais importante é darmos agilidade e segurança a estes processos — disse o ministro gaúcho.
Logística
O ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, destacou a organização das malhas aéreas e rodoviárias para auxiliar o Ministério da Saúde na distribuição de materiais pelo país.
— Temos 46 localidades do Brasil atendidas com serviço de transporte aéreo por meio das principais companhias aéreas do país. Condensamos a pouca demanda de cada uma, fazendo com que cada trecho fosse executado por uma companhia — comentou.
Decisões judiciais
André Luiz de Almeida Mendonça, ministro da Advocacia Geral da União (AGU), destacou a observação dos parâmetros legais necessários em cada um dos decretos federais publicados pelo presidente Bolsonaro. Mendonça ressaltou a importância do funcionamento das casas lotéricas para os usuários dependentes do serviço.
— Lotéricas são imprescindíveis para a população, sobre tudo a de baixa renda. É ali que ela paga suas contas de água e luz, e ali que recebem o bolsa família. Se não tiver lotérica essa gente não vai ter água e luz, não vai ter dinheiro para comprar comida — afirmou.
Mesa dividida
O chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, tenente-brigadeiro do ar Raul Botelho, abordou as ações executadas pelo Exército brasileiro no auxílio de campanhas de vacinação e controle das fronteiras internacionais.
A última pergunta feita por um repórter indagava aos ministros se a ação do presidente Bolsonaro de sair em caminhada por Brasília, no domingo, era prejudicial ou não ao combate da pandemia. Ela não foi respondida, sob a justificativa de que o tempo reservado para perguntas já havia se esgotado.