Nesta quarta-feira, 10 de março, faz um ano a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Rio Grande do Sul. No meio dos incontáveis números e histórias do ano que passou, GZH selecionou personagens marcantes retratados ao longo de 2020. Agora, eles nos contam como estão um ano depois, o que mudou nas suas vidas e como enxergam o período atual de crise na saúde. Conheça a história de Silza Tramontina, 66 anos, a primeira paciente grave de covid-19 do Hospital Moinhos de Vento (HMV) a ter alta.
A conversa com uma médica do HMV é a última lembrança que Silza tem do período que antecedeu sua entubação, na UTI da instituição, em abril de 2020. Dias depois, ainda entubada e com a sedação reduzida, recorda-se de ver uma televisão por perto, que na verdade era o chamado kart de telemedicina, usado pelo hospital para a comunicação dos doentes com os familiares:
— Tinha a minha família na TV. Eu não os via nesse período, mas eles me viam todos os dias por videochamada. Só pensava: "Não vou conseguir falar". Todos ficaram contentes quando eu mexi o pé.
A psiquiatra teve alta em 24 de abril. Contaminada em 20 de março, logo no começo da pandemia, Silza começou a ter sintomas na noite do dia 23, uma segunda-feira. Sentia um cansaço enorme, tinha um pouco de febre e estava ofegante. Na manhã seguinte, fez a coleta do PCR no Hospital de Clínicas, onde trabalha, e recebeu a orientação para ficar em casa e, em caso de piora, ir a um hospital.
— Vim para casa e fiquei cada dia mais cansada. Não sentia gosto nem cheiro. Zero apetite. No sábado, acordei muito mal, não conseguia me mexer, e me dei conta: estou morrendo por asfixia — recorda.
O agravamento do quadro levou Silza ao HMV, onde prontamente foi hospitalizada. Passou quatro dias em um leito clínico usando oxigênio, antes de ser transferida para a UTI em razão da baixa na saturação. Um pouco antes de passar pelo procedimento de entubação, teve a conversa citada no começo deste texto.
— Ela disse que poderia me entubar, me pronar, mas que eu não me assustasse, pois me sedariam. A última coisa que lembro é essa conversa, e apaguei — recorda.
Foram duas semanas entubada e um total de 28 dias no hospital. Quando deixou a UTI rumo a um quarto, foi festejada com vídeos, balões e aplausos de toda a equipe. A recuperação completa levou meses. Silza precisou de fisioterapia e, ainda hoje, descreve algumas sequelas da infecção.
— Saí de fralda do hospital, sem caminhar, sem comer e precisando de ajuda para tudo. Hoje, tenho um pouco de fraqueza e não sinto cheiro maravilhosamente bem. Mas a função pulmonar está ótima, me sinto bem — relata.
Perto de completar um ano da hospitalização e de toda a experiência negativa, a médica avalia o que tirou desse período pelo qual passou:
— A vida ficou supersimples. Não esquento com mais nada, meu parâmetro mudou. Nenhum problema é problema, tudo é transponível. A segunda coisa positiva foi encontrar as pessoas depois e descobrir que elas estavam torcendo e rezando por mim. Foi uma experiência impressionante.