Nesta quarta-feira, 10 de março, faz um ano a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Rio Grande do Sul. No meio dos incontáveis números e histórias do ano que passou, GZH selecionou personagens marcantes retratados ao longo de 2020. Agora, eles nos contam como estão um ano depois, o que mudou nas suas vidas e como eles enxergam o período atual de crise na saúde. Conheça a história da motogirl Ana Paula Provensi de Moraes, 41 anos, representante de uma categoria essencial no dia a dia da pandemia e que buscou uma forma de levar produtos mais saudáveis aos seus clientes.
No início da pandemia, em 2020, Ana Paula foi infectada pelo coronavírus e se afastou 15 dias das suas atividades como motogirl. Quando retornou ao trabalho, se viu pensativa em frente a uma lancheria, onde um funcionário preparava um xis enorme na chapa: "Como as pessoas de 80 anos vão passar comendo delivery de fast food?", se perguntou, à época.
Habituada a ter uma alimentação saudável, com muitas frutas e verduras, a profissional se deu conta de que poucos serviços de telentrega ofereciam alimentos saudáveis à população. Por outro lado, o governo incentivava a permanência das pessoas em casa, tornando esses produtos menos acessíveis.
— Tem que oferecer um serviço que vá realmente abastecer a população, e não é com cachorro-quente que a gente faz isso. Precisamos aumentar a imunidade com produtos saudáveis — defende.
Foi então que decidiu começar o que chama de "trabalho de formiguinha". Pediu afastamento da cooperativa na qual trabalhava e montou a Frutaria Provensi, um serviço de fruteira delivery.
— Peguei meu pagamento daquela semana, tirei valor do combustível e fui pra Central de Abastecimento (Ceasa). Criei a página no Facebook e comecei a fazer publicações — relembra.
Na sala de casa, Ana Paula montou seu QG, onde separa e pesa os produtos recebidos dos fornecedores. Para fazer as entregas em Alvorada, Porto Alegre e Canoas, conta com mais uma moto, que auxilia no atendimento aos clientes conquistados neste período, a maioria por indicação. Com uma clientela fixa, Ana Paula diz que atende pessoas de todas as condições financeiras, desde os mais humildes até aqueles com maior poder aquisitivo.
Além do seu próprio negócio, ela voltou, em dezembro, para a cooperativa, onde trabalha fazendo a roteirização das entregas prestando serviço de apoio. Coordenando as equipes que fazem o serviço para um grupo de restaurantes, ela fiscaliza os cuidados dos motoboys: cobra uso de máscaras, higienização das mãos e respeito às normas de distanciamento social dos funcionários.
Na segunda-feira (8), quando atendeu à reportagem, caiu em lágrimas ao lembrar dos colegas internados e até sepultados recentemente, vítimas de covid-19:
— Estamos muito tristes. Nossos colegas estão morrendo. Enterramos um na semana passada, extubaram outro na quinta. Estamos muito expostos, trabalhamos mais de 12 horas por dia, entramos em contato com mais de 40 clientes. Temos noção de que nosso serviço é essencial, não pretendemos deixar a sociedade sem serviço, mas estamos preocupados.
Mesmo exposta, Ana Paula segue firme no seu propósito de entregar um pouco mais de saúde e qualidade de vida à população. Afirma que, melhor que o dinheiro que recebe no seu negócio, é ver a satisfação estampada no rosto dos clientes.
— As pessoas têm que olhar pra dentro e pensar: o que eu posso fazer para ajudar? — sugere.