Nesta quarta-feira, 10 de março, faz um ano a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Rio Grande do Sul. No meio dos incontáveis números e histórias do ano que passou, GZH selecionou personagens marcantes retratados ao longo de 2020. Agora, eles nos contam como estão um ano depois, o que mudou nas suas vidas e como eles enxergam o período atual de crise na saúde. Conheça a história do professor Marcelo Azevedo, 50 anos, que teve de se adaptar à nova realidade do ensino a distância nas escolas.
Com uma experiência de mais de duas décadas ensinando alunos, Azevedo, com 22 anos de profissão, pode dizer que aprendeu muito com 2020. Professor referência do Programa Horizontes e supervisor pedagógico da rede infantil do município de Esteio, ele é um exemplo da adaptação que os educadores precisaram realizar para enfrentar as limitações impostas pela pandemia, tanto no âmbito pessoal como no profissional.
Em virtude da suspensão das aulas presenciais, Azevedo, que é formado em Filosofia, passou a acompanhar alunos da 1ª à 5ª série do Ensino Fundamental fazendo a mediação de todos os componentes curriculares, ou seja, auxiliava as crianças com todas as lições propostas pela escola.
— O Programa Emergencial de Educação foi instituído com a finalidade de oferecer para um conjunto de alunos um apoio institucional, pois são famílias de alta vulnerabilidade social, que tinham dificuldade de ter o acesso remoto proposto — explica.
De junho até dezembro, quando o programa terminou, Azevedo manteve a tarefa de "professor visitador", percorrendo a casa de cada um dos 13 alunos que acompanhou ao longo da atividade. Quando começou esse processo, lembra, dava suporte a 10 crianças. Com o passar do tempo, recebeu mais três estudantes, e orgulha-se da evasão zero que conseguiu.
— Foi uma recompensa muito grande, mas muito por conta das relações que procurei manter, de estar próximo da realidade deles — avalia.
Nos seis meses de trabalho de porta em porta, o docente compartilhou xícaras de café, copos de água e quaisquer outros agrados que as famílias, mesmo com dificuldades, tivessem para oferecer. Os gestos singelos, diz, aliviavam um pouco o peso de perceber, dia após dia, o quanto a pandemia estava afetando aquelas pessoas.
— Difícil foi perceber o empobrecimento dessas famílias. A pandemia reduziu a condição de vida dessas crianças. É um exercício muito grande. Não que eu não tivesse prática com os vulneráveis, mas ver o empobrecimento latente dia a dia é algo impactante — destaca.
A grande lição, para Azevedo, foi de que vale muito a pena acreditar na solidariedade.
— Ela parece uma palavra batida, sem eco em determinados momentos, mas manter viva a sua chama nos faz mais fortes, nos faz sentir mais gente. A pandemia nos isolou, nos trouxe recrudescimento para as condições de vida, mas foi grande prova do quanto podemos exercer nosso senso de superação e manter a humanidade acesa — arremata.