"Parece que voltei ao meu ritmo normal depois de ter covid-19"
Dia 29 de setembro: 6h08min
"Passou mais de um mês desde que tive covid-19. Retornei ao trabalho depois de duas semanas afastada.
O começo ainda foi um pouco difícil porque eu ainda tinha muita fadiga para fazer as atividades e me sentia muito distraída, mas aos poucos isso foi diminuindo.
Agora, sinto pouco cansaço só para fazer exercícios mais intensos. Parece que voltei ao meu ritmo normal no trabalho.
O alívio de ter passado por isso é muito grande, não sentir mais aquele desconforto.
Por mais que a gente trabalhe a questão da empatia no nosso dia a dia para poder lidar com o paciente, não tem como isso não se intensificar depois de ter passado pela doença. Passo a entender muito mais do que os pacientes se queixam depois de também ter sentido aquilo."
"Virei paciente: meus dias com a covid-19"
Dia 10 de setembro: 9h52min
"Nas últimas semanas, o meu Diário do Front acabou virando Diário dos Bastidores. Mudei meu lugar na situação e, em vez de médica, virei paciente.
Há mais ou menos três semanas, numa sexta-feira, comecei com coriza, espirros. Achei que era apenas a minha rinite, relacionada ao uso da máscara com tanta frequência, e não dei muita bola. No dia seguinte, acordei com dor de garganta, um pouco mais de secreção no nariz, um pouco de tosse seca, dor no corpo e dor de cabeça.
Nesse momento, os sintomas já me chamaram mais a atenção e suspeitei que pudesse ter sido infectada pelo coronavírus. Continuei em isolamento e, no dia seguinte, busquei atendimento para coletar o exame de PCR. Deu positivo.
No terceiro dia de sintomas, eu continuava com dor no corpo, tinha um pouco de dor de cabeça, continuava com a secreção nasal, e aumentou a tosse. No quarto dia, comecei a notar um pouquinho de diferença para sentir o cheiro e o gosto das coisas. Não perdi totalmente (os sentidos), mas parecia que estava tudo um pouco sem graça. Não sentia (cheiro e gosto) tão intensamente como antes.
No meu quinto dia de sintomas, comecei a apresentar um pouco mais de prostração, me senti mais desanimada. Continuava, ainda, com dor no corpo, dor de cabeça, tosse, um pouco de secreção nasal. Não tinha mais desconforto na garganta, mas comecei a me sentir um pouco mais inapetente também. Não tinha muita vontade de comer. Comecei a ter febre. Tive febre durante três dias, mas cedia rápido com medicação antitérmica.
No meu sexto dia, piorou apenas a tosse seca. Melhorou parcialmente aquela dor no corpo. No sétimo dia, a tosse aumentou um pouco mais, e a fadiga já estava também mais evidente. Comecei a sentir cansaço para fazer pequenas caminhadas dentro de casa e precisei de medicação para a asma para as crises de tosse.
A partir do meu oitavo dia de sintomas, passei a ter desconforto abdominal. Toda vez que comia ou bebia alguma coisa, sentia que a barriga estufava. Era um desconforto bem grande, começava a me dar náusea junto, uma vontade de pôr tudo que estava no estômago para fora.
No 10º dia, precisei buscar atendimento na emergência. Como não estava conseguindo nem comer nem beber, me sentia mais fraca ainda. Precisei receber medicação, soro de hidratação. Melhorei e fui para casa.
No dia seguinte, os sintomas persistiram. Voltou tudo de novo. Voltei para a emergência, e cogitaram a possibilidade de internação, mas eu não queria aceitar que estava precisando e que estava me sentindo mal. Não quis ficar. Teimosa, fui embora para casa.
No terceiro dia depois de ter ido para a emergência, precisei voltar, mais uma vez, porque os sintomas continuavam. As medicações pela boca voltavam, não dava tempo de fazerem efeito. Tive que ser internada para ficar mais tempo recebendo a medicação e a hidratação, até tudo voltar ao normal.
Fiquei internada durante dois dias. Consegui melhorar. Tive alta e voltei a comer, a não ter mais o desconforto. Aos poucos, parece que tudo foi melhorando.
O maior mal-estar que tive, que foi relacionado não só à vontade de vomitar mas também pela desidratação, melhorou muito. Isso melhorou bastante meu ânimo também. Aquela prostração acabou passando.
Agora, a única coisa que sinto ainda é um pouco mais de fadiga. Percebo que ainda canso para fazer alguns esforços, mas não é falta de ar. A tosse melhorou, tenho poucas dores no corpo e bem de vez em quando. Não tenho mais dor de cabeça ou outros sintomas de resquício. Percebo, às vezes, que ainda estou um pouco distraída. Pode ter sido, talvez, por ter ficado tanto tempo em casa, e eu não sou uma pessoa que costuma ficar muito tempo parada.
A sensação de impotência, o medo do que pode acontecer, ter de aceitar que não estava me sentindo bem, para mim, foram bastante difíceis. Sou uma pessoa que gosta muito de ter o controle da situação, de racionalizar para tentar ser mais eficaz, mais eficiente, e não estava conseguindo fazer isso no meu caso. Realmente, me coloquei na posição de paciente e não conseguia pensar como médica para mim mesma naquele momento.
Fiquei bastante irritada por estar ruim e perceber que não melhorava, que estava demorando para me recuperar, apesar de saber que esse é o tempo da doença. Mesmo atendendo os pacientes com esses sintomas, quando a gente está sentindo é completamente diferente, não tem como negar."
"Paciente se sentiu culpada por ter levado o coronavírus à casa dos pais"
Dia 11 de agosto: 10h03min
"Há algumas semanas, uma jovem chegou ao pronto-atendimento se queixando de falta de ar. Passou pela avaliação inicial com a Enfermagem — não tinha nenhuma alteração nos sinais vitais — e pela consulta médica.
Assim que ela entrou no consultório, começou a chorar. Não conseguia me contar o que estava acontecendo. Passados alguns minutos, ela conseguiu me contar. Cerca de 10 dias antes, ela tinha se encontrado com duas amigas. Nenhuma delas com sintomas, mas uma havia feito o exame a pedido da empresa onde trabalhava.
Dois dias depois, essa jovem que atendi foi passar o fim de semana com os pais, que moram em outra cidade. No dia seguinte, ela recebeu a informação de uma daquelas amigas com quem tinha se encontrado: o exame coletado pela empresa tinha vindo positivo. A amiga a orientou a também fazer o exame, já que tinham tido contato tão próximo.
Imediatamente, ela foi fazer o exame. Entrou em contato com os pais, para que eles também fizessem. Cerca de quatro dias depois, ela recebeu o resultado dela: positivo. No dia seguinte, saiu o resultado dos pais, e ambos também estavam positivos para o coronavírus.
Assim que ela soube o resultado dos pais, começou a se sentir muito ansiosa e buscou atendimento, com a queixa de falta de ar. Nem ela, nem os pais haviam apresentado qualquer sintoma respiratório ou gripal até aquele momento, mas ela estava com medo do que ainda poderia ter — mais pelos pais do que por ela. Estava se sentindo culpada por ter tido contato com pessoas positivas e ter levado o coronavírus até a casa dos pais.
Em poucos minutos, conversando, tirando dúvidas e recebendo orientações, o choro parou, e a falta de ar também foi embora."
"No momento em que paciente precisava de um abraço, ela teve que ficar em isolamento"
Dia 5 de agosto: 23h41min
"Quando a gente trabalha na Emergência, em esquema de plantão, assim como eu trabalho, é muito difícil atender novamente algum paciente que a gente já tenha visto em um atendimento anterior, mas hoje consegui rever uma paciente que tinha atendido duas semanas atrás.
Uma paciente jovem, que tinha sintomas gripais de início recente, passou pela coleta do exame para pesquisa de covid-19 para poder avaliar se era esse o quadro dela, e o exame veio positivo.
Ela tomou todos os cuidados de isolamento e usou todas as medicações sintomáticas que precisava, em casa, e evoluiu bem. Contou que foram duas semanas bem difíceis, nas quais ela sentiu muita dor no corpo, dor de cabeça, cansaço. Teve tosse, falta de apetite, um desânimo muito grande e mal conseguia sair da cama.
Mas o que mais a incomodou, nesse período todo, nem foram esses sintomas físicos, e sim o medo e a angústia que ela sentiu quando soube que o resultado do exame era positivo. E, bem no momento em que ela queria um colo, precisava de um abraço, ela também precisava ficar em isolamento.
O importante é que ela superou essa fase ruim e agora vem melhorando a cada dia.
Fico feliz com a recuperação de cada paciente."
"Avaliação inicial do paciente na Emergência pode identificar sinais de gravidade"
Dia 3 de agosto: 23h34min
"Quero falar um pouquinho sobre o pronto-atendimento da nossa unidade para covid-19. Fica no piso térreo do Pavilhão Pereira Filho, um dos prédios do complexo hospitalar da Santa Casa.
É um lugar direcionado para o atendimento de pessoas com diagnóstico confirmado ou suspeito de infecção por covid-19.
Então, chegam pessoas com sintomas gripais, tosse, coriza nasal, dor de garganta, dor de cabeça, dor no corpo, febre, falta de ar — ou até pessoas que não têm sintoma nenhum, mas que tiveram contato direto ou sem proteção com uma pessoa que já tenha a infecção por covid-19.
Chegando ali para atendimento, o paciente vai primeiro passar por uma avaliação com a equipe da enfermagem. Nessa avaliação, ele vai ser classificado para o atendimento médico.
É nessa avaliação inicial que, muitas vezes, a equipe da enfermagem acaba identificando algum sinal de gravidade e sinaliza a um médico de plantão. Assim, ele pode orientar se tem alguma medida necessária, naquele momento, a ser feita pelo paciente.
Como em qualquer outro atendimento da Emergência, o paciente vai passar por consulta com um médico, vai ser examinado. Se necessário, podem ser feitos exames complementares, como de laboratório e de imagem, inclusive o teste de PCR para detecção do coronavírus, que é aquele com o uso de uma haste com algodão na ponta que é introduzida pelas narinas e também na garganta."