Com a proximidade do esgotamento dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) começou a divulgar, na quinta-feira (23), o número de pessoas na fila por uma vaga nesse setor em hospitais públicos e privados e a quantidade de pacientes que usam respirador artificial na emergência.
Os dados são novidade porque não estavam disponíveis ao grande público e porque, agora, a própria prefeitura passa a controlar a fila também de hospitais privados, e não apenas públicos.
Os dados até as 14h15min desta sexta-feira (24) indicavam que havia 13 pessoas com coronavírus em leitos de emergência no aguardo de uma vaga em UTI e 21 pacientes sem covid-19 à espera de uma cama "normal". O número está dentro da média, segundo a prefeitura. Contudo, a fila real é maior. Os números não mostram a importante fila em unidades de pronto-atendimento e hospitais menores da Região Metropolitana, que também chegam aos grandes hospitais da Capital.
A existência de uma fila de pessoas à espera de atendimento em UTI ocorre desde sempre, em função do tempo necessário para a logística de transferência, explica o médico epidemiologista e secretário-adjunto da Saúde da Capital, Natan Katz. Há um caminho entre solicitar uma vaga, eleger um hospital e alocar o paciente.
Apesar de hospitais porto-alegrenses já terem ficado sem vaga para pacientes com coronavírus nos últimos dias, a cidade ainda não esgotou sua capacidade de atendimento. A previsão é de que isso ocorra em 8 de agosto, conforme projeção da prefeitura.
Hoje, um paciente com ou sem coronavírus internado aguarda, em média, 13 horas para ir a uma UTI – segundo o secretário, uma média que corresponde à normalidade. Se a fila de pessoas aumentar nos próximos dias, é sinal de que o tempo de espera também cresce, o que pode resultar em maior mortalidade da população.
— Como começamos a chegar em um momento de maior dificuldade de disponibilidade de leitos de UTI, quisemos ver quantas pessoas estão no aguardo de leitos. A gente conseguia observar isso em hospitais públicos, mas não em privados. Sempre houve uma média de 30 pacientes esperando por leito de UTI, mas a questão é enxergar um gargalo que não era visível quando chegarmos perto da capacidade máxima de UTIs — afirma.
O número de pessoas em emergência que usam respiradores mecânicos fora da UTI também importa porque a necessidade do aparelho é um dos principais motivos que levam uma pessoa com coronavírus para um leito de tratamento intensivo. Um aumento nesse indicador pode denotar uma futura necessidade de vaga em UTI.
Até o início desta tarde, havia 324 pacientes suspeitos ou confirmados para coronavírus em UTIs porto-alegrenses – no total, há 786 leitos adulto para todo tipo de doença na cidade. A lotação atual é de 88,8%, uma taxa que só não ultrapassou os 90% porque, nesta semana, a Santa Casa de Misericórdia inaugurou 17 leitos.
O secretário-adjunto da Saúde ainda destacou que a cidade vê uma curva de crescimento menor na ocupação de leitos de UTI nas últimas semanas. Mas, a exemplo de outros analistas, ele afirma que ainda é muito cedo para afirmar que Porto Alegre chegou ao platô (fim do crescimento seguido de estabilização) e que é preciso esperar mais alguns dias para avaliar se isso é, de fato, uma tendência.
— Olhando a foto de hoje, os indicadores sugerem que temos menor velocidade de crescimento das UTIs porque há menor ocupação e a fila de espera não cresceu. Há mais casos novos, mas ampliamos a testagem. Não podemos dizer ainda que há platô, a curva não está reta. Mas, nos últimos dias, ela está inclinando para baixo — comenta Katz.
Até o momento, Porto Alegre confirmou 7.033 casos e 257 mortes pelo coronavírus.