O Rio Grande do Sul recebeu os contêineres refrigerados que foram alugados como parte do plano de contingência do governo do Estado para enfrentar a pandemia do coronavírus. Os equipamentos eram esperados desde abril, mas como havia outras regiões do país com mais necessidade, a entrega foi adiada. Se houver aumento na demanda de sepultamentos, os contêineres serão usados para dar suporte ao necrotério do Departamento Médico Legal (DML) na Capital e aos necrotérios dos postos médico-legais do Interior.
A direção do Instituto-geral de Perícias (IGP) ressalta que os contêineres não são destinados diretamente a vítimas da covid-19. A estratégia de locação foi pensada ainda no começo do ano como preparação para dar apoio ao sistema médico-legal do IGP em uma situação em que a quantidade de sepultamentos, em razão do coronavírus, tivesse aumento muito acima do normal e, portanto, houvesse necessidade de armazenar cadáveres por mais tempo. Os oito contêineres locados custarão R$ 15,4 mil por mês e têm capacidade para em torno de 400 corpos.
— Não temos essa situação. A demanda de sepultamentos segue sem aumento. Não houve alteração, até porque tivemos redução de criminalidade. A busca pelo contêineres foi feita pensando em prevenção para o caso de as estruturas físicas do IGP não darem conta — explica a diretora do IGP, Heloisa Helena Kuser.
Os oito contêineres que chegaram estão depositados em um local que não é divulgado por questões de segurança. Conforme o IGP, o local é estratégico para que, em caso de necessidade, um equipamento seja transportado e esteja instalado em poucas horas. Atualmente, em razão de obras de reforma no DML da Capital, um contêiner já é usado como câmara fria. Para monitorar a eventual necessidade de instalação dos equipamentos, o IGP avalia diariamente mapas com dados do governo, com informações do distanciamento social e falecimentos por região, por exemplo.
Os necrotérios do IGP não atendem diretamente vítimas da covid-19. Por eles, passam casos de mortes violentas — como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios — e as de causa desconhecida, que dependem de uma investigação. Já o atendimento a vítimas mortas pela infecção do coronavírus segue outro fluxo: no hospital é declarado o óbito e o corpo é retirado pelo serviço funerário, que prepara o sepultamento.
Mas com a contaminação cada vez mais disseminada, a chance de pessoas que morrem por causas violentas também terem o vírus aumenta. Nestes casos, a forma de lidar com os corpos exige protocolos que tornam o atendimento mais demorado. Também se houver colapso em algum ponto do fluxo que envolve o sepultamento de vítimas da covid-19 mortas em hospitais — como excesso de demanda para o sistema funerário —, os contêineres serão usados em apoio. O Estado tem cerca de 700 funerárias.
Quanto a maiores cuidados no manejo de corpos, a diretora do IGP destaca que todos os necrotérios do IGP tiveram reforço de fornecimento de equipamentos de proteção individual e nos protocolos de higienização:
— A atividade fim tem que continuar, as necropsias precisam ser feitas. Então, o foco foi a proteção do servidor. E sempre que há suspeita de que uma vítima pode ter o vírus, a meta é a liberação do corpo o mais rápido possível. O cuidado tem surtido efeito. Não temos nenhum servidor que lida com os corpos contaminado.
Mortes atendidas pelo DML na Capital
Março/2020 — 387
Junho/2020 — 289
Julho/2020 — 216
Mortes atendidas pelos postos médico-legais no Interior
Março/2019 — 416
Junho/2019 — 392
Julho/2019 — 372