Dentro do plano de contingência do governo do Estado para enfrentar a pandemia do coronavírus, está a locação de nove contêineres refrigerados com capacidade total para cerca de 450 cadáveres. Se necessário, os equipamentos serão usados para dar suporte à demanda rotineira do Departamento Médico Legal (DML), que tem espaço para armazenar 127 corpos em 33 unidades de necrotério no Rio Grande do Sul.
A expectativa é de que as estruturas, cujo aluguel mensal será de R$ 17,4 mil, cheguem ao Estado na próxima semana. O governo ainda busca local para armazenar os equipamentos. Depois, se tiverem que ser usados, eles devem ser distribuídos entre Porto Alegre e Canoas, principalmente. Também há opção de envio para o Interior.
Mas, ao contrário do que tem circulado em redes sociais, de que os contêineres seriam destinados a vítimas da covid-19, a meta inicial é a de dar apoio ao sistema do DML caso a quantidade de sepultamentos, em função do coronavírus, tenha aumento muito acima do normal e, portanto, haja necessidade de armazenar os cadáveres por mais tempo.
Os necrotérios do DML não atendem diretamente vítimas da covid-19. Pelo departamento, passam casos de mortes violentas – como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios – e as de causa desconhecida, que dependem de uma investigação. Já o atendimento a vítimas mortas pela infecção do coronavírus segue outro fluxo: no hospital é declarado o óbito e o corpo é retirado pelo serviço funerário, que prepara o sepultamento.
— A ideia da locação de contêineres é garantir que, diante do pior cenário em termos de enfrentamento à pandemia e colapso no sistema funerário, as perícias não sejam afetadas por uma eventual liberação apressada dos corpos para inumação, que poderia trazer prejuízo às investigações de mortes violentas ou de causa externa (mortes não-naturais) — explica Liliane Gremelmaier Borges, diretora do DML.
Subnotificação acendeu o alerta
A preocupação sobre possível falta de capacidade do DML começou quando os casos passaram a se misturar, a partir do avanço do coronavírus com a transmissão comunitária. Ou seja: é cada vez maior a chance de que pessoas que morram nas ruas ou em casa por morte violenta também possam estar contaminadas e, portanto, serem transmissoras do vírus. Pesquisa inédita encomendada pelo governo gaúcho mostrou, na semana passada, estimativa de que o Estado tem cerca de 5 mil infectados que nunca chegaram ao sistema de saúde, ou seja, são casos não notificados.
Então, quando houver suspeita de que um caso levado a atendimento pelo DML possa ser de pessoa contaminada, o manuseio do corpo na necropsia e para o acondicionamento exigirá maiores cuidados: essas são situações em que se usaria os contêineres. Também se houver colapso em algum ponto do fluxo que envolve o sepultamento de vítimas da covid-19 mortas em hospitais – como excesso de demanda para o sistema funerário –, os contêineres serão usados. O Estado tem em torno de 720 funerárias.
Com eventual aumento de demanda de sepultamentos, alguns sistemas podem se tornar mais demorados, como identificação de pessoas e liberação de documentos. Conforme a diretora do DML, em Porto Alegre, há uma média de 11 a 13 necropsias por dia, que tem se mantido até o momento. O necrotério da Capital tem capacidade para armazenar 54 corpos.
Quanto à instalação dos contêineres, o governo busca locais que sejam de fácil acesso, com boas opções de transporte público, para facilitar os trâmites por parte de familiares de falecidos. Nos equipamentos, os corpos serão acondicionados congelados para evitar vazamento de secreções e protegidos por sacos duplos. Os corpos cujas vítimas tinham suspeita da covid-19 são considerados potenciais contaminantes.
Os contêineres
- Refrigerados
- Seis têm 12 metros de comprimento e três, seis metros
- A estimativa é de que cada um tenha capacidade para 40 a 50 corpos
Compra extra de sacos para cadáveres
- Esta semana, foi publicada no Diário Oficial do Estado a aquisição de 1.340 unidades de cobertura para óbito (sacos para cadáveres), no valor total de R$ 25,3 mil "para fins de enfrentamento à epidemia causada pela covid-19"
- Os sacos são produto usual, da rotina do Instituto-geral de Perícias (IGP). Entretanto, a partir de novos protocolos de segurança sanitária e recomendações da OMS, por causa da pandemia da covid-19, a orientação é ampliar a proteção no recolhimento, transporte e armazenamento de corpos
- A instrução, neste período de contingência, é considerar qualquer vítima de morte violenta também suspeita de coronavírus e, portanto, deve ser envolta em no mínimo dois ou três sacos apropriados, o que aumenta o uso de coberturas. Por conta dessa nova demanda, o IGP fez uma aquisição preventiva de coberturas para óbitos