O número de pacientes internados por coronavírus em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) em Porto Alegre manteve, até as 15h desta quinta-feira (23), estabilidade pelo quarto dia consecutivo. Havia 286 pessoas hospitalizadas na cidade – mesmo número do dia anterior e cinco a mais do que na segunda (20) e na terça-feira (21).
Especialistas destacam que é preciso esperar ao menos sete dias antes de afirmar que a pandemia de fato está estabilizando a ponto de chegar a um platô – ou seja, o fim do crescimento e pouca variação no número de novos casos e mortes. O motivo é que a estabilidade nas internações pode ser momentânea e ocorrer por outras razões.
A lotação das UTIs da capital gaúcha estava em 88,2% nesta quinta – no dia anterior, chegou a 88,5%. O índice só não está pior porque a Santa Casa de Misericórdia abriu 17 novas vagas nesta semana. A prefeitura da Capital passou a informar, em seus relatórios, outros dados sobre ocupação de UTIs, como os pacientes com e sem covid-19 aguardando leitos.
Um motivo de cautela antes de afirmar que há platô é que o número de novas mortes subiu nos últimos dias, o que pode contribuir para liberar leitos em hospitais, destaca Álvaro Krüger Ramos, professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele chama atenção para o crescimento no número de novos casos na cidade, o que pode apontar para a direção contrária de uma estabilização da pandemia.
— O que podemos dizer é que o número de leitos de UTI está estável há quatro dias. Ponto. Imputar mais do que isso é muito cedo. Estamos registrando, diariamente, acima de cem novos casos. Anteriormente, registrávamos uma média de 20 casos. Se há muitos casos novos entrando, é de se esperar que, daqui a alguns dias, as internações por UTI também aumentem. Não significa que estamos em platô da pandemia ainda — afirma o matemático.
Adota interpretação mais otimista o médico infectologista da Santa Casa e professor de Infectologia da Ulbra Claudio Stadnik, para quem ainda não estamos no pico, mas há sinais de que Porto Alegre esteja se dirigindo para esse caminho.
Ele pondera que a estabilidade nas internações pode ocorrer por mero acaso, pela chegada ao pico (teto de infecções seguido de queda, o que seria um bom cenário) ou ao platô (pico seguido de estabilidade de infecções e mortes, sem descida na curva, um cenário que só não é pior do que se a curva seguir crescendo).
— Não pode dizer que há um platô hoje, mas há sinais de que podemos ter chegado ao platô ou a um pico. Vimos que houve uma estabilidade nas demandas, mas a precaução deve ser mantida, principalmente porque os pacientes graves que chegam à UTI ficam, em média, de 10 a 14 dias internados. Quatro dias de estabilidade não são suficientes para que os pacientes internados lá atrás sejam liberados. Estamos em estado de alerta ainda, com 88% de lotação por causa do esforço do Clínicas e da Santa Casa, que abriram muitos leitos para covid nas últimas semanas, sendo que muitos deixam de ser oferecidos para outras doenças, o que prejudica o atendimento das pessoas — afirma Stadnik.
O índice de distanciamento em Porto Alegre ficou em 41,3% na quarta-feira, abaixo da meta de 55%. A Região Metropolitana da capital segue como a região com maior lotação de UTIs do Rio Grande do Sul, com 81,5% das vagas ocupadas, pouco à frente da Serra, que tem 81,2%. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (SES).