Com as estratégias montadas pelo poder público no enfrentamento à pandemia de coronavírus como pano de fundo, o número de pessoas ocupadas afastadas do trabalho no Rio Grande do Sul em razão do distanciamento social caiu 26,78% em junho, se comparado ao mês anterior. O total de trabalhadores retirados de suas atividades por esse motivo recuou de 631 mil, em maio, para 462 mil em junho, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta quinta-feira (23).
No âmbito geral, o número de pessoas afastadas do trabalho também apresentou retração no período, caindo de 859 mil para 677 mil (-21,18%). Desse montante, o número de pessoas sem remuneração caiu para 278 mil (veja mais abaixo).
O professor de Economia da Unisinos Guilherme Stein entende que a queda no número de afastamentos ocorre em razão da diminuição do nível de distanciamento no Estado nos últimos meses.
— Goste ou não, está acontecendo um relaxamento na prática do distanciamento social. As pessoas estão voltando aos seus trabalhos, retomando as atividades que foram suspensas por corte de trabalho ou por férias que foram feitas em função da pandemia. Isso está voltando lentamente ao “normal”, digamos assim.
Luís Eduardo Puchalski, gerente substituto de pesquisa do IBGE no Estado, avalia que a retomada de algumas atividades no período, com a flexibilização de normas, também ajuda a explicar a queda nesse indicador:
— Imaginamos que essa queda se deve ao fato de que normas de distanciamento se flexibilizaram um pouco, especialmente no início de junho, e também ao fato de que parte das pessoas que estavam em distanciamento social lá em maio tentam voltar a manter a renda que tinham antes da pandemia. Assim, resolveram ignorar as recomendações e voltar a trabalhar, como os profissionais liberais.
Desocupação
Por outro lado, o levantamento do IBGE aponta que o número de desocupados no Estado saltou de 480 mil (8,4%) trabalhadores para 558 mil (9,7%). O instituto considera desocupada a pessoa que procura trabalho, mas não encontra. Cidadãos que exercem alguma atividade informal não é considerada desempregada dentro da metodologia.
O professor de Economia da Unisinos Guilherme Stein afirma que esse número é reflexo do “conjunto da obra” dos danos causados pela pandemia e pode ser explicado pela retomada pela busca do emprego por parte das pessoas que estavam fora da força de trabalho.
— As pessoas que estavam perdendo seus empregos e, por causa pandemia, não procuravam mais, tecnicamente não podem ser classificadas como desocupadas. Só que, agora que as pessoas estão voltando a procurar emprego, o número de desocupados está aumentando, porque as pessoas que estavam fora da força de trabalho, voltaram a procurar emprego. Esse foi provavelmente um dos fatores.
O recorte regional da Pnad Covid-19 em junho mostra um cenário que bate com esse entendimento. O número de pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego por conta da pandemia ou de falta de oferta caiu de 450 mil, em maio, para 419 mil em junho.
No âmbito da saúde, a pesquisa mostra 8,6% dos gaúchos declarou ter tido algum dos sintomas relacionados à síndrome gripal investigados pela pesquisa, como febre, tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar. Em maio, esse percentual estava em 12,2%. Já em relação ao público que afirmou ter apresentado sintomas conjugados, como perda de cheiro ou sabor; ou tosse, febre e dificuldade para respirar; ou febre, tosse e dor no peito caiu de de 0,6%, em maio, para para 0,5% em junho.
Aumento no recebimento de auxílio emergencial
O número de domicílios no Estado em que pelo menos uma pessoa recebe auxílio relacionado à pandemia — como o auxílio emergencial de R$ 600 ou o benefício emergencial de preservação do emprego e da renda — ficou em 1,1 milhão em junho. Em maio, esse acumulado estava em 985 mil, o que representa aumento de 15,02%.
O gerente substituto de pesquisa do IBGE no Estado avalia que, além da perda do emprego, a demora na obtenção do benefício oferecido pelo governo causada por algum problema no processo podem ajudar a explicar essa guinada.
— Tem uma outra questão também que eram pessoas que, lá em maio, talvez já tivessem solicitado o auxílio, mas por qualquer problema em relação ao cadastro não tinham recebido efetivamente o auxílio em maio e conseguiram resolver esse problema ao longo do período e, a partir de junho, começaram a receber — pontua Puchalski.
O professor da Unisinos diz que é difícil prever como o mercado de trabalho se comportará no segundo semestre no Estado, pois isso depende do cenário da pandemia nos próximos meses. Ele acredita no início de uma retomada, mas com um asterisco em razão da incerteza sobre o comportamento da crise sanitária:
— Acho mais provável que as coisas se normalizem, muito embora existe uma probabilidade de que haja piora. Acredito que essa última tenha menos de 50% de chance. Estou um pouco mais otimista.