Diretor do Instituto Butantan, de São Paulo, Dimas Covas destacou na noite desta quarta-feira (8), em live organizada pela Escola de Saúde La Salle/Santa Casa, que a instituição pretende concluir até dezembro o desenvolvimento da terceira e última fase da vacina chamada de CoronaVac, destinada ao combate à covid-19. Se comprovar a eficácia, ela poderá ser usada assim que for registrada.
Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e, no Brasil, com estudos conduzidos pelo Instituto Butantan, a CoronaVac entrou na fase três — quando os testes são conduzidos em humanos — a partir da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na sexta-feira passada (3).
Na live, Covas apontou que este é um momento favorável ao estudo clínico no Brasil porque os 12 centros escolhidos no país estão em Estados com curvas ascendentes da pandemia.
— Não saímos da primeira onda da pandemia no Brasil. O que nós conseguimos até agora foi sobreviver de uma forma um pouco melhor neste período. Seguramente, se houver relaxamento agora, teremos um aumento ainda na própria primeira onda — alertou.
Os testes da CoronaVac começaram em abril na China. Nas primeiras duas fases, 743 voluntários, com idades entre 18 e 59 anos, participaram da pesquisa. Mais de 90% dos voluntários apresentaram anticorpos neutralizantes. Os testes no Brasil serão realizados em 9 mil voluntários em centros de pesquisas de seis Estados: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
Entre as 12 instituições escolhidas está o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).
Somente profissionais da área da saúde poderão se credenciar para a testagem da vacina. As inscrições iniciarão na próxima segunda-feira (13) e o processo de testagem começará em 20 de julho. Pelo protocolo de pesquisa, metade dos voluntários receberá a vacina, e os demais, um placebo, isto é, uma mistura sem efeito. A eficácia é atestada na comparação entre os dois grupos.
Imunização promissora
Segundo Covas, a imunização contra o coronavírus desenvolvida pela Sinovac é uma das mais promissoras do mundo porque a China recuperou uma vacina que já havia começado a ser desenvolvida para o coronavírus na epidemia da sars, em 2002, que teve alta letalidade nos países asiáticos. Na época, a vacina foi abandonada durante o desenvolvimento porque a doença foi contida.
Normalmente, destacou Covas, o desenvolvimento de uma vacina pode levar até cinco anos. Mas a CoronaVac foi mais rápida por conta do processo iniciado anteriormente.
O Instituto Butantan está adaptando uma fábrica para a produção de até 100 milhões de doses. Se a vacina for efetiva, a instituição brasileira vai receber da Sinovac, até o fim deste ano, 60 milhões de doses para distribuição.
— Nunca trabalhei tanto na minha vida e nunca tive tanta esperança na minha vida. Esta situação está despertando em nós o que temos de melhor. Estamos conseguindo escolher caminhos apropriados. O Brasil vai sofrer e, apesar de todas as dores, vamos sair melhor pelo menos em alguns aspectos: aprendendo com as nossas deficiências, como mudá-las e com uma ciência fortalecida — resumiu Covas.
O debate online do qual participou Covas contou também com as presenças do infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Claudio Stadnik e do médico, professor e pesquisador da Universidade La Salle Márcio Boniatti, e serviu para marcar o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador.