Sentado em frente à recepção, o estudante de odontologia da UFRGS Loan Tomiello, 27 anos, aguarda mascarado a sua vez para adentrar a academia da Cidade Baixa, agora “transformada em personal” conforme brincam os dois funcionários próximos ao balcão.
— Virou o meu evento da semana. Sem aulas, não estava saindo de casa para nada. Vim mais por causa da cabeça — declara o estudante.
A academia RDM foi uma das poucas em Porto Alegre a abrir com as restrições impostas até aqui pelo decreto da prefeitura, que permite somente a utilização das academias “de forma individualizada, sempre limitada a um aluno por vez podendo ser acompanhado por um profissional”.
Para atender ao maior número de clientes possível, a RDM estabeleceu períodos de 30 minutos mediante agendamento prévio e com intervalos mínimos de 48 horas entre os treinos.
Às 14h de quarta-feira (13), portanto, o engenheiro civil Rodrigo de Oliveira, 26 anos, daria lugar a Loan. Rodrigo se diz confortável com o uso da academia nesses moldes. Os próprios alunos higienizam os aparelhos borrifando álcool e passando papel toalha antes e depois de cada exercício, o que torna os treinos ainda mais curtos. Loan, por exemplo, pretende malhar apenas costas e pernas, exercícios mais difíceis de improvisar em treinos domésticos.
Questionado se frequentaria o espaço com mais gente, Rodrigo reflete.
— Olha, não sei o limite para eu me sentir seguro. Sei que não malharia ali perto dele — declara apontando para Loan, já com a academia toda para si.
Segundo Kewyn Lerroi, coordenador da RDM, apesar da agenda estar cerca de 80% cheia, a decisão de abrir nesses moldes foi mais institucional do que financeira.
— Seria compreensível não abrir. Recebendo um cliente por vez em um espaço que atende até 80 juntos, não banca sequer o que estamos gastando a mais em papel toalha. Mas decidimos abrir assim para fidelizar o cliente, para manter o contato e ele não esquecer da gente — declara Kewyn, ressaltando que, apesar do atendimento limitado, os planos dos clientes foram automaticamente prorrogados.
Além da farta oferta de álcool e papel, a academia opera com bebedouros, torneiras e chuveiros fechados. Além da limpeza dos próprios alunos, os funcionários higienizam os aparelhos entre um aluno e outro e há duas faxinas diárias, uma antes de abrir, pela manhã, e outra às 18h.
Não se sabe por quanto tempo o decreto de Porto Alegre seguirá determinando atendimentos um a um. Em Canoas, embora esteja na mesma bandeira laranja da Capital na classificação do governo do Estado, as academias já podem funcionar com menos restrições graças a um decreto municipal de 1º de maio.
Das 11 unidades da Moinhos Fit, a unidade de Canoas é a única de portas abertas. Segundo o gerente Maike Oliveira, a academia poderia operar com mais de cem clientes simultâneos que ainda assim teria menos de 30% do PPCI, limite estipulado pelo decreto. Por prudência, estipulou um limite de 30 para evitar aglomeração.
A lotação não é atingida porque, também obedecendo ao decreto, os alunos precisam marcar horário. Eles também assinam um termo declarando que não pertencem a grupos de risco. Mesmo operando, a Moinhos Fit de Canoas também estendeu seus contratos.
Durante a visita de GaúchaZH, 13 clientes devidamente mascarados malhavam no espaço amplo de dois andares da unidade. Enquanto isso, uma funcionária de limpeza circulava higienizando os espaços.
A fim de respeitar o distanciamento mínimo de dois metros entre os frequentadores (outra norma do decreto), a cada dois aparelhos, um foi interditado com fitas adesivas. Outros aparelhos, como as esteiras, tiveram a disposição modificada para evitar que o suor de um frequentador afete o outro. Como em Porto Alegre, há farta oferta de álcool e veto aos chuveiros e bebedouros.
Para Maike, se trata do modelo possível e o que deve vigorar por tempo indeterminado, se todos colaborarem. Por ora, o gerente se diz positivamente impressionado com as boas maneiras da clientela:
— Os instrutores fazem pequenas orientações. Avisam quando a máscara não cobre o nariz, por exemplo. Mas, em geral, o pessoal está colaborando muito. Já que não sabemos quanto tempo ficaremos nessa, acho que todos estão se esforçando para que não precise fechar de volta.