A preparação para a caminhada diária envolve poucos regramentos. A alimentação, praticamente, não tem restrições, mas a farinha, o açúcar, o sal e o café são itens evitados. Aos 80 anos, o jornalista e ex-radialista da Rádio Gaúcha Lauro Quadros sai de casa todos os dias somente com a chave de casa no bolso para percorrer os seis quilômetros diários de caminhada – exatamente em uma hora e cinco minutos.
— Tenho síndrome de abstinência se não caminhar. Sou um endorfinodependente. Com a questão do coronavírus, a praça da Encol (em Porto Alegre) não está liberada para exercícios físicos, mas não deixei meu exercício de lado. Caminho no pátio do meu prédio. Ao todo, são 60 idas e voltas de uma ponta a outra da parte externa — afirma ele, que aproveita o horário em que não há pessoas circulando na área.
Quando chove e a caminhada no pátio do condomínio é impossibilitada, Lauro não arrefece. Assim como nos outros dias, sai às 10h30min de casa e troca o pátio pelo estacionamento no subsolo do prédio. Apesar de soar inusitado e um tanto claustrofóbico, o jornalista garante que as diversas janelas no local permitem uma boa circulação de ar.
Avesso ao uso de celular e a qualquer tipo de aplicativo que monitore a distância percorrida, ele mesmo calcula o trajeto a ser feito:
— Não sou alto, meu passo não é largo. Quando dou 125 passos, percorro cem metros. Quando caminhava na (praça da) Encol, eu precisava dar 54,5 voltas na parte interna. Tenho prazer nesses processos de calcular e de caminhar. Durante o exercício, os meus pensamentos voam.
Antigamente, a caminhada era no shopping
Se agora o cooper é realizado na garagem nos dias de chuva, tempos atrás era feito em um shopping da Capital. O andar acelerado entre os consumidores espantava um pouco os lojistas, que, depois de um tempo, se acostumaram a ver Lauro com roupa de ginástica, olhar obstinado e ritmo constante de caminhada entre vitrines e pessoas com sacolas.
— Por um tempo, eu ganhei até isenção no estacionamento para poder fazer minha caminhada — diverte-se ele.
A paixão pela atividade física começou concomitantemente à prática do futebol de salão, jogado todas as terças-feiras com amigos, ainda na adolescência. As chuteiras foram aposentadas, mas os tênis de corrida, não.
Desde então, o hábito é carregado para todos os lugares que Lauro vai. No Litoral Norte, ele caminha ora na areia, mais próximo dos salva-vidas para preservar a coluna do impacto, ora no calçadão, sempre em horários nos quais o sol está mais fraco.
Com a chuva dos últimos dois dias, ele já está ansioso para andar novamente na área interna do condomínio:
— Ontem e hoje caminhei na garagem, mas ouvi o Cléo Kuhn (meteorologista da Rádio Gaúcha) e já soube que amanhã vou poder ir para o pátio de novo.