A poucos dias do Natal, no distrito de Marylebone, os comércios de artigos de segunda mão estão abarrotados, uma tendência impulsionada por consumidores querendo gastar menos e ajudar organizações de caridade.
Na loja beneficente britânica Oxfam, os clientes podem encontrar roupas, livros e brinquedos a preços econômicos.
"Desde o final de setembro, temos observado um aumento considerável no número de pessoas que vão às nossas lojas", explica à AFP Ollie Mead, cuja função é supervisionar as vitrines das lojas de caridade da Oxfam em Londres.
Estas lojas beneficentes de segunda mão são muito populares o ano todo no Reino Unido, tanto físicas quanto online, e são cada vez mais escolhidas para as compras de Natal.
- 10% do total -
Segundo um informe publicado em novembro pela loja de roupas de segunda mão Vinted e a empresa ReailEconomics, espera-se que os britânicos gastem este ano 2 bilhões de libras (15,5 bilhões de reais na cotação atual) em presentes de Natal destas lojas alternativas, quase 10% do total do mercado de compras desta temporada.
"Houve uma mudança evidente na Vinted", explica à AFP Adam Jay, um de seus gerentes.
"Observamos um aumento na quantidade de usuários que buscaram 'presente' como palavra-chave entre outubro e dezembro de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado", acrescenta.
"É lindo gastar menos e saber que o dinheiro vai para uma boa causa", afirma Ed Burdett, um médico de 50 anos, à AFP em oura loja da Oxfam em Londres.
Wayne Hemingway, designer e cofundador da Charity Super.Mkt, uma rede que também oferece produtos de segunda mão, tem dado itens de segunda mão como presentes de Natal há "muitos anos".
"Quando comecei a fazer isso, parecia estranho, excêntrico", disse ele.
Da mesma maneira, quando ele começou a vender roupas de segunda mão, há mais de 40 anos, "as vendas sempre caíam no Natal porque todo mundo queria roupas novas".
Deste então, as coisas mudaram muito.
"As compras do fim de semana passado foram uma loucura" e todas as lojas da rede registraram um aumento de 20% nas vendas nas semanas anteriores ao Natal.
Os consumidores jovens estão cada vez mais conscientes do impacto da indústria têxtil no planeta e estão mais comprometidos com uma "economia circular", acrescenta.
No entanto, nem todos os clientes vão a lojas de segunda mão procurando presentes.
- Preferência em comprar coisas novas -
Jennifer, 56 anos, acaba de comprar uma jaqueta usada, no entanto, não gosta da ideia de dar coisas de segunda mão aos seus entes queridos.
"O Natal é uma época especial (...) irei comprar algo bonito na Selfridges ou na Fenwick", duas famosas lojas de departamento britânicas, afirma.
Hemingway reconhece que a ideia de comprar coisas novas para o Natal segue sendo maioria.
"As coisas vão evoluindo pouco a pouco, ainda há um longo caminho a percorrer", aponta.
Tetyana Solovey, pesquisadora de sociologia da Universidade de Manchester, concorda que a ideia de presentes de segunda mão pode encontrar um nicho no mercado.
"Será uma verdadeira mudança se começarmos a aceitar a ideia de que é possível dar um presente de segunda mão nestas festividades", diz ela.
"Para algumas pessoas parece um pouco estranho, mas pode ser um enfoque muito sustentável" e solidário, que faria esta celebração ainda mais "maravilhosa", acrescenta.
* AFP