Nos últimos dias, mensagens circulam pelas redes sociais com a afirmação de que o pico da covid-19 no Brasil deverá ocorrer até o final de abril — o que significaria um maior grau contágio neste momento e uma necessidade de reforçar o isolamento social durante este período.
Especialistas em epidemiologia, infectologia e autoridades reforçam que é necessário, sim, manter o distanciamento agora como forma de reduzir a velocidade de contaminação e preservar o sistema de saúde, mas alertam que não há evidências para atestar que o ponto alto da pandemia no país, no Estado ou em Porto Alegre ocorrerá ainda neste mês.
Estimativas indicam que os registros de pacientes com o vírus devem seguir crescendo por mais tempo antes de a situação melhorar, podendo chegar ao teto entre os meses de maio e junho — mas não há como garantir um prazo. Por isso, é bom se preparar para manter as precauções por um período mais longo.
Uma das imagens mais compartilhadas, sem referência à fonte da informação, traz um texto onde se lê: "O pico do vírus será de 6 a 20 de abril. Se o pico dos casos for realmente nestes dias, a maioria das pessoas se contaminará entre hoje e a próxima quarta-feira". É muito difícil, até o momento, garantir quando ocorrerá o ponto máximo das notificações porque isso também depende de fatores dinâmicos.
— Essa informação depende de muitas variáveis, principalmente a movimentação da população, influenciando no achatamento da curva e na velocidade da transmissão — avalia o diretor geral de Regulação da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS), Jorge Osório.
A secretaria da Capital trabalhava com uma expectativa de que o teto de infecções ocorreria em maio. Análises mais recentes, porém, sugerem que o período poderá ser posterior.
— Tínhamos uma estimativa para maio, talvez mais para o começo do mês. Olhando para a situação, não sei se vai se confirmar. Provavelmente, não — afirma o secretário adjunto da Saúde em Porto Alegre, Natan Katz.
Há diferentes cálculos para prever o momento de maior impacto do vírus sobre a população — quase todas apontam para depois do dia 20 de abril. Pesquisadores do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), que reúne representantes de diferentes entidades como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), acreditam que o teto poderia ser alcançado entre 25 e 30 de abril. Outros especialistas consideram essa possibilidade remota e jogam o prazo mais para frente.
— Infelizmente, as pessoas vão continuar se contaminando por mais tempo. Os modelos (de previsão) indicam que isso poderia ocorrer em junho. Mas pode variar conforme o resultado obtido com as medidas de mitigação (distanciamento social). Se for bem sucedida, o pico pode ser um pouco antecipado, mais baixo e com maior duração. Se tiver pouco efeito, tende a ocorrer depois e ser mais elevado — afirma o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas, Eduardo Sprinz.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou no dia 20 de março que esperava um crescimento significativo das notificações até junho, quando atingiria um "platô", mas com uma queda brusca somente a partir de setembro. Essa expectativa coincide com uma simulação feita pelo professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos, que analisou a evolução do número de casos em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Conforme essas medições, o pico poderia ocorrer em até três meses.
O importante, segundo o infectologista Eduardo Sprinz, é manter as medidas de distanciamento social independentemente da data prevista para o coronavírus atingir o ápice:
— O pico pode ocorrer um pouco antes ou depois, mas, quanto menos pessoas contaminadas houver, menor ele será.