A maioria dos Estados brasileiros não é transparente a respeito de dados básicos sobre o coronavírus, segundo análise feita pela Open Knowledge Brasil (OKBR). Há pouca ou nenhuma informação, por exemplo, quanto ao número de testes realizados, disponibilidade de leitos de UTI e informações gerais sobre as pessoas com a covid-19, como idade e sexo.
A análise, divulgada nesta sexta-feira (3), conclui que 90% dos estados e o governo federal não tornam públicos dados que possibilitem o acompanhamento em detalhes da epidemia no país.
As autoridades não apresentam, por exemplo, dados básicos sobre quantidade de testes disponíveis. Somente o Tocantins, segundo a OKBR, divulga essa informação – o estado também é um dos que mostram quantos testes foram realizados.
Os exames de detecção da covid-19 têm sido um dos pontos centrais da discussão sobre a doença. Países que testam em massa sua população estão conseguindo isolar os casos confirmados e, assim, evitar uma maior detecção.
O acesso a dados tem sido um desafio à parte na epidemia brasileira. Na terça-feira (31), a reportagem perguntou ao Ministério da Saúde quantos testes para covid-19 foram feitos no país até a presente data. Após uma negativa inicial, a assessoria da pasta afirmou que levantaria os dados e até o momento não enviou resposta.
Nas secretarias estaduais de saúde a situação não é muito diferente. Como mostra o levantamento da OKBR, mais de 80% dos Estados não contam com dados abertos (que possam ser baixados e filtrados de diferentes formas) e apresentam as informações a partir de boletins diários sobre a doença.
Até mesmo informações sobre os municípios onde ocorrem os casos e as mortes não são disponibilizados pelo governo federal e por três unidades federativas.
O levantamento também revela que nenhum ente federativo apresenta o número de leitos ocupados pelo coronavírus, informação essencial para a análise da situação da epidemia no país.
Casos mais graves da covid-19 precisam de hospitalização e uso de máquinas para ajudar na respiração do paciente. Dependendo do número de pessoas que precisam do auxílio ao mesmo tempo, o sistema de saúde não suporta e pacientes acabam desassistidos, o que leva a mortes. Por isso a importância de saber sobre a capacidade ocupada de leitos e UTIs.
A análise da OKBR levou à criação de um Índice de Transparência da Covid-19, que, por sua vez, deu origem a um ranking, liderado por Pernambuco, um dos Estados mais transparentes na divulgação de dados sobre a doença.
Para a criação do índice, a organização levou em conta itens como informações básicas como idade, sexo, status de atendimento, doenças associadas, ocupação de leitos, e testes disponíveis e aplicados, considerando quais seriam os dados mínimos que poderiam ser oferecidos.
A OKBR também considerou a granularidade das informações – ou seja, de modo geral, o quanto os dados estão detalhados. Por fim, foi analisado o formato de apresentação dos dados disponíveis.
O levantamento foi feito com base em informações disponíveis na manhã de 2 de abril. O ranking do Índice de Transparência da covid-19 será atualizado semanalmente.
Ranking:
- Pernambuco - Nível alto de transparência
- Ceará - bom
- Rio de Janeiro - bom
- Tocantins - médio
- Minas Gerais - médio
- Maranhão e Mato Grosso do Sul - médio
- Roraima - médio
- Rio Grande do Sul e governo federal - baixo
- Alagoas e Bahia - baixo
- Mato Grosso e São Paulo - baixo
- Rio Grande do Norte - baixo
- Distrito Federal e Piauí - baixo
- Amazonas - baixo
- Acre e Goiás - baixo
- Amapá, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Santa Catarina e Sergipe - opaco
- Pará e Rondônia - opaco
(Alguns estados aparecem empatados pela pontuação atribuída aos critérios de classificação da OFBR)