Durante a coletiva de imprensa desta quinta-feira (2), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que a pasta vai analisar um primeiro estudo feito para analisar o uso de cloroquina em pacientes graves infectados pelo coronavírus. Segundo Mandetta, o material seria publicado no periódico New England Journal. Embora não tenha passado por uma revisão rigorosa, como é habitual nesses documentos, o ministro classificou o levantamento como algo promissor.
— Pode, eventualmente, ser questionado, pode não manter aquela performance. Mas já é um caminho, já é algo que nós temos no nosso horizonte, para ver passo a passo, com segurança, sem achismo. Iremos pela ciência, pelas publicações, encontrar as melhores soluções — disse, conforme o jornal O Globo.
Apesar de mencionar a cloroquina, o único estudo com as características citadas por Mandetta, com avaliação de 62 pacientes, analisou o potencial da hidroxicloroquina. O material foi lançado na última segunda-feira (30), no medRxiv, arquivo online para estudos ainda não publicados, ou seja, que publica relatórios preliminares que não foram submetidos a revisão.
De acordo com o levantamento chinês, o uso de hidroxicloroquina auxiliou na redução do tempo clínico de recuperação dos pacientes. No grupo de tratamento (que recebeu as doses da substância), houve melhora na temperatura corporal também na remissão da tosse. Fora isso, uma proporção maior de pacientes com pneumonia teve o quadro melhorado com a substância. Apenas duas pessoas tiveram reações adversas ao fármaco.
Os resultados foram obtidos através da avaliação de 62 pacientes com a covid-19. Trinta e um deles usaram a hidroxicloriquina e os demais, participaram do grupo controle. Do total, 29 eram homens e 33 eram mulheres.
Avaliação
Rafael Selbach Scheffel, coordenador da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ressalta que o texto é um "preprint", quer dizer, não foi avaliado por pares e ainda não foi aceito e publicado em nenhum periódico científico.
— Não sei de onde veio isso de que ele foi publicado no New England— diz.
Segundo Scheffel, o material que está disponível ainda pode sofrer muitas alterações. No entanto, destaca, o estudo é melhor do que os que já foram publicados:
— Este foi randomizado. Os outros todos eram quase observacionais. Ainda assim, é cheio de problemas. É pequeno, avaliou 62 pessoas e não usaram placebo. Isso é importante depois.
Sem o placebo, fala, apenas um grupo de pacientes recebe as doses da substância, enquanto o outro passa pelo tratamento usual. O não uso de placebo, explica, poderia interferir nos resultados finais, especialmente na avaliação de sintomas subjetivos.
Na coletiva desta sexta-feira (3), Mandetta afirmou que o estudo é "muito precário", mas admitiu que o insumo pode ser usado em pacientes graves, não apenas críticos.
— O paper é muito frágil, no caso da cloroquina. A gente teve uma sensação que, no uso compassivo, nos casos críticos, vamos usar nos casos críticos e nos casos graves, mesmo que as evidências sejam frágeis.