Uma estrutura totalmente nova, entregue após cinco anos de obras, será liberada para uso nessa sexta-feira (3): o novo prédio do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) receberá uma espécie de liberação provisória da prefeitura de Porto Alegre. O documento, que substitui o habite-se permanente para operação, foi assinado eletronicamente pela presidente da instituição, Nadine Clausell, e remetido à Procuradoria-Geral do Município (PGM).
O procurador-geral, Nelson Marisco, afirmou que nas próximas horas o acordo será firmado, e a instituição terá o respaldo jurídico para atuar. O documento é chamado, oficialmente, de "habite-se precário", pois não desobriga a instituição de entregar as obras no entorno do hospital, que ajudarão a mitigar o impacto da circulação de veículos e de pacientes gerado pela nova construção.
Local seria utilizado como emergência
Anteriormente planejado para ser a nova emergência do HCPA, o andar térreo do prédio terá foco inicial no atendimento dos pacientes contaminados pela covid-19. Nesta quinta-feira (2), 10 leitos completos de UTI foram entregues, com respiradores, modernas macas, monitores, equipamentos de oxigênio e colunas para suporte das bombas de infusão. Nas prateleiras, medicamentos já estão dispostos e uma série de dispensers com álcool em espuma carregados. Na próxima semana, a capacidade do espaço será dobrada, com instalação de mais 10 camas totalmente equipadas, segundo estima a presidente do HCPA.
— Se tudo ocorrer como o cronograma prevê, chegaremos a 48 leitos até o fim de abril aqui, local que já chamamos de Área Covid — explica Nadine Clausell.
Haverá um acesso exclusivo para as ambulâncias, pela Rua Ramiro Barcelos, evitando contato com familiares e enfermos do antigo prédio da instituição.
Quantos leitos de UTI há em Porto Alegre?
A Capital dispõe de 515 leitos de UTI em situação operacional no início da tarde desta sexta-feira (3), segundo o sistema online de monitoramento da prefeitura. Em 28 (5,5%) há pacientes com covid-19 confirmada e em 33 (6,4%) há casos suspeitos.
No auge da ocupação dos leitos, o espaço poderá acolher 105 pacientes de tratamento intensivo. O primeiro interno deve ser recebido na terça-feira, 7 de abril. Não há, segundo a direção, necessidade de ocupação imediata. No prédio já chamado de "antigo" pelos profissionais de saúde, há 16 leitos de UTI destinados exclusivamente a contaminados. Desses, seis estão ocupados.
De acordo com o diretor administrativo do hospital, Jorge Bajerski, não está prevista, inicialmente, a transferência dos doentes de um prédio para o outro, reservando o novo espaço para casos novos de infectados. Equipes de plantão estão de prontidão e serão acionadas caso haja necessidade de antecipar a ocupação do local.
— É tudo dinâmico, quem está hoje na UTI pode ir para internação, pode ganhar alta, não sabemos exatamente o que vai acontecer, mas a ideia é manter as pessoas nos seus locais — pondera o diretor.
Além das macas de tratamento intensivo para adultos, há 10 leitos de UTI pediátrica e 50 de internação. São seis pacientes que ocupam hoje a UTI, e outros sete internados infectados pelo coronavírus. Um deles uma criança, que não teve a idade revelada.
"Sonho sendo realizado", diz diretor
Há 31 anos na instituição, Bajerski se emociona ao comentar a ampliação do hospital, que, após ocupação completa, terá uma área três vezes maior do que a atual — de 1,7 mil metros quadrados, passou para 5,1 mil metros quadrados.
— Difícil descrever o que eu sinto ao saber da liberação. Eu vejo tudo pronto, equipamentos, pessoas sendo contratadas. É um sonho sendo realizado — afirma, com a voz embargada.
A estrutura montada no novo prédio do Clínicas vem de um repasse de R$ 57 milhões do Ministério da Educação.
A prefeitura de Porto Alegre reforça que a estrutura foi vistoriada antes da decisão de conceder a liberação provisória, e um termo de compromisso encaminhado aos gestores hospitalares, mantendo a necessidade das obras de contrapartida, declaração assinada pelo responsável técnico da obra.
Marchezan destaca a integração da prefeitura com o hospital, a Ufrgs e o governo do Estado na área da saúde.
— Estamos muito felizes com parcerias que nos permitiram avançar em atenção terciária e primária. Foi o que nos possibilitou apresentar resultados que nos orgulham muito. A expansão que a gente fez na atenção básica de Porto Alegre vai ser extremamente útil para enfrentar, nos próximos meses de inverno, esse cenário do novo coronavírus — disse o prefeito Nelson Marchezan durante visita técnica ao HCPA em fevereiro.
Instituição atende somente casos com sintomas graves da doença
O hospital de Clínicas, assim como o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), não estão mais atendendo pacientes com sintomas leves de síndromes gripais. As instituições vão atender somente casos de alta complexidade e estado crítico de saúde e internação de pacientes graves, conforme acordo feito com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A decisão foi anunciada na quinta-feira (2).
Pacientes com sintomas gripais leves devem procurar unidades de saúde. Fora do horário de funcionamento desses locais, a indicação é buscar os pronto-atendimentos.
O diretor da Assistência Hospitalar da SMS, João Marcelo Fonseca, lembra que os hospitais de Pronto Socorro e Cristo Redentor já não atendem pacientes com sintomas gripais.
— Todos os esforços da Secretaria são para garantir o atendimento adequado para os pacientes nas situações de necessidade. Pacientes politraumatizados precisam do atendimento no Cristo Redentor e no HPS, e o Hospital de Clínicas e do GHC são referências para casos mais graves, incluindo Covid-19 — explica Fonseca.