Foram divulgados na tarde desta segunda-feira (30) os primeiros resultados dos exames relativos aos casos de intoxicação alimentar registrados em Pelotas, no sul do Estado, após o consumo de tortas frias de frango no Natal. De acordo com o laudo do Laboratório Central do Rio Grande do Sul, divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), foi detectada a presença da bactéria estafilococos coagulase positiva no alimento.
As cepas isoladas da amostra e uma porção do alimento vão ser encaminhadas agora ao Laboratório de Enterotoxinas da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais. Serão verificados o potencial enterotoxigênico (no trato gastrointestinal) e a presença de enterotoxinas estafilocócicas – um grupo de toxinas produzidas por bactérias, que, em quantidades elevadas, produzem os sintomas de vômitos e diarreia após a ingestão do alimento, causando a intoxicação alimentar.
— Quando se detectam alguns tipos de microrganismos em alimentos que não deveriam estar lá, e ainda que conseguem se multiplicar em quantidades para causar uma toxinfecção alimentar, representa que houve falhas no processamento — explica Marcelo Vallandro, diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), vinculado à SES.
No caso de estafilococos coagulase positiva, o microrganismo normalmente vem de falhas na manipulação dos alimentos — por meio de lesões do manipulador, superfícies contaminadas ou, ainda, matérias-primas contaminadas.
— Por isso, a Vigilância sempre reforça que alimentos devem ter procedência comprovada, serem manipulados com boas práticas de manipulação e serem devidamente armazenados e servidos, para evitar problemas — ressalta.
Biomédico, microbiologista e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Vlademir Cantarelli explica que os estafilococos coagulase positiva são causadores muito comuns de casos de vômitos e diarreia. Segundo o professor, somente com um resultado positivo para enterotoxinas se comprovaria que a intoxicação alimentar foi causada pela torta fria.
— Precisam comprovar se esta bactéria, isolada dos alimentos, realmente produz enterotoxinas. Isso fecharia o caso. Sem este laudo final da Funed, pode-se apenas suspeitar de que a causa seja uma contaminação prévia do alimento por estafilococo — afirma.
Outro produtor de enterotoxinas muito comum e de origem ambiental, o Bacillus cereus encontrava-se em quantidade tolerável, indicando que não foi o culpado, avalia o microbiologista.
— Já o estafilococo geralmente é de origem humana, então, se estava no alimento, houve quebra das boas práticas — explica.
O número de pessoas com intoxicação alimentar em Pelotas após o Natal subiu para 92 nesta segunda-feira. Foram relatados sintomas como febre, náusea, vômito, diarreia e dor abdominal após comer o alimento produzido pela Circulu’s Lanches, tradicional lancheria da cidade.
Alimentos como maionese, palmito e azeitona foram recolhidos. Também foram coletados materiais biológicos das pessoas que ingeriram o alimento e passaram mal. As amostras foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), em Porto Alegre, para identificar o agente etiológico e o alimento causador do problema.
A lancheria informou em nota que recebeu inspeção da Vigilância Sanitária e que não foram identificadas irregularidades, possibilitando, assim, a continuidade das atividades do estabelecimento. Contudo, assegura que está "conduzindo testes internos" relacionados ao caso. A empresa estima que terá novidades sobre esses testes na próxima semana.