O presidente Jair Bolsonaro vem defendendo o uso da cloroquina para tratar casos confirmados da covid-19. O medicamento, no entanto, está em fase de testes. O Ministério da Saúde aponta dúvidas sobre a eficiência dele, mas afirma que médicos podem prescrevê-lo. Na noite de quarta-feira (8), em pronunciamento em rede nacional, o chefe do Executivo nacional afirmou que após uma "conversa direta" com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o Brasil deve receber, até sábado (11), o insumo para produção da cloroquina.
Na esteira dos recentes acontecimentos, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, foi entrevistado no Timeline na manhã desta quinta-feira (8) para falar sobre a eficácia do medicamento.
— Não é que funciona para algumas pessoas e não para outras pessoas. Ou funciona ou não funciona. A gente não tem evidência científica que garanta que realmente ela influencia no desfecho. Nós temos estudos de baixa qualidade que demonstram que pode funcionar. E tem outros estudos que mostram que tanto faz a utilização dela sozinha ou não — explicou.
De acordo com o médico, o difosfato de cloroquina — nome farmacêutico para a cloroquina — que o governo está distribuindo é mais tóxico do que a hidroxicloroquina. O primeiro medicamento tem chance de desencadear arritmia cardíaca, efeito colateral que pode levar à morte. Por isso, explica, quando administrado, deve ser por um curto período de tempo.
Mesmo com a falta de mais estudos que comprovem sua efetividade, Sprinz defende a utilização desses medicamentos.
— Nós estamos no deserto e perdidos. E a gente acha que viu uma água. Essa água pode ser uma miragem, mas a gente vai na direção dela. Cloroquina é mais ou menos assim — disse. — Nós não temos ainda a resposta, mas precisamos de tempo. Como esse tempo é exíguo, vamos batalhar para usar a hidroxicloroquina em quase todos aqueles que pudermos — afirmou.
Ouça, abaixo, a entrevista na íntegra:
O chefe do Serviço de Infectologia também explicou porque tem sido dado um maior enfoque a esses medicamentos do que a outros:
— Esses coronavírus mais malucos a gente chama de saltadores, que pulam de animal para animal e no caso agora nós, seres humanos, fomos atacados. A primeira epidemia grave de coronavírus começou com a sars, em 2002, 2003. Naquela época, se estudou diversos medicamentos inclusive cloroquina e hidroxicloroquina e ambos funcionaram também em laboratório — afirmou.
Entretanto, lembrou que há outros que estão sendo testados em laboratório quanto à sua eficiência no combate à covid-19:
— A gente tem diversas substâncias que podem vir a funcionar. Sozinho, nenhum medicamento se mostrou muito eficaz. Nós temos alguns antivirais que estão em teste. E, aparentemente, quando utilizado de forma precoce podem beneficiar o paciente. Existem medicamentos usados para tratar o HIV (...) que, in vitro, demonstram ser efetivo. Tem antiparasitários que demonstram também que podem inibir a replicação, a multiplicação, do coronavírus — disse.
Também afirmou pessoas com doenças em associação evoluem pior quando contraem a doença, uma vez que o sistema imunológico "se comporta de forma aberrante quando desafiado pelo novo vírus". A consequência disso é a falência de múltiplos órgãos. Contudo, não quer dizer que a evolução do quadro em pessoas jovens não pode se dar desta forma, apenas não é tão comum.
— O vírus principalmente entra nas células respiratórias. Primeiro trato da via aérea superior, e a pessoa, na maior parte das vezes, resolve o quadro, e uma minoria, até 10% das pessoas, não resolve e ela piora. (...) Se a pessoa não consegue conter o processo, pode afetar quase que todos os órgãos, principalmente fígado, rins, e às vezes eventualmente coração e cérebro.