Em pronunciamento oficial, na noite desta quarta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro disse que o governo irá importar insumos para produzir hidroxicloroquina, remédio utilizado para tratamento experimental da covid-19 e também usado para doenças como malária, lúpus e artrite. O medicamento, no entanto, está em fase de testes. O Ministério da Saúde aponta dúvidas sobre a eficiência e o risco dele, mas afirma que os médicos podem prescrevê-lo.
Pela primeira vez, desde o início da pandemia, o presidente se solidarizou com as famílias das vítimas do coronavírus:
— Ser presidente da República é olhar o todo, e não apenas as partes. Não restam dúvidas de que o nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas. Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nesta guerra que estamos enfrentando.
O presidente voltou a afirmar que há dois problemas a serem resolvidos neste momento, que "devem ser tratados simultaneamente": a proteção à vida e aos empregos. O presidente disse ter certeza de que "a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar".
Conforme o presidente, após uma "conversa direta" com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o Brasil deve receber, até sábado (11), o insumo para produção da cloroquina. A fala foi transmitida em cadeia nacional de rádio e televisão.
O presidente afirmou que, nos últimos 40 dias, após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de Estado, passou a divulgar a possibilidade de tratamento da covid-19 desde a fase inicial da doença. Bolsonaro citou uma conversa com o médico cardiologista Roberto Kalil, que afirmou que usou o medicamento e também o prescreveu para dezenas de pacientes.
— Todos estão salvos — disse Bolsonaro.
Segundo o presidente, o médico teria dito que mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora, para não se arrepender no futuro.
— Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nossos parabéns ao doutor Kalil — comentou.
Posição do Ministério da Saúde
Os medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina são estudados em seis dos nove ensaios clínicos que estão em andamento no Brasil para avaliar alternativas contra a covid-19. O Ministério da Saúde mantém a orientação de utilizá-los apenas em pacientes hospitalizados e considerados casos graves. Até o final de abril, novas conclusões preliminares podem mudar os protocolos.
Nesta quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se mostrou mais uma vez cauteloso quanto ao uso de remédios à base de cloroquina. Mandetta diz que os resultados dos testes serão avaliados pelo Conselho Nacional de Medicina e solicitou um posicionamento do órgão até o próximo dia 20.
Mandetta voltou a pedir calma, foco na ciência e responsabilidade. Médico, o ministro questionou a ideia de adotar a cloroquina como medicamento a ser receitado de forma preventiva. Ele trouxe as estatísticas dos infectados que não apresentam os sintomas a serem supostamente combatidos pelo medicamento.
— A grande maioria (85% dos infectados) vai ficar muito bem, obrigado. Será que seria inteligente dar um remédio para 85% das pessoas que não precisam desse remédio que tem efeitos colaterais? Vale a pena sem saber que é coronavírus? — declarou, complementando depois com o caso dos grupos de risco: — Esses com mais de 60 ou 70 anos são os que têm a maior parte dos problemas cardíacos e hepáticos. Será que se dermos (cloroquina) para esses, o medicamento vai protegê-los ou podem ter arritmia cardíaca e precisar do leito da CTI tendo um infarto no miocárdio?
Confira a íntegra do pronunciamento
Boa noite!
Vivemos um momento ímpar em nossa história.
Ser Presidente da República é olhar o todo, e não apenas as partes. Não restam dúvidas de que o nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas.
Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nesta guerra que estamos enfrentando.
Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do País de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da Nação. Todos devem estar sintonizados comigo.
Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente. Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O Governo Federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração. Espero que brevemente saiamos juntos e mais fortes para que possamos melhor desenvolver o nosso país.
Como afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, cada país tem suas particularidades, ou seja, a solução não é a mesma para todos. Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia.
As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença. O desemprego também leva à pobreza, à fome, à miséria, enfim, à própria morte. Com esse espírito, instruí meus ministros.
Após ouvir médicos, pesquisadores e Chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial.
Há pouco, conversei com o Dr. Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com o Juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a Hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos.
Disse-me mais: que, mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora, para não se arrepender no futuro. Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nossos parabéns ao Dr. Kalil.
Temos mais boas notícias. Fruto de minha conversa direta com o Primeiro-Ministro da Índia, receberemos, até sábado, matéria-prima para continuarmos produzindo a hidroxicloroquina, de modo a podermos tratar pacientes da COVID-19, bem como malária, lúpus e artrite. Agradeço ao Primeiro-Ministro Narendra Modi e ao povo indiano por esta ajuda tão oportuna ao povo brasileiro.
A partir de amanhã, começaremos a pagar os R$ 600,00 de auxílio emergencial para apoiar trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores durante três meses.
Concedemos, também, a isenção do pagamento da conta de energia elétrica aos beneficiários da tarifa social, por 3 meses, atendendo a mais de 9 milhões de famílias que tenham suas contas de até R$ 150,00.
Disponibilizamos 60 bilhões via Caixa Econômica Federal para capital de giro destinados a micro, pequenas e médias empresas e à construção civil.
Os beneficiários do Bolsa Família, que são quase 60 milhões de pessoas, também receberão um abono complementar do Auxílio Emergencial.
Autorizamos, ainda, para junho, um saque de até R$ 1.045,00 aos que têm conta vinculada ao FGTS.
Repatriamos mais de 11 mil brasileiros que estavam no exterior, num esforço capitaneado pelo Itamaraty, Ministério da Defesa e Embratur.
Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar.
Esta sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde.
Quando deixar a Presidência, pretendo passar ao meu sucessor um Brasil muito melhor do que aquele que encontrei em janeiro do ano passado.
Sigamos João 8:32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará!”
Desejo a todos uma Sexta-Feira Santa de reflexão e um Feliz Domingo de Páscoa!
Deus abençoe o nosso Brasil!