Com o surgimento de novos casos de coronavírus, países europeus começaram a adotar medidas de prevenção e controle. Enquanto isso, tentam evitar o pânico.
Em Roma, na Itália, a comissária europeia de Saúde, Stella Kyriakides, pediu nesta quarta-feira (26) que os 27 membros do bloco europeu fiquem alertas contra desinformação, notícias falsas e reações xenófobas. Uma onda de pânico pode sobrecarregar serviços de saúde, prejudicando o tratamento dos doentes, disse o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge,
Na Suíça, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que não há uma pandemia de covid-19, e que usar indevidamente o termo amplia medo e preconceito.
— Pode sinalizar também que não seremos capazes de conter o vírus, o que não é verdade. Foram contabilizadas no mundo cerca de 3 mil mortes, para uma população de 6,3 bilhões de pessoas — disse ele.
Na Europa, o relatório desta quarta-feira da ECDC aponta 61 casos em 11 países, além da Itália: 18 na Alemanha, 14 na França, 13 no Reino Unido, sete na Espanha, dois na Áustria e na Rússia e um caso cada na Bélgica, na Croácia, na Finlândia, na Suécia e na Suíça. Há relatos de um caso na Grécia, mas ele não entrou ainda na contabilidade oficial.
Apesar do baixo número de casos, já começam a aparecer relatos de preocupação. Nas mídias sociais, moradores relatam "entreolhares desconfiados, medo de proximidade, medo de viajar ou entrar no ônibus" desde que começaram as notícias sobre o contágio na Itália.
Em Bruxelas, cidade que reúne as principais instituições da União Europeia, o clima ainda é de normalidade. Nas regiões mais movimentadas da cidade, como no centro histórico e seus arredores, não se veem máscaras nas ruas nem corridas para comprar gel antisséptico nas farmácias ou alimentos nos supermercados.
Comissão e Parlamento Europeu recomendaram a funcionários que estiveram em zonas de risco que trabalhem de casa por pelo menos 14 dias, e que substituam viagens ao norte da Itália por videoconferências.
O diretor regional da OMS ressaltou que Bélgica, Finlândia e Suécia não reportaram nenhum novo caso nas últimas duas semanas:
— Não estou subestimando a gravidade da situação ou o potencial de que ela se torne uma pandemia. Todos os cenários estão na mesa. Nosso foco é preparar todos os países para reagirem da maneira certa.
Para a entidade, proibir viagens pode ser contraproducente porque reduz o envio de equipamentos e remédios e aumenta o pânico. A Itália, por exemplo, havia proibido a entrada de voos vindos da China, o que não impediu o crescimento da doença no país.
Os países do entorno italiano (França, Alemanha, Áustria, Suíça, Eslovênia e Croácia) descartaram fechar as fronteiras com a Itália, mas começaram a adotar medidas de restrição.
Nas linhas de trem que ligam a França ao norte da Itália, funcionários franceses irão apenas até a fronteira, onde serão substituídos por italianos. Nas principais estações, o governo francês está reforçando o estoque de máscaras e álcool para os funcionários.
No Reino Unido, a orientação é que famílias que tenham um membro doente se autoisolem, e pacientes com doenças respiratórias começarão a ser testados para o coronavírus em oito hospitais e cem postos de saúde ingleses.
Embora os ministérios de Saúde e de Educação tenham aconselhado escolas a não interromperem as aulas, duas delas fecharam na terça-feira (25) porque alunos e funcionários haviam viajado ao norte da Itália.
Uma escola secundária também foi esvaziada em Viena após uma professora que esteve no norte italiano passar mal. O governo pediu que os pais mantenham os alunos em isolamento até que se verifique se há ou não contágio.
Na cidade austríaca de Innsbruck, um hotel de luxo foi isolado depois de confirmada a infecção de uma recepcionista italiana. Segundo o ministro do Interior, Karl Nehammer, as medidas visam interromper o contágio e não há motivo para pânico.
O ministro disse que outras quarentenas podem ser impostas, dependendo do avanço do vírus.
Na Bélgica, o plano do governo tem três etapas. Na atual, de prevenção, quem entra no país vindo de uma das áreas de risco fica em isolamento e pessoas com sintomas são testadas. Na segunda etapa, se necessária, hospitais serão usados para quarentena, e os testes vão incluir quem tenha tido contato com doentes.
A terceira etapa, em caso de epidemia, inclui reforço do sistema de saúde para evitar morte dos doentes. O governo não descarta fechar escolas, cinemas, estádios e outros pontos de concentração, restringir viagens ou manter cidades em quarentena, se necessário.
Na Dinamarca, galpões militares estão sendo preparados para servir como centros de quarentena.
Na Irlanda, o coronavírus afetou um dos principais esportes nacionais, o rúgbi. Uma partida entre a seleção nacional e a Itália pelo torneio Six Nations, que ocorreria em 7 de março, foi suspensa.
Quase todos os países recomendam que cidadãos que voltem de uma das 11 cidades consideradas críticas na Itália e de países como Irã, Vietnã, Camboja e Laos se mantenham isolados por 14 dias, mesmo que não tenham sintomas.
A ECDC (agência europeia de controle de doenças) divulgou uma lista de 142 medidas que hospitais devem tomar para se preparar para uma eventual epidemia. Os itens incluem escalas de plantão e reforço, estoque de medicamentos e materiais, medidas de comunicação e proteção de dados, procedimentos de limpeza dos quartos e critérios para visitas e trânsito de pacientes.