Quando há estoque de água mineral para repor nas prateleiras de supermercados, ele é rapidamente esgotado. A reportagem da Rádio Gaúcha e de GZH circulou por 12 estabelecimentos entre as zonas sul e leste de Porto Alegre nesta terça-feira (7) e, na grande maioria dos lugares, obteve a mesma resposta: "Não temos água".
A dificuldade para encontrar a mercadoria é registrada em meio à tragédia climática em curso no Rio Grande do Sul. Além do aumento da demanda, a logística de entrega está prejudicada com os bloqueios em rodovias. Fábricas e centros de distribuição também foram atingidos pelas cheias.
Nos três mercados onde havia chegado um carregamento da bebida, o estoque não durou muito tempo. O número de itens disponíveis ainda é limitado por pessoa. No Zaffari da Avenida Cavalhada, cerca de 1.088 garrafas de cinco litros de água foram vendidas em meia hora.
Uma das moradoras que conseguiu garantir uma garrafa de cinco litros no local foi Elisangela Porto.
— Estamos há dois dias totalmente sem água. Conseguimos pegar um galão por cliente, mas conseguimos um de cinco litros. Eu ainda tinha conseguido, há uns dois dias, uma última bombona em uma distribuidora. Fora isso, a gente fica caminhando no bairro procurando as bicas para pegar água para banho e lavar louça — contou.
No Asun da mesma avenida, o cenário foi parecido: a reportagem chegou ao estabelecimento junto com uma entrega de água. Quando os clientes souberam, formaram fila, e as 120 unidades foram vendidas em cerca de 10 minutos. Os fardos de 12 unidades de garrafinhas de 500ml também tiveram alta procura, mas duraram mais tempo.
O Zaffari do Bourbon Ipiranga, que tem encerrado as atividades às 20h, também recebeu um caminhão de água no final da tarde — e o estoque durou menos de uma hora.
Nos demais estabelecimentos, as gôndolas onde ficam a mercadoria estavam totalmente vazias. No Bistek da Avenida Eduardo Prado, um carregamento vindo de Santa Catarina estava para chegar. No entanto, a maioria dos supermercados não conseguia prever a reposição da água.
Situação se agrava em mercados menores
No Super da Casa, na Avenida Bento Gonçalves, a água sem gás de cinco litros terminou na sexta-feira (3) — e, desde então, não houve mais entrega.
No supermercado Maccari, o estoque de água acabou na segunda-feira (6). O item também não é vendido desde sexta no Pezzi da Avenida Professor Oscar Pereira.
No SuperSul, na Avenida Eduardo Prado, a água para venda acabou no sábado (4). No Gecepel do Jardim Botânico, a situação era parecida.
Nesses locais, a reposição de outros itens também está afetada: ovos, pão de sanduíche, alguns cortes de carnes e laticínios foram os alimentos que registraram baixa sem previsão de normalização.
O que dizem as fabricantes
Uma das empresas que distribui água para vários dos mercados é a Fruki, que tem a matriz localizada em Lajeado. Apesar de não ter atingido a fábrica, a cheia do Rio Taquari inundou as casas de muitos funcionários e prejudica o deslocamento.
"Neste primeiro momento, o mercado como um todo está muito desabastecido. Em função das limitações logísticas, como estradas interditadas, quedas de pontes e disponibilidade de profissionais para trabalhar, ainda haverá necessidade de um prazo para conseguirmos regularizar nossas entregas. Estamos trabalhando dia e noite para que esse prazo seja o menor possível e minimizar as dificuldades de toda população do RS."
À reportagem, a Coca-Cola afirmou que irá se manifestar nesta quarta-feira (8) sobre o tema.
Em nota, o Grupo Zaffari disse que a demanda por água é maior que a disponibilidade no momento, então a empresa está racionando a venda por compra. O grupo também reforçou que está recebendo o produto na central de distribuição "para posterior envio às lojas".
Procura por fontes de água
A alternativa encontrada por muitos moradores para o desabastecimento foi buscar as fontes públicas de água. A reportagem esteve em três delas nesta terça-feira (7).
Em duas, as pessoas estavam em filas que chegaram a durar duas horas. Na bica da Rua da Prudência, no bairro Camaquã, a vazão da água era pequena. Um grupo de moradores da rua está revezando para cuidar do local, que, segundo relatos, foi quebrado nos últimos dias.
Quem chega é indicado a se dirigir para um ponto bem próximo: subindo a rua e dobrando à esquerda, no final, encontram-se mais dois pontos com fluxo forte de água jorrando. É na Rua Sinodo, onde a comunidade do entorno tem buscado água para higiene pessoal, formando filas.
— Estou desde domingo sem água. Agora que descobri esse ponto aqui. Dá para lavar uma louça rápida, ajudar no banho — relatou Anthony, morador da região que ficou na fila por cerca de 40 minutos. — Vale a pena. O máximo que puder poupar também é importante.
Já na Estrada Afonso Lourenço Mariante, na Lomba do Pinheiro, outras duas fontes causavam a formação de duas filas maiores. Uma das moradoras relatou ter ficado duas horas esperando para conseguir encher o recipiente que levou.
Conforme a prefeitura, a água das fontes públicas não é potável, ou seja, não pode ser ingerida. Para ser possível tornar ela para consumo próprio, a indicação é filtrar a água — com filtro doméstico ou coador de papel — e, depois, ferver por cinco minutos.
Outra alternativa é adicionar duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água e depois deixar repousar por 30 minutos.
Envase emergencial
Nesta terça-feira (7), duas indústrias anunciaram que diante do cenário de crise e da necessidade de água potável, passariam a envasar água em suas embalagens. É o caso da multinacional Lactalis Brasil, empresa de produtos lácteos que está envasando água, ao invés de leite, em mais de 1 milhão de garrafas destinadas aos atingidos pelas enchentes.
A Ambev também afirmou que irá parar a produção de cerveja em Viamão, na Região Metropolitana, para envasar água potável e doar à população gaúcha. Segundo a empresa, serão cerca de 850mil latas de água de 473ml produzidas por dias na cervejaria instalada no município.