Filas a perder de vista tomavam os corredores de grande parte dos supermercados de Porto Alegre nesta terça-feira (7), repetindo a peregrinação por itens básicos dos últimos dias, desde que a enchente dificultou o acesso à Capital e a outras cidades do Estado. A principal busca é por água mineral, diante do desabastecimento que afeta Porto Alegre — com o desligamento de estações de tratamento que foram inundadas, 80% da cidade não tem água nesta manhã.
As filas se repetiam na maior parte dos supermercados visitados pela reportagem. Para atender a demanda, as lojas passaram a limitar a quantidade de produtos liberados aos consumidores.
Numa das lojas na Avenida Ipiranga, clientes que não quiseram se identificar contaram que estavam na fila há pelo menos uma hora e que não pretendiam deixar o local enquanto não conseguissem comprar água mineral. Quando um novo carregamento chegou, houve correria enquanto as embalagens eram distribuídas na quantidade de dois galões de cinco litros por pessoa.
A limitação gerou confusão. Clientes se queixavam de famílias que pegavam mais do que a quantidade permitida.
— Vim ontem e não consegui. Mas não estava esta bagunça. Hoje, a fila perdeu o controle — disse a advogada Cláudia de Vargas, avaliando que falta “sensibilidade” dos demais consumidores.
Djanir de Freitas também se queixou da desorganização. A enfermeira tenta comprar água desde o fim de semana, sem sucesso. Por enquanto, está usando o que ainda tem disponível na caixa d'água do prédio, mas a quantidade já está baixando.
O cenário de lojas abarrotadas de pessoas se repete em diversos bairros. Mas em outras redes, sequer há água à venda, desde sexta-feira. Também não há previsão de reabastecimento. Numa das lojas da rede Gecepel, funcionários relataram que todo o carregamento vem de Lajeado ou Canoas, impossibilitando qualquer reabastecimento da loja, diante dos bloqueios rodoviários.
Porto Alegre e Canoas têm situação mais crítica, diz Agas
O sumiço das embalagens de água nas prateleiras ocorre de maneira mais crítica em Porto Alegre e na Região Metropolitana, especialmente Canoas. Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), a comercialização de um único dia está correspondendo à venda de 12 dias normais em uma temporada de calor.
Presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, reforça que não há problema de produção, já que as fontes de água mineral seguem operando. A dificuldade está no aumento da demanda e no transporte desta carga, que não consegue chegar aos estabelecimentos devido à condição das rodovias.
— É importante essa tranquilidade de que produtos não faltarão. A indústria estará nos abastecendo. A dificuldade de Porto Alegre e Canoas é uma situação da logística, do acesso, de chegar aos estabelecimentos, aliados a esse grande aumento de venda, de demanda que está acontecendo — diz Longo.
A previsão da entidade é de em dois ou três dias mais rotas possam ser liberadas para o escoamento.
Ainda segundo a Agas, a situação difere do interior do Estado, onde as lojas estão abastecidas, após a liberação de alguns trechos que estavam interrompidos.
Distribuidoras também estão no seco
Antes mesmo de chegar aos pontos finais de venda, a escassez de água mineral está no centro de distribuição de marcas que atendem a Capital e a Região Metropolitana.
Na filial da distribuidora Do Campo Branco em Porto Alegre, o pátio que armazena as embalagens estava vazio desde a tarde de segunda-feira (6), quando foram vendidas as últimas unidades. A empresa tem fonte própria no município de Progresso, no Vale do Taquari, de onde os fardos não conseguem alcançar a Capital. Desde a semana passada, o escoamento da carga está comprometido.
Paulo Moacir Vivian, sócio da empresa de mineração, diz que precisou limitar a quantidade por cliente. Começou disponibilizando seis fardos de garrafas de 500 ml e terminou restringindo a somente dois fardos por compra, até esgotar o estoque. O empresário ainda denunciou relatos de pessoas que compraram água para revender por preço superior.
— Os últimos caminhões que recebemos foi na segunda-feira passada (dia 29 de abril) e de lá para cá fui vendendo o que tinha — relatou.
A empresa abastece mercados do Vale do Taquari, Planalto, Região Metropolitana e Porto Alegre, sendo a Capital responsável por 80% desta demanda. Não há previsão de normalizar o abastecimento do CD até que as estradas tenham condição de escoar.