Eldorado do Sul está enfrentando a força das águas do Rio Jacuí, que invadiu a cidade da Região Metropolitana. De acordo com a Defesa Civil do município, mais de oito mil residências foram atingidas nesta quinta-feira (2) e, com isso, mais de 10 mil pessoas estão fora de casa, entre desabrigados e desalojados. Estima-se que 50% das residências da região urbana tenham sido afetadas.
Os bairros mais atingidos foram Cidade Verde, Vila da Paz, Picada, Parque Eldorado, Bom Retiro, Sans Souci, Assentamento Irga e Chácara, onde a reportagem esteve pela tarde, acompanhando os resgates da equipe dos Bombeiros Voluntários de Eldorado, que estavam na localidade desde a madrugada e seguiram pela tarde e noite.
A corporação percorreu as ruas alagadas, em dois barcos, para socorrer aos moradores que ficaram ilhados em suas casas — a água, em algumas vias, atingiu 1,40m, impossibilitando que idosos, crianças e pessoas com dificuldade de locomoção conseguissem sair. Diversos voluntários também foram até o local ajudar na remoção, como os integrantes da Associação de Canoagem de Charqueadas, que levaram três de seus barcos e, com eles, conseguiram resgatar mais de 30 pessoas.
Trauma
Nilte de Siqueira, aposentada, 63 anos, que mora no bairro Chácara há mais de 30 anos, conta que essa foi a pior enchente que já enfrentou, porque, na última, em setembro de 2023, perdeu boa parte de seus bens materiais, e, agora, meses depois, quando já havia recuperado os seus móveis e eletrodomésticos, viu a água destruindo tudo novamente.
Ela, que aguardava na Avenida Neston Jardim Filho, na beira da enchente, olhando para o vasto alagamento que tomava conta de seu bairro, ansiava pela retirada do seu marido, José Siqueira, de 67 anos, e de seus quatro cachorros pelo barco dos Bombeiros Voluntários. A ideia, depois desta última tragédia, é abandonar Eldorado do Sul.
— Nós queremos ir embora daqui, lá para o Arroio do Meio, que é nos morros. Lá também está em crise, a cidade está toda detonada. Estou preocupada porque minhas irmãs moram lá e não consigo contato desde ontem de noite. Hoje de manhã, nós saímos às 4h, levamos o que pudemos, eu, meu neto de cinco aninhos e minha nora, que tem leucemia e vai fazer transplante de medula no dia 8. Ela não pode pegar um pingo dessa água, mas conseguimos salvar ela e levar para o apartamento de uma amiga, em Porto Alegre — conta Nilte, emocionada.
Situação crítica
Para chegar no município, a situação também é complicada. A entrada principal de Eldorado do Sul, pela BR-290, está interditada, pela quantidade de água na via, vinda do Guaíba. O acesso secundário, pelo Centro Novo, também já está começando a ficar comprometido pelo volume de chuva acumulado. Em outros pontos da cidade, como nos bairros Cidade Verde e Vila da Paz, a água já está na altura de 1,70m.
E a projeção é que a situação piore, salienta a Defesa Civil, uma vez que as águas avançam com rapidez. Inclusive os ginásios da Escola Municipal de Ensino Fundamental David Riegel Neto e do Ginásio do Loteamento Popular, que estavam recebendo desabrigados, estão sendo evacuados e as pessoas estão sendo levadas para lugares mais altos da cidade, que decretou situação de emergência nesta quinta-feira.
