Além de mortes e perdas ainda incontáveis, a população gaúcha também terá de lidar com o risco de doenças - como leptospirose, hepatite A, cólera e tétano - que surge em situações de enchente. Neste domingo (12), o professor Maurício Paixão, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realizou uma expedição para a coleta de amostras de água do Guaíba.
Em desastres que envolvem enchentes, as pessoas acometidas são expostas à água suja, que traz contaminação, principalmente quando vão limpar as casas – e há doenças que advém dessa circulação e contato com a água.
A equipe de pesquisa esteve na Ilha da Pintada, em Eldorado do Sul e em Guaíba. Mesmo sob chuva intensa, o hidrólogo colheu as amostras com garrafas numeradas de dentro de um barco. A reportagem acompanhou todo o processo.
— A gente vai fazer algumas análises laboratoriais, análises físico-químicas, análises biológicas, bacteriológicas e também de sedimentos. A gente quer saber qual é a quantidade de sedimentos que esse evento extremo transportou, quanto de lama vai ficar depositada, qual é a qualidade dessa água que está em contato com a população. Até pra gente poder ter uma noção um pouco melhor de doenças que podem ocorrer — explica o pesquisador do IPH. Ao todo, foram coletadas oito amostras que serão encaminhadas para análise.
O Instituto conta com 40 pesquisadores que se reuniram em grupos para investigar os eventos climáticos que atingiram o Estado. Além das amostras recolhidas neste domingo, o professor diz que já foram coletadas outras 80, em diferentes bairros da Capital que foram atingidos pelas inundações, como Sarandi, Centro e Humaitá.
— Nesse momento, já tem análises sendo feitas pela equipe de técnicos, que utilizam a infraestrutura do laboratório do IPH para dar celeridade ao processo para que o resultado saia o quanto antes — pontua.
Segundo o pesquisador, é fundamental para o sucesso da análise que a coleta ocorra nesse momento em que as águas estão em elevação. Com a previsão de chuva e o escoamento da água de rios da região dos vales, são altas as chances de o Guaíba voltar a atingir níveis acima de 5m. O valor máximo pode alcançar 5m50cm entre segunda (13) e terça-feira (14), ultrapassando o recorde de 5m35cm. A previsão é do IPH e pela RHAMA Analysis.
Quem teve contato prolongado com água de enchente deve utilizar medicamento preventivo contra a leptospirose
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES), quem esteve exposto à água das cheias por período muito prolongado deve recorrer à quimioprofilaxia, “uma estratégia de prevenção de doenças infecciosas que envolve o uso de medicamentos para reduzir o risco de infecção”. No caso da leptospirose, dois antibióticos costumam ser usados: a doxiciclina e a azitromicina.
A doença é causada pela bactéria Leptospira e pode ser transmitida pela exposição direta ou indireta à urina de animais.